terça-feira, 22 de outubro de 2013

Korn
“The Paradigm Shift”

Regresso ao passado



Nomes maiores do apelidado nu metal - movimento nascido na década de 1990 que fundia sonoridades normalmente associadas ao heavy/trash metal com ambientes hip-hop e alternativos -, os Korn contam já com uma carreira de duas décadas, e o seu primeiro registo em forma de EP, “Neidermayer’s Mind”, é hoje um dos documentos mais importantes da génese de um género que, em determinada fase, ousou invadir o mainstream.

De certa forma “herdeiros” do legado grunge e de um certo ocaso do metal, a banda de Jonathan Davis construiu um considerável culto, muito graças a álbuns como “Life is Peachy”, “Follow the Leader” e “Issues”, dos quais se retiraram hinos de uma geração como o são canções como “A.D.I.D.A.S.”, “Got the Life”, “Freak on a Leash” ou “Make me Bad”, que teve honras de contar com a participação do líder dos The Cure, Robert Smith, na sua versão unplugged.

A entrada dos anos 2000 foi sinónimo de uma “crise” criativa por parte dos Korn que, ainda assim, tiveram em discos como “Untouchables” algo da chama daquilo que a banda californiana construiu nos primeiros anos de vida. A saída de membros influentes como o guitarrista Brain “Head” Welch também provocou alguma instabilidade. E, coincidentemente ou não, o regresso de “Head” aos Korn para a elaboração do novo “The Paradigm Shift” faz regressar a banda aos grandes discos. Utilizando alguns dos ingredientes que tão bons resultados surtiram em outras edições, os Korn fazem do seu mais novo álbum um dos melhores discos da carreira.

Naquele que é o seu décimo primeiro álbum de estúdio, Davis, “Head” e restantes comparsas apostam num registo que junta sonoridades épicas, pinceladas eletrónicas e muita melancolia. Ainda que não tenham muito a provar, aos Korn «pedia-se» algo que pudesse afastar para longe a inércia dos últimos registos e “The Paradigm Shift” converge nesse sentido.

Na procura da redenção, Jonathan Davis aproveita a primeira música de “The Paradigm Shift”, “Prey for Me”, e lança um “…Prey for me, I think I owe you an apology…”. As guitarras estão afiadas como nunca e Shaffer e Welch servem de ponte para a intervenção hipnótica de Davis. Para reforçar o clima opressivo, bateria e baixo apontam ao motim sonoro. Os Korn estão vivos e metálicos q.b..

Os primeiros acordes de baixo de “Love and Meth” são outro exemplo da excelência musical agri-doce dos clássicos Korn, que apostam na oscilação vocal de Davis e no sublinhado das cordas elétricas, que libertam riff’s de grande potência e que, em momentos do disco como “What We Do”, são sinónimo de um potente groove em que a sua base leva a territórios definitivamente metálicos. A juntar ao acerto musical, a presença da voz de Jonathan Davis confere o efeito montanha-russa tão do agrado dos Korn.

Em “Spike in my Viens”, por exemplo, a estrutura altera-se, mas a eficiência mantém-se. O registo, embora tenso, caminha em águas mais “calmas” e há espaço para sonoridades eletrónicas e sampladas. Rapidamente o estilo mais “convencional” dos Korn regressa em temas como “Mass Hysteria” e “Paranoid and Aroused”.

“Never Never”, o primeiro single de “The Paradigm Shift”, é talvez o exercício mais eletrónico deste novo trabalho, e as promessas de não repetir erros apaixonados surgem envoltas de uma barreira sonora forte e bastante “orelhuda”, que tem na polida manipulação o seu trunfo maior.

Voltando a territórios que misturam sentimentos abrasivos e harmonias várias, “Punishment Time” e “Lullaby for a Sadist” revelam-se dois exercícios onde a voz tem espaço para brilhar, deixando de lado um perfil mais gritado. As guitarras descem um pouco na escala da agressividade e são as palavras que assumem a responsabilidade maior de carpir a atmosfera.

Perto do final do álbum, “Victimized” volta a trazer a eletrónica que, na companhia dos potentes riff’s, faz aumentar a tensão, que atinge o seu clímax na derradeira faixa do disco e que torna “It’s All Wrong” no epílogo prefeito de um disco muito interessante.

Tomando como ponto de partida o próprio título do álbum, não sabemos se os Korn reviram os seus paradigmas, mas o que este melódico “The Paradigm Shift” nos traz é uma coleção de grandes músicas que voltam a agradar, por certo, os fãs mais céticos da banda. A crise criativa parece ter desaparecido e o regresso do “Head” resultou em pleno.

Alinhamento:

01.Prey For Me
02.Love & Meth
03.What we do
04.Spike in my Veins
05.Mass Hysteria
06.Paranoid and Aroused
07.Never Never
08.Punishment Time
09.Lullaby for a Saddist
10.Victimized
11.It´s All Wrong

Classificação Palco: 8/10

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