quarta-feira, 20 de novembro de 2013

The Killers
“Direct Hits”

Bom prato, mas requentado



A proximidade com a época natalícia funciona como um motor propulsor no que às edições discográficas diz respeito, com particular incidência nos familiarizados “Best Of”. Quando tal acontece, estamos, vulgarmente, perante uma de três situações: o disco deriva de uma imposição contratual por parte da editora; a banda revela problemas criativos e o seu fim está, eventualmente, próximo; fecha-se um ciclo. No caso de um banda como os norte-americanos The Killers, que contam com uma década de existência e “apenas” quatro álbuns de originais, a edição de “Direct Hits” enquadra-se na primeira opção, como os próprios confirmaram recentemente.

Os mais de vinte milhões de discos vendidos até hoje tornam a banda natural de Nevada, Las Vegas, que tem na figura do seu vocalista, Brandon Flowers, o seu maior ícone, como uma importante referência nestas coisas da música. Em 2004 editaram “Hot Fuss”, o seu mais bem-sucedido trabalho em termos comerciais, e lograram subir aos lugares cimeiros dos tops mundiais através de um som que bebia influências no rock mais alternativo, assim como num revivalismo punk e new wave. Em entrevistas, aquando do lançamento do seu primeiro disco de originais, os próprios The Killers afirmavam que tinham muito carinho pelo trabalho de bandas como os New Order, The Cure, The Smiths, The Cars, Duran Duran, David Bowie ou Bruce Springsteen, sendo que estes nomes eram as suas maiores e assumidas influências.

De forma mais ou menos clara ou evidente, “Hot Fuss” e depois “Sam’s Town” - para muitos o mais sagaz trabalho do coletivo – traziam no seu som pedaços das referidas influências e, no caso do álbum de 2006, nota-se um crescimento musical assinalável, onde os ecos da obra de Bruce Springsteen eram notórios e muito bem-vindos. Os The Killers cresciam, davam muitos concertos, recebiam prémios e afirmavam-se junto de um público indie, mas nunca perdendo de vista o universo mais mainstream. Essa “metamorfose” seria completada nos passos seguintes, sendo “Day & Age” e “Battle Born” registos que situavam Flowers e companheiros em universos mais rock, por vezes muito dançáveis, outras mais contidos, mas manifestamente diferentes dos primeiros tempos.

E eis que surge “Direct Hits”. Muitos perguntam a pertinência da edição, outros ficam deliciados por verem compilados alguns dos temas mais emblemáticos da banda. Sim, hoje facilmente podemos fazer as nossas próprias “compilações”, graças a ferramentas como o itunes e similares, mas um registo em versão discutível de “o melhor de…” pode ser um objeto auditivo pertinente. Ainda que na construção do mesmo possa residir a grande fatia do seu sucesso e, talvez nesse aspeto, “Direct Hits” possa estar aquém do pretendido. Falamos em concreto da discutível organização cronológica da apresentação de “Direct Hits”, que revela uma preguiça de ideias, tanto na edição normal desta compilação, como na versão deluxe, que conta com mais três temas.

O disco começa com quatro belas canções de “Hot Fuss”. São elas: “Mr Brightside”, talvez o maior hino da banda, “Somebody Told Me”, “Smile Like you Meant” e “All These Things that I’ve Done”. O glamour indie disco do primeiro registo de originais dos The Killers é absolutamente irresistível e ficam na cabeça sons e frases como “I’ve got soul, but i’m not a soldier”.

Depois, é a vez de “Sam’s Town” brilhar, mais maduro e com uma escrita perto do registo de mestres como Bruce Springsteen ou Tom Petty, onde o rock and roll desponta com sobriedade. Houve quem afirmasse que este disco estava entre os melhores das últimas décadas. Exagero ou devoção desmedida, as reações ao álbum datado de 2006 transformaram os The Killers numa das maiores bandas do planeta rock. “Direct Hits” regista três momentos desse disco. “When you Were Young” e “Read My Mind” fazem como que a ponte entre sons indie e toadas associadas à América, e apontavam o futuro sonoro de Flowers e comparsas. Ainda que muito subjetivo, estranha-se, ou não, a opção de colocar no alinhamento “For Reasons Unknow” e deixar de fora a fantástica “Bones”.

Já em territórios assumidamente rock e em diálogo permanente com a grandiosidade dos grandes estádios e arenas onde os The Killers exibiram os seus “sucessos diretos”, “Day & Age” dá três músicas a esta compilação. “Human” é uma faixa coberta de uma tensão dançável, alimentada pelas teclas de um sintetizador omnipresente, mas que fica uns furos a baixo da intensidade de “Spaceman”, talvez a composição maior da banda nesta fase. Num registo mais intimista “A Dustland Fairytale” é um exercício que aponta para o exorcismo de sonhos perdidos.

Na ressaca de uma mega digressão que ocorreu a propósito de “Day & Age”, a banda fez uma longa pausa e tal hiato terminaria com a edição de “Battle Born”, lançado em 2012, um disco que foi sinónimo de um “retrocesso sonoro”, onde as guitarras assumiam maior protagonismo. “Runaways” é um exemplo disso e faz um passeio até aos recantos da memória dos anos 1980. “Miss Atomic Bomb” e “The Way t Is” continuam esse caminho e misturam ecos sintéticos com cordas que se soltam, transformando-se em paisagens, com a América sempre em mente, desculpando-se até a heresia de uma certa aproximação a gente como Meat Loaf.

Mas “Direct Hits” apresenta também duas e interessantes novidades. Se o synthpop de “Shot at the Night” é o reflexo do trabalho da banda com Antony Gonzalez, membro dos franceses M83, “Just Another Girl” é um regresso aos tempos de “Day & Age”, pois os The Killers voltam a trabalhar com o produtor Staurt Price.

Resumindo, ou talvez não, “Direct Hits” é um trabalho algo passivo e preguiçoso, mas tem excelentes canções que, de certa forma, retratam a evolução sonora dos The Killers. Fazer uma compilação com apenas quatro álbuns editados pode parecer estranho, mas a sua pertinência será mais bem analisada daqui a uns tempos, de preferência, esperemos, depois da edição de novos trabalhos. Até lá, “Direct Hits” é um disco envolto de fantasmas do passado, com uma leve esperança face ao futuro. Mas que dá vontade de ouvir, dá!

Alinhamento:

01.Mr Brightside
02.Somebody Told Me
03.Smile Like You Mean It
04.All These Things That I’ve Done
05.When You Were Young
06.Read My Mind
07.For Reasons Unknown
08.Human
09.Spaceman
10.A Dustland Fairytale
11.Runaways
12.Miss Atomic Bomb
13.The Way It Was
14.Shot At The Night
15.Just Another Girl

Classificação do Palco: 7/10

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