terça-feira, 19 de março de 2013

Hurts – “Exile”

O difícil segundo disco



A moda, enquanto definição de estilo e imposição de uma tendência, é cíclica. A música, como outras artes, usa a revisitação como uma espécie de eterno retorno a um qualquer ponto de partida ou noção de novidade.

Influenciados por algumas bandas do movimento apelidado de synth-pop, onde teclados e sintetizadores assumem por completo a responsabilidade maior do som, os Hurts são um duo originário de Manchester e formado por Theo Hutchcraft (voz) e Adam Anderson (máquinas sonoras).

Depois de lançarem, em 2010, o seu álbum de estreia, “Hapiness”, que vendeu cerca de um milhão de cópias um pouco por todo o mundo, esperava-se com alguma curiosidade um segundo álbum. Se singles como “Better the Love”, “Stay”, “Wonderful Life” e “Devotion”, que contava com a colaboração de Kylie Minogue, tiveram um merecido reconhecimento por parte de um público ávido por novos projetos de tendências mais “sintéticas” e neo-românticas, eram necessários elementos que os sucedessem.

Passados três anos chegamos a “Exile”, mas o sentimento que fica é de perplexidade e dúvida. Nota-se que os Hurts tentam invadir um território mais rock, mas perdem-se a meio do percurso e talvez caminhem para um beco sem saída. Onde em “Hapiness” se vislumbrava um certo charme, em “Exile” tal é substituído por alguns excessos de pomposidade - e a ambição é inimiga da substância.

A faixa de abertura do disco, “Exile”, é, por exemplo, uma clara e perigosa aproximação a algumas das bandas referência dos Hurts. Se os primeiros instantes nos levam ao recente universo dos Muse, onde se nota uma preocupação e tendência para o formato “ao vivo”, o final de “Exile” sugere um ambiente mais Depeche Mode, com tendências insufladas.

Como primeiro single, os Hurts escolheram a segunda faixa do disco, “Miracle”, que, ainda assim, revela mais o espírito original do duo britânico. As orquestrações tornam o ambiente de certa forma épico e o drama característico das melhores composições da banda tornam facilmente uma canção formatada com o ADN dos Hurts num hino à sua medida e com um refrão cativante. Ao contrário do que se canta, não é necessário um milagre mas sim coerência de estilo.

“Sandman” é um dos momentos mais bem conseguidos de “Exile”. Com uma base bem “kraut”, os Hurts fazem uma canção simples, alicerçada num pop maquinal, onde as guitarras tímidas, ao fundo, formam um bom par com os sintetizadores. O coro “gore” que se ouve em fundo complementa, e bem, a canção.

Apesar do (dispensável) começo à claque de apoio futebolístico a fazer lembrar os Coldplay, “Blind” avança de uma forma segura e remete para alguns dos momentos mais calmos de “Hapiness” e, mais uma vez, as guitarras ameaçam o domínio da electrónica na parte final da faixa. Segue-se “Only You”, um exercício em forma de balada agridoce que se aproxima perigosamente da banalidade, salvaguardando-se a competente voz de Theo Hutchcraft.

Felizmente, “The Road”, canção inspirada no romance “Crash”, de JG Ballard, e “Cupid” surgem para abanar a letargia. Se no primeiro caso o espírito mais rude de uns Nine Inch Nails ecoa nas guitarras industriais e no ambiente mais dark, “Cupid”, a faixa mais curta do disco, é Depeche Mode bem medido com um riff elétrico que nos leva até à década de 1980. Coincidência ou não, são as guitarras que quebram a monotonia e tornam estas duas músicas em peças musicais apetecíveis.

Um dos pontos fortes dos Hurts é o seu dramatismo e esse sentimento atinge patamares interessantes em “Mercy”, uma boa canção pop, sem dúvida, a apelar ao já referido ambiente de multidões. Já “The Crow” é feita de momentos mais introspectivos, onde o tom meloso de um Chris Issack em “Wicked Game” é trazido à memória.

Já na reta final do disco chegamos a “Somebody to Die For”, uma bonita canção assente em traços épicos, onde a musicalidade de uns violinos, por exemplo, moldam ainda mais a graciosidade do momento, sendo, talvez, a canção mais próxima de “Hapiness”. Depois, “The Rope”começa com um teclado delicado que se vai perdendo para dar lugar a uma batida mais forte, para atingir um final pujante e decidido. O disco termina com “Help”, uma seta barroca apontada ao coração dos mais românticos.

Em forma de apreciação global, “Exile” não é um mau disco mas está longe de ser um grande álbum. Os Hurts continuam a fazer boas canções pop, mas não passam disso mesmo. Falta-lhes genialidade e uma capacidade autónoma para se afastarem definitivamente de diversos fantasmas. É claro que todos temos referências e gostos, mas é necessário cultivar um sentido de independência. Não basta querer fazer música a pensar em grandes voos quando ainda se tem dificuldade em equilibrar.

Alinhamento:

01.Exile
02.Miracle
03.Sandman
04.Blind
05.Only You
06.Road
07.Cupid
08.Mercy
09.The Crow
10.Somebody to Die For
11.The Rope
12.Help

Classificação do Palco: 6/10

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