sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A Naifa
"As Canções d' A Naifa"

A revolta de alguns corações inquietos



Portugal é, hoje, um país envolto de sombras, adormecido e atingido por uma letargia nascida do desassossego económico que o assalta. Agitar é preciso e é isso que A Naifa pretende fazer com o seu mais recente trabalho, “As Canções d’A Naifa”, disco composto por nove temas pedidos por empréstimo a nomes consagrados da lusitana canção.

Projeto musical nascido em 2004, A Naifa já editou quatro discos de originais, assentes numa base sonora que faz um sábio cruzamento entre ambiências pop e o Fado, numa linguagem que faz a desconstrução de ambas as perspetivas. “Canções Subterrâneas”, “3 Minutos Antes de a Maré Encher”, “Uma Inocente Inclinação Para o Mal” e “Não se Deitam Comigo Corações Obedientes” – este último galardoado com o Prémio Autores para Melhor Disco de 2012 - colocaram A Naifa entre os mais inovadores e irreverentes grupos nacionais, e as suas atuações ao vivo têm sido um forte aliado ao estatuto de culto que tem crescido à sua volta.

Da sua formação original mantêm-se no grupo o guitarrista Luís Varatojo e, na voz, Maria Antónia Mendes (Mitó), que têm agora a companhia de Sandra Baptista no baixo e Samuel Palitos na bateria. A morte João Aguardela, um dos fundadores da banda e um dos nomes grandes da música moderna portuguesa, foi um fortíssimo revés, mas a banda tem, aos poucos, dado mostras de estar a fazer o devido luto do antigo camarada de armas e apresenta-se forte e determinada a continuar aquilo que fazia com o eterno amigo.

Recentemente editad, “As Canções d’A Naifa” volta a revelar um grupo único em Portugal que resolve compilar em disco algumas das muitas músicas de autores portugueses que têm sido alvo de particulares versões nos seus concertos. Os sons pós-modernos de “Sentidos Pêsames”, dos GNR, fundem-se com os clássicos “A Tourada”, de Fernando Tordo, “Desfolhada Portuguesa”, de Simone de Oliveira, ou “Inquietação”, de José Mário Branco, e transformam este disco num verdadeiro ato panfletário, que tem na voz quebrante e dolente de Mitó uma das características mais vincadas.

“Alfama”, dos Mler Ife Dada, e “Imenso”, de Paulo Bragança, são outras canções alvo da maravilhosa desconstrução por parte deste conjunto de músicos que extravasa a noção de normalidade e assenta aqui a sua arte na reinterpretação dos clássicos do cancioneiro nacional, tendo como outros motivos de inspiração Vitorino, Três Tristes Tigres e Amália Rodrigues.

De chino em riste, “As Canções d’A Naifa” é um disco de continuidade e apela à memória, é um grito de revolta e um reflexo apimentado de alguma ensimesmada tradição fadista, com as devidas aspas. À criatura pede-se que acorde, que respire fundo e vá à luta pois (est)a música dá o mote da revolta.

Alinhamento:

01.Sentidos Pêsames
02.Subida aos Céus
03.Bolero do Coronel sensível que Fez Amor em Monsanto
04.A Tourada
05.Alfama
06.Libertação
07.Imenso
08.Desfolhada Portuguesa
09.Inquietação

Classificação do Palco 7,5/10

In Palco Principal

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