domingo, 22 de fevereiro de 2015

Sleater-Kinney
“No Cities to Love”

As canções não se medem aos palmos


Navegando por sons cujas ondas remetem para marés de vagas que misturam laivos de punk com salpicos de indie rock, as Sleater-Kinney, são um trio de “meninas” originário de Olympia, Washington, composto pelas guitarristas Corin Tucker e Carrie Brownstein, e a baterista Janet Weiss. Formaram-se em 1994, lançaram entretanto oito álbuns, mas até hoje pautaram a carreira com alguns hiatos. Voltaram novamente ao ativo no ano passado e desse regresso resultou “No Cities to Love”, um disco carregado de energia, que descarrega dez boas vibrações em pouco mais de meia hora.

A mais recente coleção de canções das Sleater-Kinney é um verdadeiro hino ao rock de guitarras - isto, sem qualquer desprestigio para o trabalho de Weiss na bateria. A ausência do baixo, um elemento muito importante na noção clássica do universo pop/rock, é colmatado com a mestria dos arranjos dos pedais e afinação dos instrumentos Tucker e Brownstein. Essa química está bem patente ao longo das dez faixas de um disco que soa confortavelmente tão natural e rock, que é impossível parar de sentir pontadas de adrenalina pelo corpo e alma. O som das Sleater-Kinney atingiu, finalmente, um pleno de vitalidade de uma banda com sangue na guelra, afastando qualquer noção revivalista. Apetece até dizer que o interregno lhes fez muito bem.

Logo a abrir, “Price Tag” não perde tempo e agarra-nos de forma pujante. Os solos de guitarra e a sincopada bateria completam-se. O dedilhar das cordas, ao desafio, leva-nos para territórios deliciosamente rock e despretensiosos.

As vozes de Tucker e Brownstein são outro precioso e mútuo aliado, e em faixas como “A New Wawe” essa sintonia é pura bênção auditiva. A par do diálogo elétrico, também as cordas vocais servem de prova mais do que coerente de que o duo criativo das Sleater-Kinney está em grande forma e age como se de um único cérebro se tratasse.

Enquanto ouvintes, e há que assumir, amantes de boa música, apenas podemos agradecer a coesão deste disco. A maturidade musical do trio consegue hoje fazer nascer algumas das suas melhores canções de sempre. Exemplo disso é “No Cities to Love”, uma composição com perfil radiofriendly, sendo “No Anthems” um dos melhores momentos do disco, um autêntico exercício de swing auditivo cuja intensidade alterna entre estados de semi-”apatia” e uma vontade sedutora de estalar o verniz. O requebrar desta tensão faz toda a diferença.

As dez canções de “No Cities to Love” não precisam de pouco mais (ou menos) de três minutos para soarem inteiras, pujantes. Que dizer de “Fade”, um momento stoner brilhante assente no sólido entendimento de guitarras e bateria, ou do agridoce pop de “Hey Darling”, onde Brownstein canta: “It seems to me that the only thing that comes from fame is mediocrity”?

Ironicamente, ou não, este vai ser, sem dúvida, o disco mais ouvido (famoso parece um termo menos feliz) da carreira da banda. Não que as Sleater-Kinney procurem sucesso, mas porque merecem o reconhecimento da massa anónima que as ouve, ou devia.

“No Cities to Love” é um excelente disco e prova que a banda de Olympia ainda tem muito para dar. Será que alguém faz o favor trazer estas três meninas até nós? Caíam tão bem no alinhamento do cartaz de um certo festival de verão...

Alinhamento:

1. Price Tag
2. Fangless
3. Surface Envy
4. No Cities do Love
5. A New Wave
6. No Anthems
7. Gimme Love
8. Bury Our Friends
9. Hey Darling
10. Fade

Classificação do Palco: 9/10

in Palco Principal

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