sexta-feira, 5 de abril de 2013

PALMA VIOLETS
“180”

Ao ritmo da garagem




Quando, em 2001, uns rapazes de Nova Iorque editaram um álbum de nome “Is This it”, muitos gritaram que estávamos perante os novos mestres do garage rock. Faixas como «Last Nite» ou «Hard to Explain» faziam os nostálgicos do movimento punk saltar de alegria e colocar Julian Casablancas no pódio das vozes mais cool do novo milénio.

A energia e a honestidade da música dos The Strokes voltou a pôr muita gente a ouvir, por exemplo, Sex Pistols, The Clash e os The Replacements. As guitarras sem artifícios e o som cru da bateria faziam ligação directa ao coração do ouvinte. Um pouco por todo o globo surgiam projectos interessantes como os The Libertines, Arctic Monkeys ou The Vaccines.

Cerca de uma década depois desse fenómeno, a consagrada publicação britânica New Musical Express atribuiu a «Best of Friends» o galardão de melhor canção do ano de 2012. Já neste ano, a banda responsável por tal feito actuou no reputadíssimo festival SXSW e quem teve o privilégio de estar em Austin, Texas, a 16 de Março último testemunhou um excelente concerto de rock and roll.

Os Palma Violets, sim é deles que falamos, saltaram, em pouco mais de um ano, de Lambeth, no coração de Londres, para as bocas do Mundo. Samuel Thomas Fryer (guitarra e voz), Chilli Alexander Jensson (baixo e voz), Jefferey Peter Mayhew (teclas) e William Martin Doyle (bateria) tornaram-se num ápice na next big punk thing britânica e editaram “180”, um álbum cheio de vitalidade, influências e pujança.

O mérito é todos deles, indiscutivelmente, mas o hype que se formou em torno do quarteto pode ser uma faca de dois gumes. O futuro dirá se estamos perante um colectivo consistente ou não mas o certo é que “180” acerta em cheio. As 11 faixas que constituem o disco de estreia dos Palma Violets fazem as delícias dos fanáticos do rock puro.

O álbum começa da melhor maneira possível com a excitante, viciante e delirante «Best Of Friends», um verdadeiro hino punk repleto de uma energia feroz e uma letra que agarra desde logo quem ousa ouvir esta música. “I wanna be you best friend / I don´t want you to be my girl” grita-se a plenos pulmões, a bateria sobe de tom e a guitarra segura o tema e tem mesmo direito a brilhar com um solo.

«Step Up for the Cool Cats» continua a festa dos Palma Violets e o som do órgão de Jefferey traz à memória alguns tiques dos Arcade Fire e os exercícios idiossincráticos de Ray Manzarek, responsável máximo pelo som psicadélico dos The Doors. Apesar de nos aproximarmos de uma toada mais morna que a primeira faixa do disco, tanto «Step Up for the Cool Cats» como «All the Garden Birds» são temas consistentes, sendo este último acompanhado por uma fantástica linha de órgão durante um refrão pautado por muita rabugice.

Já «Ratllesnake Highway» acelera as pulsações e os Palma Violets invadem o território sagrado dos The Clash com umas pitadas do som psicadélico oriundo das teclas. «Chicken Dippers» varia os níveis de contenção sonora e traz algumas doses de humor e gritos enquanto a bateria e a guitarra soltam a raiva aquando do enérgico refrão.

«Last of the Summer Wine» é outra das grandes canções deste disco e começa, mais uma vez, com um órgão demente que vai perdendo o espaço para as guitarras soltas à lá Jesus and Mary Chain que a meio da contenda partilham a preponderância com a bateria e depois a voz. Aqui canta-se a procura, um objectivo repetido, um amor perdido. “I’m seaching for something / Something i love! … Over and over again”.

Sendo este o primeiro disco da banda, também se sente que os Palma Violets se questionam, buscam uma identidade. O próprio uso, e por vezes “abuso”, das linhas de teclado deixam no ar a dúvida. Se em faixas como «Best Of Friends» o casamento entre guitarras e órgão resulta em pleno, noutros casos o som sorumbático do sintetizador retira o poder e alma ao próprio som dos restantes instrumentos.

De volta ao ambiente mais cru e rock, «Tom the Drum» é um puro exercício narcisista e altruísta com o baixo em grande destaque. Perto do final da faixa, os Palma Violets dão-se ao luxo de aplaudir os próprios egos e soltarem um “Fucking brilliant!” entre o som de palmas. A seguir, a bem-disposta «Johnny Bagga’s Donuts» traz uns pozinhos gospel e muito rock and roll.

«We Found Love» é mais uma das grandes canções deste disco e aqui e ali, dizemos nós, sentimos a presença de espírito de um Springsteen dos finais da década de 1970 ou dos The Velvet Underground por entre uma letra dolente e gemida (“…gonna find myself a ladyfriend and stick by her until the end”). Ainda com um espírito de coração partido «Three Stars» mostram uns Palma Violets mais calmos, em ritmo de balada de baile de finalistas, ainda que no final se oiça um grito e a guitarra e a bateria busquem outros ritmos.
O disco encerra com «14», outro momento intimista que volta a juntar na perfeição voz e restantes instrumentos. O refrão cola-se aos canais auditivos e aquela que é a canção mais longa do disco, com quase oito minutos (!), vai crescendo de forma segura, por vezes caminhando por universos mais experimentais, algo que metaforicamente se deseja em relação à música dos Palma Violets.

Não sendo uma obra-prima, “180” é um disco seguro, no qual se acredita. As músicas deste álbum de estreia – algumas delas a roçar o genial – têm força e tornam este registo num patamar elevado. Para isso muito contribui a produção de Steve Mackey, baixista dos Pulp, que conseguiu colocar o som de “180” perto do registo “ao vivo”, conferindo veracidade à música dos Palma Violets, como se estivéssemos a assistir a um concerto. E é essa a alma que o espírito punk de músicas como «Best Of Friends» e «Tom the Drum» precisam. Dificilmente teremos outro disco de estreia como este em 2013. Querem apostar?

In Rua de Baixo

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