quinta-feira, 7 de março de 2013

How to Destroy Angels - “Welcome Oblivion”

Veludo digital




Depois de dois EP’s e alguma ansiedade por parte dos fãs de sempre do mago do industrial Trent Reznor, alma e mentor dos icónicos Nine Inch Nails, eis que chega “Welcome Oblivion” o primeiro longa duração da banda.

Se, em 2010, o EP homónimo dos How to Destroy Angels apanhou de surpresa meio mundo, “An Omen EP_”, lançado em novembro do ano passado, já deixava antever que a banda de Trent Reznor, Mariqueen Maading, Atticus Ross e Rob Sheridan estaria bem próxima de editar algo em grande.

A grande atividade dos Nine Inch Nails, que lançaram nos últimos tempos “Year Zero” e os vários “Ghosts”, foi outro entrave à maior dedicação de Trent Reznor aos seus novos companheiros. Mas os How to Destroy Angels são mais que um “outro” projeto para um Reznor, que já viu reconhecido o seu talento enquanto músico ao ganhar prémios como Globos de Ouro, Grammys e um Óscar.

Ao ouvir tanto os EP´s como o álbum (constituído também pelas músicas que já constavam nos dois referenciados registos) notamos que Reznor tenta afastar-se no universo mais trashy dos Nine Inch Nails e aposta num som mais intimista, ainda que sejam os ambientes eletrónicos que mais se façam sentir. Mas, desta vez, a orgânica do som faz-se em conjunto com algumas pitadas mais acústicas.

Outra das grandes mudanças face ao trabalho com os Nine Inch Nails é o afastamento da voz de Reznor, que dá lugar à melancolia que emana da versatilidade e excelência vocal de Mariqueen Maading, sua esposa. Ao longo das 13 canções que compõem “Welcome Oblivion”, Maading assume-se como o fio condutor de uma música assente em batidas digitais que brotam de sintetizadores cientes em relegar para «segundo plano» guitarras, baixo e bateria.

O registo sussurrado de Maading, por vezes acompanhado pela voz fantasma de Reznor, resulta muito bem para o ambiente geral do som da banda, que atinge com frequência momentos de grande beleza melódica, contrastando com a frieza das batidas digitais. Aqui, mais do que cantar, Trent Reznor aposta na criatividade e rejeita o protagonismo conferido pelo microfone.

A faixa que abre o disco, “The Wake Up”, serve como um despertador para a nossa alma e ouvidos e é um bom exemplo do que os How To Destroy Angels podem e quem ser. Em menos de dois minutos, começamos com o ambiente «atrofiado» nos Nine Inch Nails para nos afastarmos gradualmente do mesmo, principalmente ao sentir a voz sensual de Mariqueen, que tenta sobrepor-se às batidas sintéticas e ondulantes repletas de efeitos maquinais.

“Keep it Together” continua a fazer essa ponte e os assombros da voz de Reznor cortam com a doçura de Mariqueen, conferindo unidade à musicalidade de um ambiente que procura um certo estatuto niilista de ser. Exemplo disso é também “And the Sky Began to Scream”, que se assume com um dos registos mais maquinais de todo o disco. O espírito industrial está bem patente, apesar de não serem necessários registos vocais mais agressivos, provando que o grito não é, de todo, mais lancinante que uma muralha sonora compacta e um duo vocal que nos leva a pontos de saturação.

Outro dos grandes pontos de interesse neste disco é o seu caráter eclético. Não podemos considerar “Welcome Oblivion” como um conjunto de músicas em si mesmas, mas sim enquanto um todo, sendo essa uma das características que torna este disco numa peça tão fluida.

Se, em alguns casos, é a complexidade da construção da canção e das várias camadas e efeitos que a compõem que a tornam excitante, noutros é a sua simplicidade que a torna brilhante. Exemplos desses dois universos paralelos são a faixa título, em “oposição” a “Ice Age”, um dos momentos mais atraentes e diferentes do disco, onde a eletrónica dá lugar a contornos “folk” que a voz maravilhosa de Maading eleva ainda mais.

Por sua vez, “On The Wing” faz-nos regressar ao universo puro e duro da eletrónica, ainda que com uma carga ambiental assinalável. A voz robótica de Reznor, acompanhada pela filigrana dos ecos de Mariqueen, confere ao som uma tonalidade escura, onde as batidas industriais são, aqui e ali, embelezadas com uns acordes de piano. Por momentos, somos levados numa viagem até aos fragmentos mais frágeis dos Nine Inch Nails.

“Too Late, All gone” é outro exemplo do bom acasalamento vocal entre o casal Trent e Mariqueen. “The morning change / everything stays the same”, canta-se por aqui, e as batidas percorrem o corpo de quem as ouve. A bateria deixa-se ouvir, algo tímida, mas confere corpo à música, entregue quase exclusivamente a bits e bytes.

Um dos cartões de visita deste disco é “How Long”, o primeiro single a ser retirado de “Welcome Oblivion”. Ao ouvi-lo, percebemos a sua escolha. Com um ritmo viciante e sincopado e uma voz hipnótica a roçar o gospel, “How Long” cativa às primeiras audições. Brilhante é também a linha de baixo que acompanha a trilha sonora desta faixa condenada ao sucesso e a ser um, talvez, um hit radiofónico.

Logo a seguir, “Strings and Attractors” volta a lembrar fantasmas da banda de sempre de Trent Reznor e “We Fade Away” tem um corpo minimal apenas contrariado pelas pinceladas de um piano trágico. É, mais uma vez, o sentimento de claustrofobia que ganha corpo.

Se até este ponto do disco a(s) voz(es) assumia-se preponderante, as últimas três faixas deixam-se levar pelo carácter mais instrumental, assente em batidas mid-tempo.

“Recursive self-improvement” atira-nos para ambientes electrónicos da década de 1980, com os teclados a assumirem papel de destaque, e “The Loop Closes” é um exercício minimal onde o puzzle musical se completa através de várias camadas sonoras, assim como com a voz de Reznor na sua parte final. É a “Hallowed Ground” que cabe a tarefa de terminar o disco e o ciclo é fechado por cerca de sete minutos de um piano dolente, laivos espaçados de eletrónica fugaz e uma voz omnipresente entregue a um espírito desolado.

Em jeito de resumo, podemos afirmar que estamos perante um excelente disco, que marca, ainda que tal possa não ser o objectivo principal, um distanciamento em relação ao som dos outros projetos de Trent Reznor.

Com “Welcome Oblivion” nasce um novo conceito musical e, como tal, em alguns momentos, é preciso entregar espaço à música e dar-lhe várias oportunidades, pois uma primeira audição pode tornar-se insuficiente para tirar o melhor partido das composições dos How to Destroy Angels, que observam vários graus de intensidade e construção.

As peças musicais aqui reveladas são díspares, coesas e a natureza experimental das mesmas são a génese da sua personalidade. Repleto de momentos brilhantes, resultantes de um som pós-apocalítico, este álbum pode agradar aos fãs de sempre de Trent Reznor, bem como a quem nunca orbitou no planeta do vocalista dos Nine Inch Nails.

Alinhamento:

01.The wake-up
02.Keep it Together
03.And the Sky Became to Scream
04.Welcome Oblivion
05.Ice Age
06.On the Wing 07.Too Late, All Gone
08.How Long?
09.Strings and Attractors
10.We Fade Away
11.Recursive self-improvement
12.The Loop Closes
13.Hallowed Ground

Classificação do Palco: 8/10

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