segunda-feira, 29 de setembro de 2014

“Amar, Beber e Cantar”
de Alain Resnais

No Palco de Vida


Quando a comunidade cinéfila mundial ainda chora a morte de Alain Resnais, um dos mais emblemáticos mestres do cinema europeu, é-nos dada a oportunidade de ver “Amar, Beber e Cantar”, o último suspiro criativo do realizador de alguns dos maiores momentos da Sétima Arte como o foram “Hiroshima, Meu Amor”, “Muriel”, “O Ano Passado em Marienbad” ou “Smoking / No Smoking”.

Vencedor dos Prémio FIPRESCI e Alfred Bauer na mais recente edição do Festival de Berlim, “Amar, Beber e Cantar” simboliza o regresso de Resnais ao universo teatral, cerca de dois anos depois de “Vous n’avez Encore Rien Vu”, um filme cujos protagonistas eram atores em pleno ensaio de uma peça. Ainda que explorem um mesmo universo, as referidas películas distam entre si no seu conteúdo pois enquanto em “Vous n’avez Encore Rien Vu” o espetador assistia a um desfile globalmente profissional, “Amar, Beber e Cantar” eleva o amadorismo ao palco principal.

Livre adaptação cinematográfica da peça “Life of Riley” de Alan Ayckbourn, “Amar, Beber e Cantar”, é um filme que mistura drama com um apurado sentido de humor e retrata a relação de três casais cujo elo aglutinador é George Riley, um personagem omnipresente e omnipotente que nunca aparece em cena.

No centro da ação estão Colin (Hippolyte Girardot) e Kathryn (Sabine Azema), Tamara (Caroline Silhol) e Jack (Michel Vuillermoz) e ainda Monica (Sandrine Kiberlain) e Simeon (Andre Dussolier).

Os primeiros a entrar em cena são Colin e Kathryn, ambos convidados a integrar a peça dirigida por Peggy Parker, apesar de Kathryn acusar o seu marido de falta de empenho na atuação. No meio de um ensaio privado, Colin recebe uma chamada que vai mudar a vida do seu círculo de amigos. O diagnóstico dos exames de George Riley revelam que o mesmo está a braços com um cancro em fase terminal e tem apenas seis meses de vida.

Ainda que Colin peça segredo a Kathryn, a veia alcoviteira da mulher leva-a a espalhar a triste notícia de imediato. Tamara, amiga do casal e mulher de Jack, melhor amigo de Riley, é a primeira a saber a novidade. O desespero e sentido de injustiça apodera-se de todos mas depois de Jack abandonar a peça, surge a ideia de convidar Riley para o seu papel numa tentativa de dar algum alento aos últimos suspiros de vida do enfermo.

De uma forma ou de outra, todos querem passar o pouco tempo que resta com Riley e até Monica, ex-mulher de George, é convencida a voltar ao contacto do ex-companheiro numa tentativa de alegrar os seus derradeiros momentos apesar de ainda sentir-se bastante magoada. Quem não gosta da ideia é Simeon, atual amante de Monica, mas rende-se às evidências.

É notória a estreita ligação afetiva que todas as mulheres do grupo sentem em relação a George Riley e tal, acreditem, extravasa a simples compaixão. Resnais consegue contextualizar um enredo labiríntico servindo-se de um surrealismo aplicado a uma estrutura narrativa que serve-se de vários cenários artificiais e visualmente fruto de um devaneio onírico e teatral inspirado nas cortinas de um vulgar palco.

Em todas as cenas, as paisagens são pintadas e minimalistas, os sons ambientes são reais e os grandes planos dos atores remetem o espetador para momentos que nos fazem lembrar as obras arte pop de Roy Lichtenstein, quando o fundo se resume a centenas de linhas negras traçadas sobre um fundo branco. No lado oposto deste universo irreal estão as personagens de carne e osso assim como as imagens do countryside inglês que servem de estrada, literal, entre as habitações dos três casais ainda que essas também sejam vítimas de uma metamorfose entre realidade e um quadro pictórico. Para unir estes opostos artísticos está a música de Mark Snow que faz a ponte entre o burlesco e o bucólico.

Através de um jogo de diálogos que cruzam sentimentos, estados de espírito e almas diferentes, Resnais orquestra uma sucessão de acontecimentos cuja graça faz o espectador seguir meticulosamente uma tela que vai alternando entre situações mais expansivas e alguns grandes planos.

Apesar disso nunca se perde a formalidade dos personagens que são um típico exemplo da arte de Ayckbourn, cujo perfil situa-se na meia-idade entre tiques de classe-média e um extravasar burguês, nomeadamente nas pessoas de Jack e Tamara. Enquanto isso, a câmara de Resnais mostra uma miríade de sentimentos, desapontamentos, arrependimentos e quase-acontecimentos em relação aos três casais.

Nas entrelinhas ficamos também a saber que Jack e Tamara têm uma filha adolescente (Tilly) que serve de desculpa para não aflorar os verdadeiros problemas que existem entre o casal; como Kathryn e Colin enfrentem o tédio de uma relação também desgastada; e como Monica e Simeon tardam em alinhar agulhas afetivas sem esquecer fantasmas. E por falar em almas penadas, o episódio das últimas férias em Tenerife é a cereja no topo do bolo e vai fazer o copo transbordar.

Ainda que o todo do filme revela algumas oscilações entre o interessante e menos acutilante, destaque-se o magnifico trabalho dos atores, em especial Vuillermoz que envolve o “seu” Jack num brilhante dramatismo que mostra um homem em constante desafio face ao seu atribulado quotidiano e que tem na eminente morte do seu melhor amigo uma luta grandiosa.

O coloquialismo britânico dos personagens faz crescer o perfil burlesco de um “filme” que junta os universos de Resnais e Ayckbourn de forma eficaz e deliciosamente colorida. Os dias sucedem-se, sem a pretensão de qualquer exatidão e entre a primavera e o outono tudo pode acontecer, algo que contrasta, por exemplo, com a obsessão de tempo por parte de uma personagem como Colin que faz da sincronia entre relógios o seu barómetro existencial.

Sem ser uma obra-prima, “Amar, Beber e Cantar” é um exercício pertinente, bem-disposto e visualmente atrativo. Resnais serve-se da faceta neurótica e algo depressiva dos personagens e faz das suas fraquezas forças que afastam laivos de uma crescente ausência de sentido. Sabine Azema, ex-companheira de Resnais, e Michel Vuillermoz colocam os personagens de Kathryn e Jack no pódio de um filme que reclama a atenção do espetador de forma natural e não obsessiva, enquanto os casais falam dos seus descontentamentos, frustrações e crises cuja cura, culpa e redenção assume, a espaços, a figura de George Riley.

No fundo, Resnais reclama na tela por resquícios de uma morna humanidade ainda que refutando alguma audácia por parte de personagens que habitam um presente assente entre um pessimismo fruto de um passado longínquo e um otimismo em relação a um futuro indefinido. A nós, enquanto testemunhas, resta-nos percorrer cenários que misturam imaginação, vertigem, episódios surreais e um sentimento de celebração da vida ainda que assombrada pela presença da morte.

In Rua de Baixo

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Ashrae Fax
“Never Really Been Into It”

Ecos do Passado



Têm sido frequentes, nos últimos anos, várias abordagens sonoras que remetem os nossos ouvidos para melodias e ambientes perfeitamente datados. Os anos 1970, 1980 e 1990 têm sido “vítimas” de múltiplos revivalismos numa espécie de (eterno) retorno. Se em alguns casos as experiências têm sido bastante satisfatórias, noutros, o resultado é, no mínimo, duvidoso.

Na música, como na arte em geral, a recriação pode ser entendida como um processo revivalista ou, para os mais pessimistas e desconfiados, uma forma descarada de copiar o que já existe. Em ambos os casos os terrenos assemelham-se a um verdadeiro campo minado.

Nas últimas décadas foram muitas as bandas ou movimentos estéticos que deixaram escola. Do punk, à new wave, passando pelo rock ou pelos sons mais étnicos ou experimentalistas, o universo musical global presta repetidamente homenagem a bandas como, por exemplo, os Sex Pistols, Joy Division, The Cure, Bauhaus, Depeche Mode, The Pixies, Dead Can Dance ou Cocteau Twins. Todos estes nomes, alguns deles diretamente, ou não, associados à mítica editora 4AD, não surgem por acaso neste contexto, principalmente no que toca à banda de Elizabeth Fraser e Robin Guthrie. Banda de referência dos anos 1980, os Cocteau Twins deixaram um legado com maravilhosos discos que misturavam uma ambiência mágica e um cenário etéreo. Trabalhos como “Treasure”, “Victorialand” ou “Blue Bell Knoll” são ainda hoje uma referência e o seu conteúdo imaculado.

Natural da Carolina do Norte, o duo Ashrae Fax, formado pela vocalista Renée Mendoza e o guitarrista e também produtor Alex Chesney, depois de editar, em 2003, “Static Crash”, um disco descaradamente mergulhado em ritmos new wave e synth pop, regressa agora com um, de certa forma, inesperado segundo trabalho, encaixando-se perfeitamente no que acima escrevemos.

“Never Really Been Into It”, apesar de ser um objeto lançado em 2014, através da indie Mexican Summer, faz inevitavelmente uma ponte entre os anos 1980 e o presente. Fruto de um parto longo, este disco traz à tona os “fantasmas” estéticos dos Cocteau Twins, ainda que sob a versão mais tardia da banda, quando Fraser já tinha abandonado a linguagem “elfica” dos primeiros discos e cantava em inglês, de facto.

Musicalmente, os Ashrae Fax estão fechados em si mesmos e refugiam-se na beleza da conjugação entre laivos góticos, um drum beat minimal, um baixo denso, teclas etéreas e uma voz que mistura (claras) influencias da já referida vocalista dos Cocteau Twins, como também da peculiar comunicação verbal de Siouxsie Soiux. E tal sente-se logo desde os primeiros acordes.

“Dreamers Tied to Chairs”, a primeira canção de “Never Really Been Into It”, tem o condão de interromper a contagem do tempo e remete-nos para os idos anos 1980. A melancolia das guitarras, juntamente com as batidas dolentes da secção rítmica, permite à voz avançar de forma segura e planante, mesmo quando a ambiência experimenta um pouco de intensidade na parte final da composição.

Se “Dreamers Tied to Chairs” é uma peça exemplar de um pop com salpicos góticos, a fazer lembrar aos mais saudosistas as brisas suaves das canções de discos como por exemplo “Treasure”, “CHKN”, a segunda faixa do álbum, vinca uma vontade de mostrar, e oferecer, momentos musicais que rejeitam urgências desmedidas. Enquanto a voz desliza suavemente, as guitarras (muito próximas dos acordes dos The Cure de “Three Imaginary Boys”) marcam um perfil pop muito elegante. Já “The Big Lie” afasta-se deste palco mais contemplativo e ataca ambientes mais densos e escuros de uns The Soft Moon ou da fase mais punky dos Dead Can Dance, nomeadamente aquando do seu álbum de estreia.

Mas não é a fúria que move os Ashrae Fax e faixas como “Fits and Stars”, Decaax”, “Hurricanes in a Jar” - que junta a presença de um saxofone à restante orquestra - ou “Second Chances” mostram novamente a face mais açucarada do duo norte-americano. “You Make Me Question My Mind” é outra peça de assinalável beleza que cresce à medida das audições e que leva a descobrir pormenores que podem transformar uma canção banal numa composição de excelência.

Ao chegar a “In Motion”, o tranquilo e último tomo de “Never Really Been Into It”, já as almas foram tomadas pela dolência de Mendoza e Chesney e o fim do disco assemelha-se a um leve acordar depois de um sonho bonito.

Não sendo uma obra-prima, e apesar de parecer algo “desfasado” temporalmente, “Never Really Been Into It” é um álbum bem conseguido, bonito e lembra o que de melhor já se fez nas últimas décadas no que à música mais indie diz respeito. Mais do que um exercício de memória ou revivalismo, os Ashrae Fax conseguiram fazer nascer um disco que faz bem aos sentidos, nos deixa tranquilos e de sorriso (nostálgico) nos lábios. Afinal, a música também serve para isso mesmo.

Alinhamento:

01.Deamers Tied to Chairs
02.CHKN
03.The Big Lie
04.Fits and Stars
05.Decaax
06.Hurricanes in a Jar
07.You Make Me Question My Mind
08.Intexus
09.Second Chances
10.In Motion

Classificação do Palco: 7/10

In Palco Principal

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

“A Mulher Louca”
de Juan José Millás


Diário Pouco Secreto de Lúcidas Loucuras

Um dos mais brilhantes escritores da sua geração, o espanhol Juan José Millás deixa, a cada livro, uma marca profunda de uma genialidade que mistura a realidade objetiva e corriqueira com elevadas doses de surrealismo.

Com uma assinalável carreira enquanto jornalista e também escritor, o autor de livros como “O Mundo”, “Laura e Júlio”, “Os Objetos Chamam-nos” ou “O Que Sei dos Homenzinhos”, faz-nos agora chegar “A Mulher Louca” (Planeta, 2014), um dos mais aguardados livros do ano e, sem dúvida, um dos mais brilhantes.

Vencedor de galardões como o “Prémio Planeta 2007” ou o “Prémio Nacional de Narrativa 2008”, Millás é dono de uma escrita única, desconcertante e profundamente psicanalítica e “A Mulher Louca” eleva a narrativa ao expoente da fronteira (ténue) que divide realidade e ficção, possível e impossível, verdade e mentira.

Embrulhado em um sentido de humor cuja génese resulta de uma capacidade honesta de combater a dura realidade, seja ela alternativa ou não, “A Mulher Louca” é um livro diferente. Os seus personagens desafiam a lógica a cada frase, a cada conceito. O desejo de pertença é assinalável e o próprio autor não resistiu ao enredo. Millás vive nas páginas desta obra através de um desdobramento triplo: como autor, narrador e personagem.

No centro da trama está Julia, que mistura o trabalho em uma peixaria com o estudo autodidata da gramática. Fá-lo para entender a linguagem mas também porque quer entrar no mundo de Roberto, o seu chefe, e amante, filólogo de formação.

Nos intervalos da sua atividade, Julia, dedica os seus tempos livres a ajudar a cuidar de Emérita, uma doente terminal e na sequência de tal conhece Millás, o jornalista, que está a preparar uma reportagem sobre a eutanásia. Mas Millás, o escritor, vê em Julia o objeto perfeito de um romance. A braços com um terrível bloqueio criativo, Millás, a pessoa, refugia-se na cadeira de uma psicoterapeuta idosa.

É a realidade que assombra Millás, a pessoa, o jornalista, o escritor. As coisas tornam-se ainda mais complexas quando Emérita revela a Millás um segredo que guardou toda a sua vida. O que se assemelhava a uma reportagem mudou por completo durante as vistas a Emérita e o que era lógico torna-se absurdo e um dilema.

Ao longo do curto “A Mulher Louca” (apenas 190 páginas, para nosso descontentamento), Millás revela-se, expõem-se, arrisca-se. As metáforas concecionais são frequentes, assim como os delírios narrativos, as coincidências, os devaneios ou as interrupções (in)voluntárias da realidade.

Julia é, por exemplo, uma personagem cuja personalidade assume-se avessa. Alucina com a linguagem, ajuda palavras com problemas no seu consultório verbal. Deliciosamente saída da mente de Millás, Julia resulta da relação entre a literatura e a loucura, de um jogo criado em torno da dicotomia entre criatividade e rutura, características inatas à escrita do autor.

Millás consegue mesmo, com elevada distinção, abordar a insanidade de forma a extravasar os clichés do tema. A perceção da realidade é aqui adulterada e Millás é também ele uma “vítima” da narrativa assumindo uma personalidade tripla e bidimensional. Assistimos, deliciados, a uma fuga da banalidade do complexo narrativo simultaneamente com um processo intuitivo que busca forças e pertinência na inspiração e reflete (sobre) a criação literária.

Os desdobramentos pessoais, o carteiro analfabeto, o silêncio sem gramática, a enfermidade turística da existência, os senhores Porquesim e Porquenão, a morte assistida e uma certa intriga policial são outros componentes que somados ajudam a conseguir um todo que é sinónimo de um romance inteiro e imperdível pois “A Mulher Louca” revela o melhor de Juan José Millás, alguém que tem o condão de transformar a pura ficção em ficção pura.

In Rua de Baixo

terça-feira, 23 de setembro de 2014

transeatlântico, uma voz insular



A identidade, seja ela individual ou coletiva, pode ser fomentada através da linguagem escrita, da comunicação enquanto espelho da alma, como um instrumento dialético criado através do ato de conhecer e divulgar, com orgulho.

Como resultado dessa dialética pode nascer um poema, um filme, um livro, uma revista. E é sob este último desígnio que nasceu a transeatlântico, a uma nova revista literária que vai chegar ao público no final deste mês, estando o seu lançamento agendado para o próximo dia 28 de setembro, domingo, pelas 18 horas, no Instituto Cultural de Ponta Delgada.

Sob a batuta de Nuno Costa Santos, a transeatlântico, propriedade da Companhia das Ilhas – instituição essa também responsável pela sua edição – aposta na cultura açoriana através de uma divulgação elegante, criteriosa e profundamente lírica.

Com um catálogo que reúne obras de autores açorianos como Urbano Bettencourt, Nuno Costa Santos, Jácome Armas, Mário Cabral, Alexandre Borges, Manuel Tomás, Nuno Dempster, Manuel Serpa e Nunes da Rosa, a Companhia das Ilhas quer tornar a transeatlântico numa ferramenta de divulgação cultural sobre um prisma que centra toda a sua acutilância no ato de (bem) escrever. Nas palavras de Nuno Costa Santos, «esta é uma revista que quer incentivar a escrever, de modo ficcional ou ensaístico, sobre o que são os Açores hoje – nas suas novas entranhas. Nas suas personagens, nas suas tensões biográficas, nos seus sonhos e ilusões, nos seus conflitos e acidentes. Mas também nos seus costumes, nos seus pequenos hábitos e nas suas expressões verbais.»

Ao longo das 112 páginas do número zero da transeatlântico podemos contar com muitas surpresas, sendo o propósito traçar um possível retrato, literal, ficcional, poético ou sonhado, de uma ilha especial e partilhada de corpo e alma. Para isso reuniram-se nomes como Alexandre Borges, Bianca M, João Pedro Porto, Joel Neto, Leonardo, Luís Filipe Borges, Luís Rego, Maria das Mercês Pacheco, Mariana Matos, Mário T Cabral, Paula de Sousa Lima, Renata Correia Botelho, Rogério Sousa e Rui Jorge Cabral.

A responsabilidade de apresentar a revista está a cargo de Leonor Sampaio, sendo que um dos maiores destaques desta primeira edição é a entrevista realizada por Nuno Costa Santos a Daniel Sá, escritor açoriano recentemente falecido. Outros pontos fortes são, por exemplo, um trabalho de Vasco Medeiros Rosa sobre um texto pouco conhecido de Vitorino Nemésio, assim como o portefólio com fotografias de grotas dos Açores da responsabilidade de Duarte Belo.

Com uma periodicidade anual, a transeatlântico tem distribuição regional e nacional e pode ser adquirida a troco de 10 euros.

In deusmelivro

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Cinema Ideal
Um ponto de encontro no coração do bairro



É a mais antiga sala de cinema de Lisboa e já teve vários nomes. De Salão Ideal, passou a Cine Camões e nos últimos anos respondia pela designação de Paraíso. Hoje abraça a graça de Cinema Ideal e devido à união de esforços entre a Midas Filmes e a Casa da Imprensa, proprietária do imobiliário, ousa colocar o triângulo entre o Chiado, o Bairro Alto e a Bica no roteiro dos amantes da Sétima Arte e não só.

O projeto foi pensado de forma gradual mas só depois de ultrapassadas várias batalhas burocráticas e outras, o Cinema Ideal teve condições para ser uma realidade. Para além da sala de cinema, o espaço, muito acolhedor diga-se, vai contar ainda com uma área – denominada Salão Ideal – que acolherá uma DVDteca, um alfarrabista e uma cafetaria e vai abrir portas depois de concluídas as remodelações (daquilo que conseguimos apurar a abertura pode estar à distância de duas a três semanas) estando à disposição da cidade não sendo um exclusivo para quem vai ver um filme.

Pedro Borges, diretor da Midas Filmes e um dos maiores responsáveis pela génese do Cinema Ideal, não tem dúvidas em afirmar que era urgente ter um espaço do género no centro histórico de Lisboa. “Depois de desapareceram completamente todas as salas de cinema na zona nobre da cidade, um fenómeno único na Europa, pensámos em erguer o Cinema Ideal. Para tal tivemos a felicidade de encontrar um espaço como este que tinha a vantagem de ser propriedade da Casa da Imprensa, entidade que pretendia manter a atividade de sempre do imóvel da Rua do Loreto. A mudança da Lei do Arrendamento Comercial tornou o projeto ainda mais possível e depois de um considerável esforço financeiro por parte da Casa da Imprensa conseguiu-se libertar o espaço. Depois, adequámos os nossos desejos à realidade enfrentando uma batalha burocrática insuportável”.

O projeto de remodelação e renovação, que esteve a cargo do conceituado arquiteto José Neves, está avaliado em cerca de 500 mil euros, valor em nada comparticipado pela secretária de Estado da Cultura. Cerca de um quinto desse investimento teve como fim um dos mais modernos sistemas de projeção e som.

Numa altura em que se fala numa hipotética crise no que toca à frequência das salas de cinema, o Cinema Ideal quer inverter essa ideia, nomeadamente no que toca ao centro da capital. Pedro Borges é perentório: “Os cinemas de Lisboa não fecharam por não ter espetadores pois na altura do seu encerramento tinham milhares de visitas por semana. O problema é que as propriedades eram do ponto de vista imobiliário muito apetecíveis. A empresa que está a fechar as salas no centro de Lisboa é a mesma que as abre nos centros comerciais cuja atividade é muito mais rentável. A principal razão da morte das salas de cinema na cidade é pura especulação imobiliária e o negócio.”

Sendo uma sala relativamente pequena, com um máximo de espetadores a rodar as duas centenas de cadeiras, o Cinema Ideal enquanto conceito tende a colocar-se fora da órbita dos espaços mais comerciais. Borges assume a sala da Rua do Loreto como um local menos tentado pelo consumo associado ao novo ato de ir ao cinema. “A partir de certa altura os cinemas transformaram-se em espaços onde é essencial o consumo de produtos que vão complementar o preço do bilhete. Quem vem ao Cinema Ideal “queixa-se” do preço do bilhete mas não podemos ignorar que os ingressos dos cinemas dos centros comerciais não têm o mesmo valor, pois ao mesmo estão associados uma média de consumos derivados por pessoa que integra o preço do bilhete”.

Pensado com uma filosofia diferente, o Cinema Ideal, nas palavras do diretor da Midas Filmes, oferece um produto diferente. “Apesar de termos uma única sala existem várias sessões diárias e, em média, os filmes a exibir vão ser três e com vários horários. Os filmes são destinados a públicos diferentes entre si. Conhecemos o público português, reconhecemos as suas disparidades e vamos ter uma oferta muito particular. Queremos reunir o melhor do mundo do cinema e contem com muitas estreias. Estamos num espaço construído propositadamente para o cinema e está longe de ser um caixote preto com corredores forrados a cartazes. Foi concebido por um arquiteto e tem o melhor equipamento possível de imagem e som. O grande objetivo é manter esse nível de qualidade e é essa, essencialmente, a maior diferença que queremos assumir”.

No que toca à programação, o Cinema Ideal vai apostar numa mostra diversificada mas também em alguns filmes que, por regra, vão ter menos visibilidade nas salas de cinema dos espaços comerciais e com isso trazer o cinema para junto das pessoas, para o coração da cidade. “Para quem vive no centro histórico de Lisboa é um privilégio ter uma sala como esta. Assim, as pessoas vão ter um cinema perto de si e evitam deslocar-se significativamente. Quem mora, por exemplo, num raio de vinte minutos da Rua do Loreto, pode vir a pé ver um filme no Cinema Ideal. Queremos que as pessoas passem a encarar o cinema tal como ele foi em tempos, ou seja, algo normal, como uma atividade próxima à semelhança de outras mas que infelizmente perdeu essas características. As pessoas vão a pé ao restaurante, à farmácia, para a escola. Por várias razões o cinema tem sido excluído dessas movimentações urbanas. No meu entender deveríamos ter um “Cinema Ideal” na Graça, em Alcântara, em Alfama, em Santa Apolónia, etc.. Temos a obrigação de devolver o cinema à cidade para além de tornar um local como o Cinema Ideal em um ponto de encontro”, sublinha Pedro Borges.

Para além da normal exibição diária, o Cinema Ideal vai servir de palco para eventos na área da Sétima Arte e da imagem e a colaboração com, por exemplo, o IndieLisboa está já equacionada ainda que tal não signifique o fecho de portas da sala em termos da regularidade das sessões.

Para os interessados em vir até à Rua do Loreto ver um filme, a bilheteira do Cinema Ideal apresenta três modalidades. Às quintas, o “Dia Ideal”, os bilhetes são a cinco euros independentemente da hora de exibição. Esse valor é também praticado, diariamente, nas sessões com arranque antes das 13 horas. À tarde, compreenda-se um período até às 18.30, e para jovens, estudantes e maiores de 65, o valor é de seis euros. À noite, cada bilhete custa sete euros.

In Rua de Baixo

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

“Impérios em Guerra 1911-1923”
de Robert Gerwarth e Erez Manela



Os conflitos são habitualmente segmentados ou compreendidos através de períodos temporais de forma a conseguir-se um perfil cronológico. Se a Segunda Grande Guerra ficou definida por uma baliza entre 1939 e 1945, o primeiro grande embate de perfil mundial encaixa, por norma, num período de quatro anos, isto é, entre 1914 e 1918.

Mas, por vezes, essa matemática cronológica está sujeita a readaptações que derivam de novos estudos e análises globais. E é mediante tais pressupostos que “Impérios em Guerra 1911-1923” (D. Quixote, 2014) foi pensado, escrito, organizado e apresentado por Robert Gerwarth e Erez Manela em conjunto com mais de uma dezena de alguns dos maiores especialistas mundiais no que ao período da Primeira Grande Guerra diz respeito.

Falamos de uma obra que apresenta uma nova perspetiva da Primeira Grande Guerra que extravasa a genericamente aceite linha cronológica entre 1914 e 1918, olhando para o conflito como um recontro global entre impérios e recusando uma abordagem unicamente observada entre nações ou estados europeus.
Ao folhear “Impérios em Guerra 1911-1923”, somos convidados a entender um conflito que apresenta dados concretos em termos de tempo e espaço e que abarca violentos acontecimentos que antecedem e precedem a Primeira Grande Guerra, como o foram a invasão italiana à Líbia em 1911 ou os ecos violentos que resultaram do colapso dos impérios otomano, russo e austríaco até 1923.

Apenas poderemos entender o que se passou entre 1914 e 1918 tendo em conta os desequilíbrios que tiveram como palco a Europa – e não só – e que transcendem as desmobilizações militares levadas a cabo em novembro de 1918. A esses quatro anos devem “juntar-se” os embates imperiais entre 1911 e 1923.
Quando ainda se sentem os ecos do primeiro centenário da Primeira Grande Guerra, é urgente adotar uma perspetiva diferente face aos milhões que perderam a vida, aos interesses conjunturais e respetivos atos governativos, aos locais por onde o conflito passou e que ultrapassaram as fronteiras do Velho Continente.

Mas “Impérios em Guerra 1911-1923” vai mais longe e leva o leitor a compreender as movimentações globais de tropas africanas e dos civis chineses nas trincheiras na frente Oeste, os trabalhos dos soldados indianos em Jerusalém ou as movimentações nipónicas em terras chinesas que, diretamente ou não, foram responsáveis pela nova ordem mundial.

Olhando um pouco para o umbigo, não podíamos deixar de destacar o capítulo dedicado ao Império Português, cuja autoria esteve a cargo de Filipe Ribeiro de Meneses, professor de História na National University of Irland Maynooth. Nestas três dezenas de páginas ficamos a conhecer melhor a conjuntura do Portugal da década de 1910, bem como a atividade militar das tropas nacionais em Angola e Moçambique, assim como questões relacionadas com o rescaldo do conflito.

Resultado de um notável espírito de pesquisa, “Impérios em Guerra 1911-1923” nasceu depois de anos de trabalho – a maioria dos autores reuniu-se por duas vezes em conferências temáticas que tiveram Dublin como palco -, complementando o seu conteúdo através de mapas e imagens que tornam ainda mais dinâmico e apelativo um livro que tem o condão de revelar outras faces de um conflito que representou uma das maiores mexidas no mapa global do planeta.

In deusmelivro

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

“Jacques, o Fatalista e o Seu Amo”
de Denis Diderot



Ao longo dos últimos dois séculos, foram vários os nomes que ousaram analisar “Jacques o Fatalista e o seu Amo”, uma das mais marcantes obras do século XVIII. Se o alemão Friedrich Schlegel, homem de letras que fez a ponte entre os séculos XVIII e XIX, salientou o brilhantismo da criação da personagem de um criado imbecil que usa a estupidez como uma forma de crítica mordaz, o contemporâneo Milan Kundera chega mesmo a comparar este livro a clássicos como “D. Quixote” ou “Ulisses”.

Esta última observação, como facilmente pode verificar-se ao folhear a nova edição de “Jacques, o Fatalista, e o Seu Amo” (Tinta da China, 2014), com prefácio de Eduardo Prado Coelho, não tem a ver com a elevada erudição do texto, mas sim com a mestria da natureza do mesmo que se serve do riso como uma forma de tocar o leitor, de contar uma estória, de desafiar os limites da falência humana.

Claramente inspirado no romance “A Vida e Opiniões de Tristram Shandy”, de Laurence Sterne, e publicado originalmente em nove volumes – sendo os dois primeiros datados de 1759 -, “Jacques O Fatalista e o seu Amo” é uma maravilhosa peça de características anti-romance, uma forma de provocação feita por Diderot ao leitor através de uma sucessão de ideias, não necessariamente ordenadas cronologicamente, que resultam de um diálogo entre Jacques e o seu mordomo ao longo de um percurso cujo local de partida e destino afiguram-se desconhecidos e desnecessários.

Jacques o Fatalista e o seu Amo, Diderot, Tinta da ChinaMais que uma bússola, ao leitor é recomendada uma grande capacidade de encaixe literário – aqui entendido como uma mescla de humor -, seja ele corrosivo ou naïve, discussões filosóficas, aventuras amorosas, exposições de caráter religioso, médico, financeiro ou jurista. Tudo temperado com elevadas doses de senso-comum, nem que o tema central seja um palavrão ou a sua pertinência conceptual através de argumentos cuja valia encontra sentido tanto há dois séculos atrás como na atualidade.

Nas entrelinhas desta obra Diderot consegue traçar a fotografia da França pré-revolução, das suas relações sociais e dos conflitos que dai emergem. Tudo é caricaturado e a tendência natural é o exagero, ainda que o enquadramento seja bipolar e as visões entre mestre e amo se complementem. A liberdade é um lugar-comum na escrita de Diderot e não se espantem ao ler – e entender -, por exemplo, a necessidade óbvia que os filósofos sentem de ofender o próximo.

À imagem de outras obras de caráter discursivo, Diderot pensou este “Jacques o Fatalista e o seu Amo” como uma paródia (ou talvez não) que se estenderia por um período largo, existindo muito mais neste livro que a ridicularização e o conceito de paradoxo.

Diderot tinha por propósito fazer o leitor pensar, levar-nos a entender que o mundo pode estar organizado de uma forma que transcende os conceitos comuns de ordem e caos. “Jacques o Fatalista e o seu Amo” é um alerta face à modernidade que se aproximava, face às mudanças que o final do século XVIII poderia proporcionar.

A complexidade deste livro pode mesmo levar a equacionar, tal como já fora referido, o seu estatuto de romance. De facto, podemos mesmo considerá-lo uma narrativa parodiada ou ainda uma novela conceptual em forma de desafio. O extremo fatalismo de Jacques é o que faz funcionar um livro que se assume como um clássico sem espinhas, cujo todo assume a estrutura de um puzzle que deriva em um todo fragmentado mas incrivelmente (in)coerente, que o torna um documento único.

In deusmelivro

terça-feira, 16 de setembro de 2014

“Entrevistas de Nuremberga”
de Leon Goldensohn



No final da Segunda Grande Guerra, depois da muito aguardada queda da Alemanha, era urgente encontrar e, acima de tudo, punir culpados. Milhões de mortos e variadíssimos crimes contra a humanidade tinham de ser vingados com vista a restituir uma réstia de dignidade e justiça.

A Europa vivera um dos seus períodos mais negros entre 1939 e 1945 e, da luta entre Aliados e Forças do Eixo, os vencedores, se é que existiram, queriam o regresso da normalidade e, para isso, era necessário um julgamento global e público. Franklin Roosevelt, José Estaline e Winston Churchill ainda hesitaram entre execuções sem julgamento e um julgamento realizado por um Hermanntribunal internacional mas a segunda via, mais racional, acabou por vencer.

Diversos especialistas em direito internacional analisaram o perfil e ação dos arguidos e tentaram distinguir entre líderes, organizadores, instigadores, cúmplices, conspiradores e outros. A acusação variava entre Crimes contra a Paz, Crimes de Guerra e Crimes contra a Humanidade. As definições variavam, as consequências foram igualmente devastadoras e inimagináveis.

A sete de maio de 1945, a Alemanha rendia-se oficialmente e entre maio e outubro os Aliados analisaram os crimes praticados pelas forças do Terceiro Reich e, entre os nomes dos assassinos, figuravam figuras como Hermann Goering ou Ernst Kaltenbrunner. Detidos, os antigos membros nazis ocuparam as celas da prisão de Nuremberga e, enquanto aguardavam julgamento, foram entrevistados por Leon Goldensohn, um psiquiatra norte-, como os já referidos Goering e Kaltenbrunner mas também Hans Frank, Joachim von Ribbentrop, Rudolf Hoess ou Albert Speer.

Goldensohn, que fez parte da 63. ª Divisão de Infantaria do Exército do Mississípi enquanto capitão, chegou ao 121. º Hospital de Nuremberga a 29 de setembro de 1945, já com a patente de major, e organizou uma série de dossiers sobre os detidos que serviram a loucura liderada por Adolf Hitler.

Ao folhear as quase 600 páginas de “Entrevistas de Nuremberga” (Tinta da China, 2014) verificamos, de forma clara, a capacidade (ou tentativa) manipuladora da psicologia “barata” utilizada pelos detidos que, quase na sua totalidade, afirmavam desconhecer por completo a estratégia de Hitler, limitando-se a cumprir ordens como um bom militar.

Essa tentativa de racionalização, quebrada pontualmente por homens como Speer ou Hess, está bem patente neste fabuloso grupo de entrevistas que ousam revelar várias facetas. Karl Donitz, autor do primeiro testemunho e o oficial mais graduado dos entrevistados, oferece, por exemplo, uma análise parcialmente interessante da Segunda Grande Guerra por parte do Terceiro Reich.

Segundo Donitz, muitos oficiais não sabiam sequer da “Solução Final”, limitando-se a, mais uma vez, “cumprir ordens” e, ainda que reconheçam as perseguições étnicas levadas a cabo pela SS, afastam-se dessa responsabilidade.

Para muitos dos arguidos, as entrevistas de Goldensohn eram uma forma de conseguir alguma credibilidade (em alguns casos completamente bacoca), de forma a saírem beneficiados no que toca à sua defesa e presença em tribunal.

A manipulação, ou a tentativa da mesma, é diversas vezes notória em “Entrevistas de Nuremberga” e a frieza de algumas declarações deixam o leitor entender um pouco do raciocínio dos acusados.

Numa das mais intensas declarações de Goring, este afirmou: «Penso que não é nada desportivo matar crianças. É isso que mais me incomoda no extermínio dos judeus.» Hoess foi mais longe no que toca a sua desresponsabilização reagindo às perguntas de Goldensohn de forma fria e distante. Em resposta a uma questão do psiquiatra afirmou mesmo: «Não entendo o que quer dizer com ficar perturbado com estas coisas porque eu, pessoalmente, não assassinei ninguém. Era apenas o diretor do programa de extermínio de Auschwitz.»

Mesmo décadas depois é ainda hoje impossível não sentir um arrepio ao lembrar as atrocidades cometidas durante a ditadura nazi na Europa e, este livro, assume-se como um documento essencial para a compreensão e contextualização da história do Terceiro Reich e da Segunda Grande Guerra. Para que a memória não se apague.

In deusmelivro

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

MARK KOZELEK
"LIVE AT BIKO"

A VIDA (INTEIRA) NAS CORDAS DE UMA GUITARRA




O lançamento de “Benji” - um dos melhores trabalhos do norte-americano Mark Kozelek, ainda que sob a designação Sun Kil Moon - em fevereiro deste ano fez o mítico líder dos Red House Painters regressar aos grandes discos, aos registos que têm dentro de si uma aliança ideal entre a música (no caso, voz e guitarra) e a vida. Ainda que não fosse preciso qualquer forma de prova, “Benji” confirmou, mais uma vez, a genialidade da arte saída da mente e guitarra de Kozelek, cuja harmonia resulta num registo música emocional, direto e, por que não dizê-lo, implosivo. Falamos de um disco que resulta de um gigantesco sentido de fragilidade e laivos de mortalidade, características que sempre acompanharam a alma poética de Kozelek, alguém que não precisa de uma orquestra para tornar a melodia gigante. E, ao vivo, as composições que fazem parte de “Benji”, e não só, resultam de forma maravilhosa.

“Live at Biko” é, mais uma vez, uma categórica mostra da majestade do reportório de Mark Kozelek, que, com uma assinalável regularidade, faz nascer música, canções que afastam com distinção o fantasma da redundância. O músico natural de Massillon, Ohio, torna o simples em momentos de rara beleza e quem não teve o privilégio de acompanhar a digressão de “Benji” tem neste “Live at Biko” a possibilidade de sentir essa magia.

E a inveja é um dos sentimentos possíveis ao ouvir “Live at Biko”. Inveja de não ter estado em Milão, inveja de não ter ouvido aquelas músicas ao vivo. Inveja de uma tal Sara que “invadiu” o palco. Inveja de não sentir a melancolia da mestria de Kozelek. Inveja, assim, pura e dura, daquilo que é único.

A intimidade que resulta da conceção de “Live at Biko” vai ao ponto de causar arrepios a cada acorde, a cada palavra cantada, a cada segredo revelado, a cada segundo de partilha entre cantor, músico e público. Até mesmo quando Kozelek interrompe de forma abrupta “I Love My Dad”, – numa atmosfera que lembra algumas aproximações acústicas de Springsteen a “Born to Run” – porque entende que a canção não resulta por terras de Itália, não se perde uma pontinha de magia.

Ao longo das 14 canções deste disco fala-se de desventuras sexuais, filmes, familiares, heróis de sempre, namoradas, problemas com drogas, assassinos, prostitutas, casinos, adolescência, da vida toda, sem filtros ou medo da memória, ainda que a mesma já revele falências que equivalem à cada vez mais iminente proximidade dos 50 anos.

O concerto (ou devemos dizer disco?) começa com a fantástica “Gustavo”, seguida de “I Watched the Film The Song Remains the Same”, está última retirada de “Benji”, o disco mais representado em “Live at Biko”. Entre as canções há espaço para a partilha, para o silêncio, para o humor ou até mesmo para perguntar quanto tempo resta para a guitarra e voz de Kozelek poderem enfeitiçar a plateia.

A beleza da prestação de Mark Kozelek conserva, assim, para a história maravilhosas interpretações de, por exemplo, “Micheline”, “Alesund”, “Carrisa”, “Tavoris Cloud” ou “Caroline”. Ainda que a tranquilidade seja o sentimento mais presente, em momentos como na interpretação de “Hey you Bastards, I’m Still Here”, que surgiu da colaboração de Kozelek com Desertshore, assalta-nos um desafio, um enfrentar de fantasmas que ganha ainda mais força com uma interpretação a lembrar Neil Young.

A cereja em cima de um bolo - muito delicioso mesmo - é a prestação de “Sunshine in Chicago”, um pedido especial, segundo Kozelek, do seu tour manager e que foi sinónimo de (mais) um esforço de memória.~

Aquilo que fica, não só deste disco como de tudo em que Kozelek participa, é a simplicidade desarmante com que faz uma música que entra dentro de quem a ouve e aí permanece para a eternidade. Não há muitos compositores assim, com uma alma maior que a vida, com uma musicalidade única e inebriante. Ouvir discos como “Live at Biko” é obrigatório, viciante e decididamente um presente dos deuses.

Alinhamento:

01 Gustavo
02 I Watched The Film The Song Remains The Same
03 I Love My Dad
04 Dogs
05 Micheline
06 Richard Ramirez Died Today Of Natural Causes
07 Alesund
08 Hey You Bastards I'm Still Here
09 Sunshine In Chicago
10 Carissa
11 Caroline
12 Ceiling Gazing
13Tavoris Cloud
14 Elaine

Classificação do Palco: 9/10

In Palco Principal

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

“A Sombra da Rota da Seda”
de Colin Thubron



Revisitar a história é um dos mais fascinantes exercícios que o Homem pode almejar. Na impossibilidade de poder fazer um regresso ao passado através de um instrumento (irreal) como uma “máquina do tempo”, resta recriar acontecimentos, períodos… ou rotas comerciais.

E é essa última abordagem que Colin Thubron faz em “A Sombra da Rota da Seda” (Bertrand Editora, 2014), transformando este maravilhoso livro de viagens em uma obra repleta de emoção, pertinência e acutilância.

O autor, que faz parte de uma lista elaborada pelo jornal The Times que engloba os 50 maiores escritores britânicos do pós-guerra e preside a Royal Society of Literature, conta com livros traduzidos em mais de duas dezenas de línguas, cujo conteúdo o levou a percorrer o Médio Oriente, nomeadamente países como a Síria, Líbano ou Chipre.

Em “A sombra da Rota da Seda”, Thubron inicia a sua demanda em Xian, antiga capital da China, de forma a percorrer os milhares de quilómetros que compunham a antiga Rota da Seda, vivendo uma experiência que mistura conhecimento histórico com pertinentes e muito interessantes notas sobre a vida contemporânea. A viagem é feita de autocarro, avião, a pé, em carroças com tração quadrúpede, de comboio ou jipe.

Desde o coração da China, Colin segue o trilho da primeira grande rota comercial e atravessa as montanhas da Ásia Central, as planícies do Irão e penetra em território turco. Pelo caminho ficam experiências ímpares e irrepetíveis, que tornam os mais de 4500 quilómetros percorridos numa das maiores aventuras levadas a cabo pelo homem “moderno”.

A narrativa é absolutamente maravilhosa e a escrita de Thubron leva o leitor a sentir as agruras e delícias da viagem de forma única. Tal como é seu apanágio, Colin mistura erudição com sensibilidade, bom gosto com assertividade, passado com presente e laivos de futuro.

A facilidade e capacidade com que Thubron fala mandarim ou russo permitiu recolher informações preciosas ao longo de um percurso que cresce à medida da presença dos seus intervenientes. Apenas assim é possível sentir a miscigenação interpessoal e intercultural que é intrínseca às tribos e nações que integram as várias fronteiras políticas percorridas pelo britânico.

Em alguns locais da China Ocidental, por exemplo, o nosso narrador tenta entender um território habitado há muito por tibetanos, uigures e outros povos que encaram a presença chinesa de forma quase dilacerante e “incógnita”. Os fenómenos migratórios são outro dos temas observados e debatidos neste livro, que também faz um pertinente perfil de alguns espaços, outrora quase virgens, que estão a ser invadidos pelo cinzentismo do betão e pela industrialização sem alma.

Colin Thubron consegue relembrar a Rota da Seda como um trajeto bipolar e com vários sentidos, ou seja, como o resultado de um nervosíssimo sistema com dois polos distintos: a China e o Mediterrâneo.

Este percurso, que existiu durante cerca de três milénios, era feito em territórios que hoje são extremamente perigosos e votados ao isolamento. Thubron percorreu muitas vezes os caminhos sozinho, pois nenhum guia local ousou pisar tais campos “minados”, enfrentando graves problemas de saúde e tendo mesmo ficado de quarentena devido a insuficiências que derivaram da síndrome respiratória – também conhecida por SARS.

Ultrapassando problemas vários e com uma persistência heroica, Colin Thubron consegue tornar esta viagem numa maravilhosa experiência que toca o leitor de uma forma absolutamente emocionante, onde a geografia, a cultura e a política são ingredientes essenciais para a elaboração de um prato com sabor a mundo.

In deusmelivro

“Morte numa Noite de Verão”
de K. O. Dahl

Um “clássico” vindo do Norte



Ainda que não estejamos perante um livro novo – a edição norueguesa deste título data de 2000 – “Morte numa Noite de Verão” (Porto Editora, 2014) traz, finalmente, ao mercado editorial português, K. O. Dahl, um dos mais respeitados autores de policiais oriundos das prolíferas paisagens nórdicas.

Com um início de carreira que nos remete para os primeiros anos da década de 1990, seria com “Morte numa Noite de Verão” que Dahl arrecadaria o galardão do Melhor Policial Norueguês do Ano e seria também nomeado para o Brage Literary Award, assim como para o Glass Key Award e o Martin Beck Award.

Ainda que sem edição nacional, Dahl é dono de vários títulos interessantes com destaque para as aventuras do detetive Frolich que em “Morte numa Noite de Verão” tem como companheiro o solitário Gunnarstranda, um personagem fruto de muitas influências noir de autores como Dashiell Hammett ou Raymond Chandler, que combate a solidão através de monólogos com Kalfatrus, um peixe de aquário, mas que não renega o exílio da sua cabana no seio da floresta junto de Oslo.

A trama de “Morte numa Noite de Verão” remete-nos para Katrine Bratterud, uma bela e sedutora jovem que está perto de conseguir o pleno da sua reabilitação face às drogas. De forma a comemorar tal feito, Katrine e o seu namorado Ole, são convidados de Annabeth e Bjorn, o casal que dirige o centro de reabilitação, para uma festa privada em casa desses.

A noite vai longa mas Katrine não se sente bem e abandona o local, sozinha. Na ressaca, a jovem procura um ombro amigo e quando procura refrescar-se junto de um lago, depois de momentos de luxúria, é vítima de uma morte brutal que leva a uma série de interrogações e dúvidas sobre o seu passado longínquo e recente.

O caso traz à ação a dupla de inspetores Frolich e Gunnarstranda, dois experientes agentes policiais que refutam coincidências e afastam do cenário da morte de Katrine uma questão relativa à falta de sorte.

A investigação leva Frolich e Gunnarstranda a difíceis puzzles pessoais e de uma densidade assinalável que estão para além das ligações de Katrine a redes de prostituição e droga. Os suspeitos crescem a cada página. Ninguém está a salvo e a violência do assassino apenas encontra paralelo na intensidade com que Folich e Gunnarstranda se embrenham num caso que os leva a uma viagem que atravessa gerações.

As páginas fluem com uma cadência quase “teatral” onde cada capítulo pode ser entendido como um “ato” cuja sumula vai ao encontro da globalidade de um romance dividido em três partes. O enredo é satisfatoriamente intrincado e resulta numa amálgama de desilusão, problemas que derivam da adição a drogas e questões sociais diversas.

Dahl, serve-nos um romance cativante e sólido onde a música e a literatura são referências (Tom Waits, Mozart e Arundhati Roy são algumas referências) mas os principais ingredientes são uma típica poesia nórdica e um élan emocional que está intrinsecamente associado aos metidos da investigação policial.

Para além disso, Folich e Gunnarstranda transpõem para a ação a complexidade das suas relações pessoais que juntamente com o mistério do assassinato em si mesmo tornam o livro numa peça mais una e interessante. Outra das particularidades da escrita de Dahl é a forma como nos apresenta Oslo, como dá a conhecer facetas “turísticas” da cidade, algo que é uma das mais interessantes imagens de marca dos títulos entendidos como policiais nórdicos.

Ainda que, em 2014, “Morte numa Noite de Verão” não seja uma “lança em África” no que toca aos romances policiais oriundos do norte da Europa, não deixa de ser um livro obrigatório para os amantes do género.

In Rua de Baixo

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Rentreé Grupo BertrandCírculo



Até ao final de 2014 o Grupo BertrandCírculo vai fazer chegar às livrarias mais de cinco dezenas de livros que, por certo, vão fazer as delícias dos leitores das mais variadas temáticas e abordagens.

Ao longo de quase hora e meia de apresentação – e boa disposição -, Francisco José Viegas, Eduardo Boavida e Guilhermina Gomes abriram literalmente o livro e deram a conhecer novidades sobre autores como José Luís Peixoto, Thomas Piketty, Mário Soares, José Viale Moutinho, Daniel Silva, José Rentes de Carvalho ou Sérgio Godinho, que se aventura pela primeira vez no campo da ficção.

A mostra começou com Francisco José Viegas e ficámos a saber que já este mês a Quetzal Editores vai lançar, no campo da literatura e ficção, “Montedor”, o primeiro romance de J. Rentes de Carvalho, “Mustang Branco” de Filipa Martins e o muito esperado “Herzog” de Saul Bellow, uma obra de tom autobiográfico que foi editado pela primeira vez há cinco décadas. No universo da ciência política, “Da Europa de Schumann à Não Europa de Merkel”, do açoriano Eduardo Paz Ferreira, faz um retrato da evolução da Europa das uniões e espírito comunitário.

Para outubro Viegas destacou mais quatro obras, sendo uma delas “Galveias”, a nova aposta literária de José Luís Peixoto. “Vida Dupla” marcará a estreia de Sérgio Godinho na ficção, enquanto “A Mística de Putin”, de Anna Aruntunyan, traça um perfil sem filtro de um dos mais polémicos líderes da atualidade. Também dentro do espetro político, o ex-jornalista Ricardo Saavedra oferece “O Puto”, um livro que levou cerca de três décadas a ser devidamente preparado e que resultou de um inesperado pedido de entrevista por parte do mítico Comandante Paulo a Saavedra.

“O Rei Pálido”, romance inacabado em forma de testemunho emocional de David Foster Wallace, marca a atividade editorial da Quetzal em novembro, que lançará também “Biografia de Marcello Caetano”, título de Luís Menezes Leitão que revelará várias facetas pouco exploradas de uma das mais controversas figuras da história recente de Portugal.

No que toca as chancelas da Bertrand Editora, Eduardo Boavida tem muitas e boas propostas. Este mês vão chegar às livrarias, por exemplo, “O Filho” de Philipp Meyer, um épico que faz uma tangente à história dos Estados Unidos da América e que sucede ao sucesso internacional que foi “Ferrugem Americana”, “Vibração” de Anders de la Motte e “Os Luminares”, um romance de quase novecentas páginas de Eleanor Catton, vencedora do Man Booker Prize de 2013. Em termos da não ficção, o destaque vai para “O Demónio na Cidade Branca”, de Erik Larson, “Como Sentimos” do neurocientista Giovanni Frazzetto, assim como “As Mulheres Contra a Ditadura”, de Cecília Honório. A literatura juvenil está bem representada com “Todos por um Risquinho”, de Alexandre Honrado, livro vencedor do Prémio Cidade de Almada /Maria Rosa Colaço 2013 e que conta com ilustrações de Joana Rita.

Outubro vai fazer chegar “Nigelissima”, com Nigella Lawson a ditar mais de uma centena de receitas simples e rápidas que nasceram da experiência da autora em Florença, assim como “A Retirada dos Dez Mil”, de Aquilino Ribeiro, que resulta da tradução da obra de Xerofonte que tem como epicentro a epopeia dos gregos por terras da Pérsia. Mário de Carvalho é o autor do prefácio. “Sycamore Row”, de John Grisham, fecha o mês de outubro por parte da Bertrand.

No que toca a novembro, esperam-se obras como “Agridoce”, de Collin McCullough, “Dispara que Eu já Estou Morto”, de Julia Navarro, ou “22/11/63”, do mestre Stephen King. Daniel Silva é outras das estrelas deste mês e “O Assalto” resulta de um enorme esforço por parte da Bertrand, pois este título chega com apenas quatro meses de “atraso” face ao lançamento mundial, uma clara vitória do grupo por forma a criar cada vez mais íntima a ligação entre o leitor português e o escritor norte-americano.

No que toca a edições da Pergaminho, Eduardo Boavida destacou a toada mais espiritual de “O Voo do Pássaro”, de Osho, assim como a poesia e meditação de “Bolota“, de Yoko Ono, e a emoção de “Um Milhão de Cartas com Amor”, de Jodi Ann Bickley. Todos estes títulos chegam ao público já este mês. Através da Arte Plural as livrarias vão contar com “Petiscos de Ramsay” e “In the Mix”, um livro com receitas para a Bimby que conta com contributos de chefes internacionais com estrelas Michellin, entre os quais o português Sá Pessoa.

Finalmente Guilhermina Gomes, felicíssima e orgulhosa com os vinte anos da Temas e Debates, apresentou alguns dos seus mais queridos “afectos”. Depois de falar da publicação dos últimos três tomos da Obra Completa de Padre António Vieira, destacou “A Insurreição de Jesus”, de Frei Bento Domingues, que vai ver a luz do dia já em setembro, que será também o mês de lançamento de “A Tragédia da União Europeia”, de George Soros, e “Arte na Cidade”, de Mário Caeiro.

Em outubro são editados “O Capital no século XXI”, do economista Thomas Piketty – obra apelidada como a melhor da atualidade no que toca ao espetro da economia -, assim como “A República dos Sonhos”, da brasileira Nelida Piñon, bem como o polémico “Bom dia, Sr. Mandela”, de Zelda de la Grange, que trabalhou como assistente de um dos mais emblemáticos africanos da história da humanidade.

Mário Soares é um dos grandes nomes do catálogo da Temas e Debates em novembro: “Cartas e Intervenções Políticas do Exílio” apresenta textos do carismático líder do PS escritos antes de 1974. “O Passageiro Clandestino”, um ensaio de Leonor Xavier, é outro dos destaques. Outro motivo de orgulho foi o anúncio de uma nova coleção dedicada à literatura tradicional portuguesa, a ser editada pelo Círculo de Leitores da autoria de José Viale Moutinho.

In deusmelivro

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Rentrée literária Orfeu Negro



Até ao final do ano, a Orfeu Negro conta apresentar algumas surpresas que vão da literatura de toada erótica ao ensaio, passando pelo universo infantil.

Para os mais crescidos, “Obscénica – Textos Eróticos & Grotescos”, integrado na Colecção Casimiro, é um livro composto por palavras e ilustrações da autoria de Hilda Hilst – um dos nomes maiores da literatura oriunda do Brasil – e André da Loba, respetivamente, e será lançado em novembro.

No campo do ensaio, “Preto – História de uma Cor”, da autoria de Michel Pastoureau, é outra das apostas da Orfeu Negro e será editado já em setembro. Esta obra comprova a mestria de Pastoreau no que toca à simbólica das cores e terá apresentação oficial no Institut Français du Portugal. E, já que falamos do universo francófono, “Os Filmes da minha Vida”, de François Truffaut, obra que compila mais de uma centena de artigos da autoria do cineasta francês escritos para o consagrado Cahiers du Cinéma.Amantes do cinema estejam assim atentos ao mês de novembro.

No que toca ao catálogo Colecção Mini-Orfeu, “Arte & Max”, de David Wieser, chega aos escaparates em setembro. Depois de arrecadar por três vezes a Caldecott Medal – galardão atribuído anualmente pela norte-americana Association for Library Service to Children aos ilustradores infantis -, Wieser apresenta um livro original que versa sobre a criação artística em si mesma.

Em outubro a editora vai colocar no mercado mais duas obras: “O Escuro” – vencedor do Melhor Livro Ilustrado 2013, galardão atribuído pelo New York Times –, uma história de suspense sobre o medo do escuro, com texto de Lemony Snicket e ilustrações de Jon Klassen, assim como “A Minha Professora é um Monstro!”, de Peter Brown, um livro que traça o perfil (divertido) da professora de Fred, que grita muito e não deixa ir ao recreio quem atira aviões de papel da sala de aula.

Também dedicado ao público mais pequeno – e não só , “Mãos à obra: Cada Casa a seu Dono”, de Didier Cornille, vai chegar às livrarias em novembro, explicando à criançada a arquitetura contemporânea.

In deusmelivro

Rentrée literária 20|20 editora



Com setembro à porta, as editoras preparam a rentrée editorial com muitas e boas surpresas. Com um perfil cada vez mais cimentado no mercado português, a 20|20 editora celebra o seu quinto aniversário com a certeza de se assumir como uma das seis mais representativas editoras nacionais, e nada melhor para celebrar essas conquistas que mais livros e uma nova chancela.

Assim, ainda em agosto, chega aos escaparates via Topseller o thriller “Não Digas Nada” de Mary Kubica, assim como “Ama-me”, tomo número três da premiada série de J. Kenner que conquistou o Prémio Melhor Romance Erótico de 2014 e “Um Caso Perdido”, um romance de Collen Hover, uma das mais representativas autoras com selo New York Times.

Para os mais novos a Booksmile oferece pela primeira vez uma agenda especialíssima para os inúmeros fãs da série “O Diário de um Banana”. Um utensílio essencial para o ano escolar que se aproxima.
Em setembro, os amantes de policiais com inspiração no eterno Sherlock Holmes vão ter como prenda “A Mulher Má”, obra de Marc Pastor, uma das mais jovens vozes da literatura espanhola que leva o leitor até à Barcelona do início do século passado. O romance histórico também está em destaque neste mês e “O Segredo dos Tudor” de C.W. Gortner é uma obra a descobrir. Por sua vez, Taylor Stevens traz-nos mais uma aventura de Vanessa Michael Monroe em “Os Inocentes”.

Os autores nacionais têm um cantinho muito especial na 20|20 e, através da Vogais, a editora vai lançar “Mourinho Rockstar: As Duas Faces do Treinador Mais Polémico do Mundo”, de Luís Aguilar, “ABC da Poupança”, de Ana Rosa Bravo, “Dieta Anti-Cancro”, de Magda Roma, e “Um Homem Também Chora”, de Mónica Menezes. Universos literários diferentes, interesse comum.

Já em outubro chega mais um excitante livro do aclamado James Patterson: “I, Alex Cross” será a terceira obra de uma das mais procuradas séries policiais dos últimos tempos. Mas não é tudo no que toca aos policiais. Janet Evanovich regressa com “A perseguição”, nova aventura de Kate O’Hare. Para quem gosta de thrillers de intensidade desmedida, “Fraturado” de Karin Slaughter traz às livrarias o segundo livro da série Will Trent.

Da ficção para o espetro biográfico, Paul Webster apresenta “Antoine de Saint Exupéry: Vida e Morte do Principezinho”, via Vogais. “Crazy Phill”, de Philip Leonetti, é outra das novidades e relata, na primeira pessoa, a intimidade do quotidiano da família mais violenta da história da América. Para os amantes da Cosa Nostra recomendamos também “O Príncipe da Máfia”. E como a arte de poupar é cada vez mais uma filosofia, “Kakebo” será alvo de atualização para 2015.

Em novembro, a Topseller apresenta “Quando a Neve Cai”, obra saída da pena de John Green, Lauren Myracle e Maureen Johnson, que reúne três histórias onde o amor é figura central. E, com a natal à porta, a Booksmile não podia deixar de editar “O Diário de um Banana 9”. Também a pensar na gente mais pequena Janey Louise Jones apresentará dois títulos incluidos na coleção “Princesa Poppy”. Para os adultos a Vogais tem também uma grande surpresa: a biografia do Papa Francisco da autoria do jornalista britânico Austin Ivereigh será um livro a não perder.

Outra das grandes novidades da 20|20 vai ser o nascimento de uma nova chancela para 2015, que reunirá 15 títulos divididos entre autores estrangeiros e nacionais. Ainda com o nome da chancela no segredo dos deuses, o Deus Me Livro já sabe que o primeiro autor a ser publicado será o Prémio Nobel Pearl S. Buck, através de “A Eterna Demanda”, um inédito que esteve “perdido” durante cerca de quatro décadas e que vai chegar às livrarias em fevereiro do próximo ano.

In Deusmelivro