sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

“A vida e morte do principezinho”
de Paul Webster


Dizer que o céu é o limite é um chavão utilizado para contextualizar a ambição. Mas, por vezes, estar perto das nuvens pode ser um misto entre o sonho e o pesadelo, entre a vida e a morte.

Antoine de Saint-Exupéry foi um homem que sempre esteve nessa constante viagem aos desafiar os céus e as mentes de milhões de pessoas que têm, em livros como “O Principezinho”, um companheiro que os acompanhou, e acompanhará, ao longo de toda a vida.

Ainda que tenha apenas vivido 44 anos, Saint-Exupéry abraçou o acto da existência com uma desmesurada noção de aventura. Por entre momentos de felicidade e tragédia absoluta, a fama do autor de “O Principezinho” cresceu, maioritariamente, não quando verbaliza pensamentos em forma de livro mas sim ao desafiar a gravidade enquanto um piloto-aviador de tendências impulsivas e solitárias.

Quando o final da Segunda Guerra já era sentido por muitos, em julho de 1944, um avião de reconhecimento da Força Aérea Francesa foi dado como desaparecido. O rápido e moderno P-38 Lightining de fabrico norte-americano, que estava ao serviço dos Aliados, sumiu sem deixar rasto, dando assim origem a um dos mais românticos mistérios da história recente. O piloto desse avião era Antoine de Saint-Exupéry.

Fruto de um espírito aventureiro e sem nunca virar a cara à luta, a vida de Saint-Exupéry ficou marcada por inúmeros actos fascinantes e episódios únicos registados num dos períodos mais controversos da história de França.

Através de uma narrativa repleta de sentido e com um assinalável dinamismo factual, “Antoine de Saint-Exupéry: Vida e Morte do Principezinho” (Vogais, 2014), de Paul Webster, mostra um pouco da faceta mais escondida de um homem que tanto representava a aristocracia galesa, exibindo mesmo o título de Conde, como revela, sem pudores ou filtros, um perfil aventureiro através da mestria da escrita e da desmesurada vontade de rasgar o azul do céu.

Tendo por base uma investigação cuidada e muito meticulosa, Webster, conceituado jornalista que foi durante mais de três décadas correspondente do jornal The Guardian, em Paris, consegue uma excelente e empolgante biografia que vai encantar não apenas os fãs de Saint-Exupéry escritor como também de uma figura incontornável da cultura europeia.

Dividido em três partes (De 1900 a 1930, de 1931 a 1939 e de 1939 a 1944) e com um curto mas interessante epílogo que versa sobre as buscas ao malogrado piloto, “Antoine de Saint-Exupéry: Vida e Morte do Principezinho” revela pormenores da vida familiar e social de Saint-Exupéry, dos quais se salientam incursões sobre a sua infância pouco feliz, assim como dos conturbados anos de um casamento pautado pela ausência e infidelidades por parte de um homem que sobrepunha a paixão pela aviação ao matrimónio. Webster faz ainda alusão à ascendência profissional de um piloto mal-amado pelos colegas, traçando também uma tangente ao histórico dos acidentes de Antoine enquanto ao comando de várias aeronaves.

Também a obra maior do Saint-Exupéry, “O Principezinho”, não foi esquecida por Webster e esta biografia revela alguns segredos sobre as personagens do livro que viu chegar aos escaparates a sua primeira edição em 1943, cerca de um ano antes do desaparecimento do seu autor.

In deusmelivro

“A Tristeza dos Anjos”
de Jón Kalman Stéfansson

Certas palavras são como farpas geladas


A literatura nórdica ganhou nas últimas décadas uma considerável reputação e não apenas no que toca aos universos do thriller e policial. A elegância da narrativa é uma das mais reconhecidas características dos livros vindos de Dinamarca, Finlândia, Suécia e Islândia, sendo dessa pequena e misteriosa ilha que nos chega “A Tristeza dos Anjos” (Cavalo de Ferro, 2014) de Jón Kalman Stéfansson, um autor que é considerado por muitos como uma das mais importantes e originais vozes da literatura europeia contemporânea.

As obras de Stéfansson têm sido alvo de reconhecimento em forma de galardões dos quais destacamos o prestigiado prémio de literatura islandesa, em 2011, o Grinzane Bottare Lattes (Itália), tendo sido igualmente nomeado finalista dos prémios Fémina Étranger (França) e Independent (Reino Unido).

Ciente da inquestionável qualidade das obras do islandês, a Cavalo de Ferro lançou em 2011, “Paraíso e Inferno”, primeiro volume de uma trilogia que recentemente levou a editora a trazer aos escaparates “A Tristeza dos Anjos”, segundo tomo dessa coleção e um livro que, mais uma vez, transporta o leitor para o interior de um universo que junta a particularidade da ambiência nórdica com a magia de uma prosa tão especial como única.

E a Islândia é dona de uma natureza cruel, austera e fria, que apenas encontra sinónimo em alguns corações humanos que primam pela rudeza que, ainda assim, quando confrontados com a opulência da paisagem e a hostilidades dos seus componentes, continuam obstinadamente a contrapor a sua força até ao limite da exaustão.

Depois dos acontecimentos de “Paraíso e Inferno”, Jens, chega à aldeia conseguindo assim salvar-se da tempestade que o fustigou durante a demanda. Mas esse trajeto deixou marcas. Jens quase perdia a vida e a sua figura confundia-se com o manto e o gelo que o afundavam.

Mas, felizmente, Helga e o rapaz órfão chegam a tempo. Consciente que a sua viagem tem de continuar, Jens tenta, a contrarrelógio, recuperar energias para conseguir terminar a sua tarefa: levar o correio aos longínquos fiordes do Norte, «ali, onde a Islândia acaba e deixa lugar ao inverno eterno» e será o rapaz a acompanhá-lo.

Mas além do peso da existência, Jens, um gigante mudo, carrega a gravidade de uma secreta paixão e procura a expiação da paisagem desolada. Em plena descoberta dos sentidos e da sua própria identidade, Jens crê no poder salvífico das ideias, acredita no poder analgésico das palavras que transformam a humanidade em algo maldito e sublime.

Um mesmo espaço, reúne um par de solidões inconciliáveis que se completam através de uma épica marcha face a um inferno de tonalidades claras, uma luta fraterna cujo objetivo é a defesa da dignidade humana de encontro ao mistério cruel da natureza.

Fruto de um discurso que amálgama uma assertividade narrativa com um filão poético, Jón Kalman Stéfansson, descreve uma viagem cujo destino é a própria génese da existência, em que a dureza da natureza é um dos maiores obstáculos e leva a considera a morte como uma alternativa face às crescentes trevas.

Ainda que não estejamos perante um título de leitura fácil, à semelhança do primeiro tomo da trilogia, “A Tristeza dos Anjos” é um livro extremamente belo e épico, que desafia os limites do leitor face a um sofrimento que nos trespassa através das páginas.

A forma como Jón Kalman Stéfansson narra a Islândia do século XIX faz-nos sentir a observar uma tela que se molda com o passar dos capítulos, com o evoluir de uma estória que está estruturada de forma independente, não obrigando o leitor a ter lido “Paraíso e Inferno”.

Um dos grandes trunfos do livro é o relato da jornada temerária por uma Islândia que se refugia sob um perfil inóspito e cruel, algo que encontra um poderoso alicerce na escrita delicada e por vezes “barroca” de Stéfansson, que passa o devido calor face a um cenário gelado, equilíbrio esse que encontra eco na emoção inerente a personagens emotivos e muito bem delineados.

“A Tristeza dos Anjos” consegue a façanha de colocar o leitor defronte de uma falésia lírica alimentada a flocos (gelados) de uma poesia que se entranha depois de se estranhar, que percorre e corrompe a alma e fluí como um sonho que, num ápice, se transforma em um pesadelo aflitivo e apenas encontra amparo no facto de sabermos que a aventura vai continuar, ainda que não saibamos como, quando, onde e porquê. No fundo, o destino ao poder dos livros (como este) pertence.

In Rua de Baixo

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Sleater-Kinney
“No Cities to Love”

As canções não se medem aos palmos


Navegando por sons cujas ondas remetem para marés de vagas que misturam laivos de punk com salpicos de indie rock, as Sleater-Kinney, são um trio de “meninas” originário de Olympia, Washington, composto pelas guitarristas Corin Tucker e Carrie Brownstein, e a baterista Janet Weiss. Formaram-se em 1994, lançaram entretanto oito álbuns, mas até hoje pautaram a carreira com alguns hiatos. Voltaram novamente ao ativo no ano passado e desse regresso resultou “No Cities to Love”, um disco carregado de energia, que descarrega dez boas vibrações em pouco mais de meia hora.

A mais recente coleção de canções das Sleater-Kinney é um verdadeiro hino ao rock de guitarras - isto, sem qualquer desprestigio para o trabalho de Weiss na bateria. A ausência do baixo, um elemento muito importante na noção clássica do universo pop/rock, é colmatado com a mestria dos arranjos dos pedais e afinação dos instrumentos Tucker e Brownstein. Essa química está bem patente ao longo das dez faixas de um disco que soa confortavelmente tão natural e rock, que é impossível parar de sentir pontadas de adrenalina pelo corpo e alma. O som das Sleater-Kinney atingiu, finalmente, um pleno de vitalidade de uma banda com sangue na guelra, afastando qualquer noção revivalista. Apetece até dizer que o interregno lhes fez muito bem.

Logo a abrir, “Price Tag” não perde tempo e agarra-nos de forma pujante. Os solos de guitarra e a sincopada bateria completam-se. O dedilhar das cordas, ao desafio, leva-nos para territórios deliciosamente rock e despretensiosos.

As vozes de Tucker e Brownstein são outro precioso e mútuo aliado, e em faixas como “A New Wawe” essa sintonia é pura bênção auditiva. A par do diálogo elétrico, também as cordas vocais servem de prova mais do que coerente de que o duo criativo das Sleater-Kinney está em grande forma e age como se de um único cérebro se tratasse.

Enquanto ouvintes, e há que assumir, amantes de boa música, apenas podemos agradecer a coesão deste disco. A maturidade musical do trio consegue hoje fazer nascer algumas das suas melhores canções de sempre. Exemplo disso é “No Cities to Love”, uma composição com perfil radiofriendly, sendo “No Anthems” um dos melhores momentos do disco, um autêntico exercício de swing auditivo cuja intensidade alterna entre estados de semi-”apatia” e uma vontade sedutora de estalar o verniz. O requebrar desta tensão faz toda a diferença.

As dez canções de “No Cities to Love” não precisam de pouco mais (ou menos) de três minutos para soarem inteiras, pujantes. Que dizer de “Fade”, um momento stoner brilhante assente no sólido entendimento de guitarras e bateria, ou do agridoce pop de “Hey Darling”, onde Brownstein canta: “It seems to me that the only thing that comes from fame is mediocrity”?

Ironicamente, ou não, este vai ser, sem dúvida, o disco mais ouvido (famoso parece um termo menos feliz) da carreira da banda. Não que as Sleater-Kinney procurem sucesso, mas porque merecem o reconhecimento da massa anónima que as ouve, ou devia.

“No Cities to Love” é um excelente disco e prova que a banda de Olympia ainda tem muito para dar. Será que alguém faz o favor trazer estas três meninas até nós? Caíam tão bem no alinhamento do cartaz de um certo festival de verão...

Alinhamento:

1. Price Tag
2. Fangless
3. Surface Envy
4. No Cities do Love
5. A New Wave
6. No Anthems
7. Gimme Love
8. Bury Our Friends
9. Hey Darling
10. Fade

Classificação do Palco: 9/10

in Palco Principal

“Terra Amarga”
de Joyce Carol Oates


Se há conteúdos e títulos que se conjugam na perfeição, “Terra Amarga” (Sextante Editora, 2014), de Joyce Carol Oates, é paradigmático. É mesmo fel que se sente ao ler esta colecção de contos (negros) que versam sobre violência, abuso, violação, culpa e tristeza, ingredientes que, infelizmente, se cruzam em muitos relacionamentos, independentemente da sua dose de “normalidade” ou bizarria.

O ambiente de Nova Jérsia, Nova Iorque ou Minnesota, a perda de um cônjuge e o labirinto emocional que tal representa, assumem papéis decisivos no desenrolar destas histórias. Estas mulheres enlutadas procuram lutar contra monstros, com ou sem rosto, cujas armas são a brutalidade sexual ou física como uma forma de existência. E essa dor mantém-se, fica e fixa-se mesmo durante a ausência.

O livro abre com “Cabeça de abóbora”, um conto que traz a palco uma mulher de nome Hadley, viúva muito recente. Na ressaca, convida um jovem e excêntrico biólogo molecular, um quase-desconhecido, que invade o seu lar, corpo e alma. Sem capacidade de defesa e não querendo revelar uma fragilidade latente, Hadley fica à mercê de alguém que a beija e morde os lábios com uma fúria manipuladora, que tenta convencer a viúva de que é isso que ela deseja. E não será?

Mais à frente, “Sucessões”, o conto que abre o terceiro “capítulo” do livro, revela a forçada convocatória de Adrienne face a um Tribunal de Sucessões. O seu primeiro pensamento é sinónimo de uma sensação redentora e absorvente de uma dor que é interiorizada como “merecida”, pelo simples facto de estar viva. Mas a morte por vezes não é um ponto final. Adrienne é uma viúva confrontada com uma série de questões que colocam em causa a identidade do falecido marido. Seria ele um distinto historiador ou um terrível pervertido? Para desfazer a dúvida, esta mulher, ou o que resta dela, coloca em causa a própria sanidade mental.

Em “A história da facada” relata-se um acontecimento cujo horrível contexto adquire vida própria, independentemente de nunca se chegar a uma conclusão plausível, mesmo para quem foi testemunha. O incidente é demasiado doloroso para que seja relatado à inocente filha de Madeleine, principalmente por não existir uma certeza dos factos, característica muitas vezes presente nas narrativas de Carol Oates. O esfaqueado terá morrido? O assassino foi apanhado? Oates dá o ónus da dedução ao leitor.

Por vezes, sexo e violência dão as mãos e a punição pode ser reflexo de um orgasmo como morte certa. Em “Babysitter”, uma mulher casada encontra-se com um homem cujo nome não importa reter. Para ela é apenas um indivíduo qualquer. Mas este encontro nada tem de simples pois significa a traição, a infidelidade a marido e filhos. Esse acto de procura de prazer, e a luta das consequências que daí advêm, transformam a mulher adúltera na confessora do crime da traição e o seu amante em alguém que testemunha e a castiga, pois ela é uma mulher que merece sofrer, ser punida. Aqui, o sexo é sinónimo de luta e esses conceitos são indistinguíveis, principalmente para uma mulher que se confessa a um estranho, indivíduo esse que age mais como violador que amante.

Essa estranha sensação de partilha encontra também eco em contos como “Bonodo Momma”, que conta a relação entre uma mãe (lindíssima) e a filha enferma que nunca vai conseguir superar as expectativas da progenitora. A história é conduzida com uma sublime forma de narrar e o sentimento de derrota leva o leitor a perguntar quem perderá mais face a um futuro que supõe o vazio.

A disfuncionalidade é outro dos conceitos trabalhados por Oates e tal pode ser traduzido como a própria ideia da morte. Num conto como “Sorte filha da mãe”, a culpa junta-se como uma perfeita aliada para a desgraça, principalmente quando um pai morre no dia de aniversário de uma filha que acha essa “coincidência” como um presságio que interroga o amor entre pai e filha face a uma estranha noção de incondicionalidade.

“Amputada”, conto que encerra o primeiro capítulo de “Terra Amarga”, segue essa filosofia bizarra e traz a palco uma bibliotecária que perdeu as pernas e atrai um homem casado. É mais um no rol de candidatos a rejeitados, homens que devem sentir essa crua sensação de desamparo. No fundo, ela “apenas” ficou amputada de pernas e não do poder de seduzir.

Mas é “Sourland”, o último conto do homónimo livro, o mais impressionante relato da escritora norte-americana. Mais uma vez é uma viúva que ocupa o papel principal, no caso, a única sobrevivente de um terrível acidente de viação. Essa provação leva-a a interiorizar o pensamento do marido que sempre a alertou para ter cuidado com os erros que cometerá “sem rede”, pois a morte dele deixara-a por conta própria. Vítima de si própria, a mulher deixa-se cair num pesadelo que pode encarcerá-la para sempre.

Ainda assim, três semanas depois de o marido ter falecido, aceita o convite de um homem enigmático e decide viajar com ele. A necessidade de fugir da vida, de um somatório de passado e presente, leva Sophie para o deserto (literal ou não) com um desconhecido. Essa fuga leva-a para os braços de uma mente perversa que a faz pensar que está a ficar louca. Leitor e personagem são assim levados a cogitar que vivem a mesma história e que apenas o próximo passo pode salvar o que resta.

Com mais ou menos pormenores, maior ou menor sentido de injustiça, todos estes 16 contos, editados em publicações como os prestigiados The New Yorker e The Guardian – ou na (in)suspeita revista Playboy -, colocam o dedo na fragilidade humana face a um contexto que ultrapassa o controlo dos simples acontecimentos. Estes relatos não são aconselhados a pessoas sensíveis, nenhum dos textos de Oates o é.

Quem se atrever a pegar neste livro arrisca-se a percorrer caminhos inquietos, envoltos de armadilhas para a mente, trajectos que transformam e moldam gente que encara o luto como um personagem bizarro e fascinante que se atravessa no caminho e azeda ainda mais a vida. São páginas que servem para a autora exorcizar a perda de alguém que a acompanhou em quase cinco décadas, de uma agonia que rasga as emoções de alguém que perdeu o equilíbrio, de gente em ruínas, de despojos humanos, de pessoas normais.

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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

“22/11/63”
de Stephen King


A morte de John Fitzgerald Kennedy foi um dos acontecimentos mais marcantes da história dos Estados Unidos da América e, ainda hoje, continua envolta de uma negra sombra. O que levou, alegadamente, Lee Harvey Oswald a ter praticado tão hediondo crime?

A cidade de Dallas e o dia 22 de novembro de 1963 fazem parte do mais tenebroso imaginário social e político dos norte-americanos e não existe melhor escritor do que Stephen King para reflectir, ainda que fruto de um pensamento narrativo que mistura o fantástico com doses contidas de uma particular ficção – apanágios literários que o colocaram na linha da frente da cultura pop mundial – sobre este tema.

Conhecido com o grande mestre do terror, Stephen King conta com um invejável currículo literário, cujo espólio foi enriquecido ao longo de décadas com mais de cinco dezenas de títulos que representam cerca de 300 milhões de exemplares vendidos em 35 países.

Obras como “Carrie”, “Misery”, “A História de Lisey e Cell” ou “Chamada para a Morte”, entre muitas outras, levaram o escritor natural de Portland, Maine, a conquistar o prestigiado National Book Award e a ser nomeado Grande Mestre nos Prémios Edgar Allan Poe, na edição de 2007, e é hoje, rezam as crónicas, o escritor mais bem pago do mundo.

Entre os apreciadores da obra de King, em género de caricatura, diz-se que existem dois tipos de leitores do autor que trouxe à vida personagens como o palhaço Pennywise (“It”) ou Jack Torrence (“The Shining”): os que seguem o autor devido ao ambiente negro associado ao terror e os que sabem que todo o espólio literário do autor remete para a série “Torre Negra”.

Ainda que possa parecer redutor, a maioria do material escrito por Stephen King está de certa forma conectado com as aventuras que têm como figura maior o pistoleiro Roland Deschain e um sentido particular de viajar através do tempo, talvez um dos maiores sonhos do Homem em toda a história da Humanidade.
E é esse o maior leit motiv de “22/11/63” (Bertrand Editora, 2014), um livro que “condena” o leitor a um voraz deleite face às quase 900 páginas de uma obra que nos agarra desde o primeiro toque em uma das mais felizes capas dos últimos anos.

A trama narra a história de Jack Epping, um professor de alma atormentada que viaja no tempo sendo compelido a impedir que JFK seja brutalmente assassinado. Num ápice, o leitor é confrontado com a fantástica, de facto, premissa de inverter a lógica do calendário e conseguir evitar algo trágico. Essa janela temporal foi encontrada acidentalmente por Al, um amigo de Epping e proprietário de um restaurante que possui um especial cantinho que permite viajar no tempo.

Depois de uma primeira experiência que levou Epping a viver in loco a azáfama de 1958, a vida deste mudou. Fazendo uso desta peculiar forma de viajar, e depois de conhecer pessoalmente Elvis Presley e James Dean, Al tem uma revelação: porque não evitar a morte de JFK?

Mas o mais complicado é que este regresso ao passado está envolto de uma terrível condicionante. A data mantém-se no dia 9 de setembro, pelas 11.58 da manhã, e independentemente do período passado nesse limbo temporal, apenas dois minutos passaram na realidade. No fundo, a cada regresso ao presente o relógio faz reset, a magia faz-se sentir e tudo o que foi feito é apagado.

Começa assim uma das mais transcendentes epopeias em forma de livro dos últimos tempos e King consegue, mais uma vez, descrever a América do passado recente de uma forma única e intrigante, reflectindo sobre o crescimento económico de um país que se afirmava através de um espírito positivista mas que não conseguia afastar as nuvens negras causadas pelo racismo emergente e a ameaça real que representava o conflito nuclear. No fundo, King questiona a natureza das sociedades democráticas, fazendo um pertinente alerta para o perigo dos extremismos ideológicos.

“22/11/63” é uma forma de meditação sobre a memória, o desespero, a perda, o livre-arbítrio e uma clara batalha entre a vontade e a necessidade. Entre as páginas deste poderoso romance, pergunta-se se o Homem, enquanto ser individual, pode fazer a diferença face a uma conjuntura omnipotente e opressiva. Pode a história ser mudada ou um regresso ao passado não passa de uma frustrada tentativa de remediar um qualquer pesadelo? É o amor o elo aglutinador da humanidade? Tem a palavra o senhor King, Stephen para os amigos.

In deusmelivro

“Contos Reunidos”
de Aldous Huxley


Herdeiro de uma das mais distintas e aristocráticas famílias inglesas, Aldous Huxley foi um dos mais proeminentes autores do século XX e a obra “Admirável Mundo Novo”, escrita do raiar da década de 1930, tornou-se num incontornável título no que toca a uma particular leitura da estratificação de uma sociedade marcada pelos condicionalismos biológicos e psicológicos, para além do desprezo face a valores morais e éticas religiosas.

Huxley estreou-se no mundo da escrita em 1921 com “Limbo”, uma colecção de contos que antecederam uma fase mais dedicada ao formato romance, expressão literária que mais marcou o seu currículo literário – com excepção de alguns ensaios que encontraram particular eco nos seus últimos trabalhos.

Para além da literatura, Aldous Huxley ficou famoso pelo seu percurso enquanto guionista de Hollywood, experiência essa que apenas encontrou paralelo de excitação para o inglês nas figuras da mescalina e, mais tarde, do LSD.

A sua irreverência e conduta contra-cultura tornaram-no num dos expoentes da cultura hippie e nomes incontornáveis da música, como os Doors ou os Beatles, deixaram-se guiar pelas palavras revolucionárias de Huxley que se tornou em uma espécie de porta-estandarte para as gerações que lutavam contra o autoritarismo do Estado e afirmavam a liberdade individual como um lema e forma de vida.

Apesar desta exposição que transponha fronteiras, Huxley nunca esqueceu a sua Inglaterra natal, tema recorrente nas suas primeiras experiências adultas em prosa. Através de uma literatura que fundia aspetos mundanos e humanos com elevadas doses de hiperbolizações cómicas e aberrantes, o autor natural de Godalming, sudeste de Inglaterra, mostrava uma especial mestria para o formato conto.

Exemplo desse talento visionário é “Contos Reunidos” (Antígona, 2014), uma antologia que reúne 21 contos recheados de personagens cujos perfis mesclam a ironia involuntária com um sentimento trágico que os (re)posiciona num universo marcado por contornos que roçam uma realidade turva e em constante dilema sobre a crescente decadência de uma linhagem intelectual, onde o próprio autor fazia questão de inscrever o seu nome.

Ainda assim, o autor de “Contos Reunidos” é um jovem prodígio intelectual que optou, sem qualquer tipo de remorsos, pelo lado subversivo, por uma marginalidade latente mas consistentemente apoiada em pressupostos que suportavam uma edificação mental que questionava a cultura, os seus usos e devaneios.

Para a história, ficam contos como “O Sorriso de Gioconda”, Pequeno Mexicano” e “Chawdron”, que confirmam a capacidade inata de Huxley em abordagens breves no campo da literatura. Injustamente obscurecidos e “ignorados” – comparativamente com outras obras do autor -, estes fragmentos irónicos e deveras espirituosos mostram o veneno das satíricas palavras de uma mente multifacetada.

Se dúvidas existissem sobre a capacidade versátil do seu intelecto, Aldous Huxley prova que estes contos podem assumir-se como poderosos exercícios de observação (efabulada e ficcionada), que trazem ao palco principal personagens anões, póneis pigmeus ou conquistadores canalhas e de má rés que convivem num oceano de críticas e farpas sociais, trazendo à tona as fraquezas e as virtudes do Homem.

In deusmelivro

Borderlands The Pre-Sequel!
XBOX 360

O lado negro, mas divertido, da força


Remonta a 2009 o primeiro episódio da saga “Borderlands”, um jogo que combina a filosofia dos tradicionais FPS com alguns elementos RPG, o que levou alguns a apelidar a criação da Gearbox Software como o primeiro Role-Playing Shooter.

Hoje, passados quase seis anos e três edições, “Borderlands: The Pre-Sequel!” confirma o sucesso do universo Borderlands, possibilitando este título ao jogador assumir a pele de alguns dos mais interessantes vilões da série e (re)viver assim algumas aventuras que tiveram lugar em episódios anteriores.

Mas, desta vez, o papel principal cabe a Handsome Jack, o mau da fita em “Borderlands 2”, uma figura tão viciante quanto odiável que torna este universo particular ainda mais interessante, nomeadamente num episódio que começa em Pandora e termina na Lua, com inexplicáveis cambalhotas no argumento.

E tal como em todos os outros momentos da série, “Borderlands The Pre-Sequel!” segue uma filosofia que mescla humor (negro) com ação e momentos de alucinante velocidade, aqui sinónimo de estrambólicas missões. A juntar a isso há novos veículos, cenários, armas, personagens e outras formas de jogar.

Entre modos de jogo cooperante e mecânicas de RPG, ancorados em bizarras habilidades, “Borderlands The Pre-Sequel!” faz a ponte com “Borderlands 2”, mas ao contrário dos gigantescos passos para a Humanidade dados por outros, os criadores da 2K Australia optaram por pequenas marchas rumo ao…caótico vazio.

Construído com base no motor gráfico do episódio anterior, “Borderlands The Pre-Sequel!” tem uma jogabilidade familiar, mantendo alguns dos seus (de)feitos especiais. Alguns personagens continuam a manifestar uma animação rígida e pouco dinâmica com texturas espartanas mas, por outro lado, existem novos ambientes, personagens, inimigos para explodir, habilidades para desbloquear e um enredo louco para seguir. Para além disso, a rapaziada bem-humorada da 2K Australia, fez questão deixar a sua marca no que à verbalização diz respeito e, espante-se, na lua de Pandora fala-se com sotaque do país dos cangurus.

Outra novidade assinalável é a jogabilidade em terrenos lunares, especialmente quanto ao modo Kit Oz, uma “aplicação” que permite ao personagem respirar (melhor) assim como dar um duplo-salto. Confusos? Ainda bem. Ora vejamos, combinando com níveis de gravidade reduzida, o Kit-Oz aumenta a verticalidade e permite uma maior ousadia de combate. É assim permitido saltar para telhados, explorar novos recantos e conseguir preciosidades ocultas. Mas não há almoços grátis. Esta arte requer alguma prática, portanto não desespere às primeiras tentativas. E vai ver que o oxigénio pode ser uma excelente arma para derrotar o mais astuto (ou não) inimigo. Para os mais exigentes e requintados, há sempre a hipótese de partir as máscaras dos inimigos e deixá-los asfixiar lentamente.

O material bélico em “Borderlands: The Pre-Sequel!” segue o perfil do utilizado em “Borderlands 2”, ainda que os lasers se tenham tornado mais frequentes e assumem-se quase banais os disparos em rajada, enquanto outras armas se assemelham a fluxos contínuos de energia. No calor da batalha, também os elementos são chamados a palco e algumas armas disparam gelo que permitem despedaçar o inimigo. Especialmente divertido é congelar os “maus” no ar e deixá-los cair.

“Borderlands: The Pre-Sequel!” traz mais personagens e com novas skills e estilos de ação. Athena, por exemplo, tem um escudo que absorve os danos do inimigo; Wilhelm tem um par de drones que o protegem e ajudam no combate; Nisha, the Lawbringer, qual cowgirl, consegue aceder a um modo lock-on para maximizar danos. Mas é o “ciclope” Claptrap que atrai mais atenções, fruto de um perfil hilariante que o torna independente de qualquer recurso a oxigénio e o faz dono de armas mortíferas como lança-chamas duplos ou uma mini torre muito especial.

É este quarteto que tem a árdua tarefa de ajudar Handsome Jack a recuperar a Hyperion’s Helios Station, área invadida por homens que pretendem utilizar essa potente arma na destruição da própria lua. Ainda que o objetivo de Jack seja salvar a lua e os seus inocentes habitantes, a narrativa de “Borderlands: The Pre-Sequel!” centra-se mais sobre a sua ascensão e menos sobre uma eventual transformação de vilão a herói pois, no fundo, Jack é e sempre será um escroque divertido.

Quanto mais se joga a “Borderlands: The Pre-Sequel!” mais surge uma dúvida existencial: ou jogamos a história principal ou embarcamos por uma via alternativa (existem missões secundárias cujas recompensas são irrelevantes mas permitem explorar a envolvência do cenário) onde é permitido, por exemplo, explorar as competências de alguns rockets ou fazer épicos afundanços num cesto de basquetebol de baixa gravidade.

Não sendo um jogo extraordinário, “Borderlands: The Pre-Sequel!” é pretexto para umas divertidas horas de jogatana. No entanto, é impossível não ficar com a estranha sensação de estarmos perante um DLC de generosas dimensões em vez de um novo jogo… Ainda assim, é nosso dever dar uma oportunidade a Handsome Jack para brilhar.

in Rua de Baixo

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

“Um Estranho Lugar para Morrer”
de Derek B. Miller

Herói Improvável


Quando um livro chega até nós sob uma chuva de prémios e com os holofotes mediáticos apontados, a expectativa tende a crescer.

Na capa de “Um Estanho Lugar para Morrer” (Asa, 2014), primeira obra de Derek B. Miller, diretor do Policy Lab – um instituto internacional que se dedica ao design político e ajudar organizações a conseguirem um maior impacto social através dessa arte – o nome deste mistura-se com referências a mestres do policial nórdico como Stieg Larsson, Henning Mankell e Jo Nesbo.

A ambição, desmedida dirão alguns, precipita o leitor a folhear este livro e a sensação é, no mínimo, um misto de agradável certeza com o surgir de um género que funde características de thriller, policial e romance literário.

No centro da ação está Sheldon Herowitz, um judeu norte-americano, ex-veterano da Guerra da Coreia, viúvo, octogenário, com aparentes sintomas de demência. A neta, Rhea, pressentindo sua a fragilidade, decide convidá-lo a viver consigo e com Lars, o seu marido, em Oslo. A adaptação revela-se complicada mas Sheldon vai conseguindo (sobre)viver.

Mas um dia tudo muda. Na ausência da neta e do marido, Sheldon ouve barulhos e apercebe-se que a vizinha está em apuros. Numa sequência de acontecimentos fruto de uma situação incontrolável, o octogenário consegue salvar o filho da vizinha mas a mulher acaba morta de forma selvagem.

Este acontecimento muda por completo a vida de Sheldon, que se vê envolvido em um intrincado jogo de “gato e rato”, devolvendo ao ex-militar a hipótese de dar algum sentido ao que resta de uma vida atormentada por um inferno interior que assombra a sua alma há dezenas de anos.

Esta que é a sua última tentativa de se redimir de um passado que colheu a vida de Saul, seu único filho, Sheldon abraça com uma determinação férrea o objetivo de salvar “Paul” dos seus perseguidores e assassinos de sua mãe. O ambiente frio da Noruega assume-se como um cenário “ideal” para uma fuga épica movida por um gangue kosovar cujo líder não consegue apagar da mente os horrores vividos nos Balcãs durante a década de 1990.

Ao longo das páginas “Um Estranho Lugar para Morrer”, Miller traça uma tangente na exorcização da culpa, da guerra, da perda. Para isso serve-se de uma contextualização narrativa alicerçada em constantes flashbacks entre Sheldon, Mabel, a sua ex-mulher, e Saul, o filho morto no Vietname.

Os conflitos da Coreia e Vietname – duas pedras no sapato da mente dos norte-americanos – e os fantasmas herdados do holocausto nazi, moldou a vida de muitos homens como Sheldon, dizimados pelo destino, aqui entendido como uma mola espiral de um vulgar relógio, metáfora que ganha forma com a tentativa do nosso herói em consertar o passado, especialmente depois de passadas as guerras, época essa que transformou um militar num relojoeiro de bairro que aos 80 anos de idade continua a “falar” com o vizinho Billy, um dos fantasmas mais presentes na mente do velho judeu.

Esses diálogos percorrem a história recente da América e mantém Sheldon conectado com o mundo, a vida, ainda que tal possa ser sinónimo de um lapso temporal, demente e insano, mas que não deixa de ser um precioso elo de sobrevivência para o personagem principal.

Paralelamente, e muito ao jeito dos já referidos mestres do policial nórdico, Miller faz o retrato da própria sociedade norueguesa e da herança da invasão nazi, algo que o próprio país encara de forma incoerente, pois o acontecimento é visto por muitos por uma dupla perspetiva entre o epiteto de vítima e mera testemunha.

Assumindo-se também como a outra face de uma mesma moeda psicológica, a agente Sigrid Odegard, responsável pela operação que pretende resgatar a dupla Sheldon e “Paul”, pensa os conflitos do século XX e transpõe as suas consequências para a sociedade atual que atua como um sistema reciclador de consciência, ao mesmo tempo que tenta perceber qual o próximo passo de perseguidores e perseguidos.

Brilhante, Miller consegue transformar “Um Estranho Lugar para Morrer” num livro sobre a expiação, uma forma alternativa de redenção e não apenas um “mero” romance policial cuja inspiração está assente num evidente complexo (aqui entendido no bom sentido) Huckleberry Finn, o maravilhoso personagem criado por Mark Twain.

In Rua de Baixo

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

“Tempo Limite”
de Janet Evanovich e Lee Goldberg


Uma missão de alto risco reúne a agente Kate O’Hare e Nick Fox, um dos mais novos aliados do FBI que, até há bem pouco tempo, era um dos criminosos mais procurados do planeta.

No epicentro da crise está Carter Grove, antigo chefe da Casa Branca e cabecilha de uma agência de segurança privada. Há cerca de uma década, Grove roubou um raríssimo artefacto chinês do museu Smithsonian que, secretamente, foi substituído por uma falsificação.

Irritado com toda esta situação, o governo chinês decidiu que chegou a hora de reaver a peça entretanto roubada. Estados Unidos da América e China estão assim perto de um corte de relações diplomáticas, a não ser que a verdadeira obra de arte seja devolvida aos seus donos.

Numa verdadeira corrida contra o tempo, Kate, Nick e os seus pouco ortodoxos companheiros têm apenas 15 dias para colocar em prática um ousado e mortífero plano. Estão assim lançados os dados para uma emocionante aventura que vai levar esta dupla improvável por terras da Escócia, Canadá, e China, tendo como ponto de partida a terra da liberdade e dos bravos.

Tal como os outros livros desta dupla que já vendeu dezenas de milhões de livros um pouco por todo o mundo, “Tempo Limite” (Topseller, 2014) é um verdadeiro hino à ação de contextos policiais, onde o thriller e o suspense marcam presença a cada palavra, linha, frase e ideia.

À medida que a dinâmica narrativa avança, ao leitor apenas é pedido que aperte o cinto pois o carrossel emotivo tende a crescer, sem limites. Pelo meio há agentes sob disfarce, mortes e ameaças, vidas que se salvam no último segundo, perseguições terríveis e uma sensual forma de encarar o perigo.

Ao ler as velozes aventuras da dupla Kate/Nick, fica a sensação que deve ser tão divertido escrever um livro com estas características – onde o leitor é levado a sentir o redopio emotivo – como lê-lo. As personagens são cativantes e (é notório um certo piscar de olho a um certo perfil made in Hollywood) Kate e Nick acabam por completar-se, envolvendo-os uma atmosfera de flirt que dá ainda mais calor à narrativa.

Com um argumento credível, apesar de alguns “exageros” fruto de uma lógica cinematográfica, “Tempo Limite” reúne todos os ingredientes presentes nos anteriores livros de Janet Evanovich e Lee Goldberg, tornando-o em mais um imbatível sucesso de vendas.

In deusmelivro