quarta-feira, 16 de outubro de 2013

“Adeus, por enquanto”
de Laurie Frankel

O amor, na terceira pessoa



Ao segundo livro, a norte-americana Laurie Frankel consegue surpreender com um romance inovador que tem, como principal premissa, a reflexão sobre a natureza da própria existência, tocando em sentimentos como a perda e a morte. No meio de um turbilhão de acontecimentos, a escrita escorreita de Frankel eleva o amor ao expoente da sua essência que, com o auxílio de uma ferramenta informática, se revela o sentimento mais arrebatador entre dois seres que se completam – ou na junção de diferentes dimensões.

Numa época em que a tecnologia se afirma como um elemento incondicional à vida, Sam Elling, um dedicado informático que trabalha numa agência de encontros, cria um algoritmo que tem como maior objetivo permitir encontrar a alma gémea. Esta revolucionária técnica faz com que Sam consiga guiar o seu coração até Meredith, sua colega de trabalho, mas enquanto o amor se torna a sua razão de viver sofre o forte revés de perder o emprego. Mas os infortúnios não ficam por aqui: Livive, avó de Meredith, morre de forma algo inesperada e a tristeza e a dor ocupam grande parte da alma da namorada de Sam, que deixa o vazio da perda apoderar-se de si.

De forma a tentar combater a tristeza de Meredith, Sam investe o tempo livre que o desemprego lhe confere e aposta num novo programa informático. Da investigação resulta um algoritmo que gera uma simulação online de Levive, tendo como ponto de partida o registo do seu correio eletrónico e o perfil do Facebook.

Surpreendentemente, Levive volta “à vida” em formato virtual e Meredith volta a apaixonar-se pela presença do espetro da sua avó e mata saudades via internet. A invenção de Sam é, mais uma vez, genial, e para o casal esta deve ser partilhada com todos. Dessa ideia nasce a “RePousa”, uma empresa que permite a comunicação – virtual claro – com entes queridos, entretanto falecidos.

Inebriados com as múltiplas funcionalidades do algoritmo, algumas pessoas fazem destes reencontros a sua vida, servindo para mais do que uma última despedida: o adeus torna-se uma palavra, de novo, a evitar.
Utilizando um misto de linguagem mais técnica e a paixão de uma escrita leve e direta ao coração, Laurie Frankel consegue, com este “Adeus, Por Enquanto” (Bertrand Editora, 2013), um romance mordaz, escrito na terceira pessoa, repleto de humor e revestido por uma narrativa competente que consegue ser um misto de racionalidade e emoção, de sensibilidade e magia.

De forma simples e assertiva, Frankel leva o leitor a refletir sobre questões como a perda de um ente querido, a superação da mesma e a importância que a tecnologia tem nos nossos dias, época em que os extremismos da utilização online podem ser sinónimo de perda de identidade e cidadania e onde a verdade passa a ser aquilo que um computador debita em detrimento da vida real, sem bits, bytes ou passwords encriptadas.

In Rua de Baixo

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