quarta-feira, 24 de abril de 2013

Yeah Yeah Yeahs
“Mosquito”

Carrocel de emoções




Apesar de não terem uma atividade editorial muito prolífera, os nova-iorquinos Yeah Yeah Yeahs estão juntos desde 2000 e lançaram, desde então, quatro álbuns, sendo “Mosquito” o seu mais recente trabalho.

Trio constituído pela carismática vocalista Karen O e pelos multi-instrumentalistas Brain Chase e Nick Zinner, os Yeah Yeah Yeahs vagueiam entre o rock e o punk, e têm na energia uma das suas maiores características enquanto músicos.

O seu álbum de estreia, “Fever to Tell” (2003), conseguiu reunir consenso na crítica e o disco vendeu perto de 800 mil exemplares um pouco por todo o globo. Faixas como “Y Control” e, especialmente, “Maps” valeram aos Yeah Yeah Yeahs bastante airplay em algumas das mais consagradas rádios indie do mundo.

Em 2006 surgiria outro disco na discografia da banda, mas “Show Your Bones” não criou o mesmo frenesim que o disco de estreia. Contudo, “It’s Blitz”, o brilhante registo de 2009, voltou a revelar uns Yeah Yeah Yeahs mais inspirados e singles como “Zero”, “Skeletons” ou “Heads Will Roll” levaram publicações com a "Spin" e o "New Musical Express" a colocar o álbum na lista dos melhores do ano.

Depois de nova e, dizemos nós, prolongada pausa, chega-nos “Mosquito”, um disco que pode indicar uma mudança na atitude da banda e que revela uma maior abertura sonora. Para além do louro platinado que Karen O ostenta na sua base capilar, os Yeah Yeah Yeahs estão diferentes. Se essa mudança é benéfica para a sua música, (ainda) não sabemos, mas existem novos dados na composição do trio norte-americano.

De acordo com declarações dos elementos da banda, este novo trabalho foi feito à imagem do que tinha acontecido com “Fever to Tell”, com as demos a serem gravadas à medida que a vontade e inspiração eram sentidas. A pressa, dizem os Yeah Yeah Yeahs, é inimiga da perfeição...

As já referidas mudanças na filosofia musical da banda sentem-se logo na primeira faixa de “Mosquito”. “Sacrilege” começa de forma tranquila com a voz de Karen O a oscilar entre a ternura e a distorção.

Assente numa base de drumbeat dançável, “Sacrilege” cresce a cada segundo e os feedbacks misturam-se com pormenores oriundos dos sintetizadores. Surpreendentemente, ou não, perto do final somos formalmente convidados a entrar num ambiente gospel que resulta na perfeição. Um começo arrebatador.

Logo a seguir, ”Subway” surge numa toada calma, sensual, mas segura. O falsete subtil de Karen O é outra das boas surpresas de “Mosquito” e apaixona os ouvidos dos mais empedernidos. O calor sobe com as notas libertadas pelo baixo e com os acordes suaves de uma guitarra que faz lembrar alguns momentos dolentes dos The XX. Muito bom!

Mas convém agitar as águas. A música que dá nome ao álbum tem uma batida rock, onde a linha de baixo recorda as galinhas psicóticas dos Talking Heads. Por entre zumbidos e picadelas, “Mosquito” é uma delícia para os ouvidos. Por sua vez, “Under The Earth” abandona o lado mais visceral dos Yeah Yeah Yeahs e aponta a universos mais reggae e escuros. O falsete regressa às cordas vocais de Karen O, que acompanha na perfeição a miscelânea sonora que é “Under The Earth”. De forma claustrofóbica canta-se: “Down down under the earth, goes another lover”.

“Slave” volta a trazer ambientes mais dançáveis onde a guitarra de Nick Zinner é o fio condutor da composição bem secundada pela batida firme da bateria de Brain Chase. A voz de Karen O aproxima-se do registo doce e gótico de Siouxsie Sioux e sente-se um espaço oprimido por uma sujeição emocional.

O carrocel emocional de “Mosquito” tem novo capítulo com a minimal “The Paths”, um exercício downbeat com toadas trip-hop, onde baixo e sintetizadores percorrem os quase cinco minutos da faixa. Mais uma vez, Karen O opta pelo falsete com resultados muito satisfatórios.

Mas eis que, ao chegar a “Area 52”, a confusão instala-se naquela que é a faixa mais esquizoide de “Mosquito”. O tema, espacial, faz Karen O reclamar por uma abdução alienígena (“I want to be your passenger / Take me as your prisioner / I want to be na alien / Take me please, oh alien”) e o território punk é profanado de forma abrupta.

De regresso à Terra, “Buried Alive”, uma parceria musical com Dr. Octagon, faz lembrar “Spite and Malice” dos Placebo e mistura o rock com o hip-hop. O resultado é uma amálgama de gosto discutível. Os riffs de guitarra acrescentam profundidade, mas parece que, a par de “Area 52”, estas duas faixas são as menos conseguidas de todo o álbum.

“Always” recupera momentos mais introspetivos e ambientais, que se tornam mais rock e depressivos em “Despair”, uma ode a uma eventual tristeza omnipresente que assola o coração e alma de Karen O. A canção ganha intencionalidade e garra com o passar dos segundos e assume-se como um dos momentos mais épicos do álbum, com Karen O a gritar de coração aberto e de forma honesta: “Oh dispair, you were there through my wasted years… You always been there”.

Ainda com o pesadelo bem presente, chegamos ao último momento de “Mosquito”. “Weeding Song” é uma canção de embalar, desarmante, mas, colocada como derradeiro tomo do disco, perde um pouco da sua força. Ainda a propósito de “Wedding Song”, diz quem viu, que Karen O a terá cantado no seu casamento, em 2011…

Ouvidas as 11 canções de “Mosquito”, fica a clara sensação que estamos perante o trabalho mais arriscado da banda, onde a tentativa de explorar novos territórios é bem patente. Sabendo que é necessário fazer apostas para conseguir chegar ao objetivo pretendido, os Yeah Yeah Yeahs construíram um disco fraturante que aponta novos caminhos num futuro que esperamos próximo.

Não é, de todo, o seu disco mais consistente, tem algumas faixas menos conseguidas, mas aponta para a transição, para a evolução. A maturidade, por vezes, demora a chegar…

Alinhamento:

01.Sacrilege
02.Subway
03.Mosquito
04.Under The Earth
05.Slave
06.These Paths
07.Area 52
08.Buried Alive (feat. Dr. Octagon)
09.Always
10.Despair
11.Wedding Song

Classificação do Palco: 6,5/10

In Palco Principal

Sem comentários:

Enviar um comentário