sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Trêsporcento em entrevista

"Não faz sentido cobrar um valor fixo por um álbum quando, no site ao lado, o mesmo produto se encontra disponível gratuitamente"

Esperam encerrar um ciclo com “Lotação 136”, disco ao vivo recentemente editado, numa altura em que, pela primeira vez desde a sua génese, têm um elemento novo, na bateria. Falamos dos Trêsporcento, uma banda fiel aos seus princípios e que tem sabido crescer de forma ponderada e consciente. Ainda que tenham segredos que não possam revelar, aproveitámos para falar com a banda sobre os seus oito anos de história, o negócio da música na internet e outras questões.



Palco Principal – Estão juntos há cerca de oito anos e, entre 2009 e 2014, lançaram um EP e três álbuns, incluindo o novíssimo “Lotação 136”. A vossa evolução enquanto banda tem sido aquilo que esperavam?

Trêsporcento - Quando nos juntámos, fizemo-lo apenas pela paixão que tínhamos por música e pelo gozo de tocarmos juntos enquanto amigos. Nunca tivemos quaisquer expetativas nem nunca estabelecemos metas enquanto banda. Provavelmente, essa é a razão de ainda estarmos juntos: não temos pressões internas ou externas sobre o caminho a tomar ou sobre o objetivo a atingir. Isso dá-nos uma liberdade enorme para deixarmos as coisas fluir normalmente e crescermos de forma natural, definindo o nosso próprio caminho, sem o perigo de eventuais expetativas não serem atingidas.

PP – Ainda que tenham muita experiência de palco, álbuns gravados e uma dedicada legião de seguidores, os Trêsporcento continuam envoltos de algum mistério. Faz parte da vossa filosofia manter este espetro de culto?

TPC - Não, não faz, mas não é uma coisa em que pensemos muito. Sabemos o que faz parte da nossa filosofia, para usar as tuas palavras: é estarmos concentrados na música que fazemos, e não na imagem que projetamos. Isto tem a ver com a nossa história: nós não começámos com nenhuma ideia formada sobre o que queríamos ser ou parecer. E a nossa experiência era zero. Hoje sabemos o que deve ser feito para “comunicar” uma banda, para fazer com que os media prestem atenção, mas ainda bem que não sabíamos quando começámos. Olhando para trás, foi uma sorte que as coisas tenham acontecido dessa maneira. Estar envolto nalgum mistério não nos parece mal.

PP – Com um som assumidamente indie, os Trêsporcento fazem canções envoltas de um grau de intimidade muito grande, nomeadamente no que toca à poesia cantada. Podemos dizer que a vossa maior inspiração deriva da vivência pessoal de cada um de vós?

TPC - Sim, é verdade. Muitas das músicas estão relacionadas com experiências, sejam pessoais, sejam das pessoas que nos envolvem. A vida e as experiências são bons temas para se cantar.

PP – Já disseram em entrevistas que gostam muito da música dos anos 2000 e de bandas como os The Strokes, Radiohead e Bloc Party. Que músicos vos têm atraído mais a atenção nos últimos tempos?

TPC - Gostamos muito de bandas como Queens of The Stone Age, We Were Promissed Jetpacks (que vão lançar um álbum ao vivo em fevereiro), Alt-J, Daughter, Gisela João ou Explosions in The Sky.

PP – Lançaram recentemente “Lotação 136”, um disco ao vivo gravado na Sala Vermelha do Teatro Aberto, e que é uma espécie de tributo a quem vos acarinhou e vos seguiu na estrada. Encaram este disco com um final de um ciclo?

TPC - Sim, é, claramente, um final de ciclo, ao mesmo tempo que é o princípio de outro, apesar de não ter sido pensado dessa maneira. O disco surgiu pela vontade que tínhamos em registar as versões ao vivo destas canções, que, quer por falta de habilidade nossa, quer pela energia natural que está associada ao palco, acabam por ser uma coisa diferente da que está em disco. Por outro lado, esta gravação coincide com a primeira alteração à nossa formação em sete anos, com a entrada do António para a bateria. A isto juntou-se também a sensação de que o “Quadro” representa uma espécie de segunda parte para o “Hora Extraordinária”, fechando assim esse ciclo. Não sabemos o que vamos fazer daqui para a frente, porque ainda não escrevemos nada, mas estamos convencidos de que aquilo que fizemos até aqui está esgotado, num certo sentido.

PP – Na apresentação de “Lotação 136” confessaram que músicas como “Espero” refletem um pouco a vossa evolução enquanto banda, enquanto um conjunto de músicos que luta, tendo em conta a superação. Sentem que são hoje melhores músicos do que aquando da edição do EP de 2009?

TPC - Na altura em que gravámos o EP éramos apenas um grupo de amigos que se iniciava na música e no processo de fazer e gravar musica. Não sabíamos muito bem o que fazer nem como fazer, apenas sentimos a vontade de fechar um ciclo com aquelas gravações. Hoje, passados cerca de oito anos de ensaios, palcos, e estúdios, sentimos claramente que somos, não só melhores músicos enquanto executantes, mas também enquanto banda que pensa na música como expressão daquilo que quer fazer. Foi obviamente um processo gradual, e fomos sentimos que cada nova edição ia sendo melhor e mais Trêsporcento que a anterior, o que nos fez sempre avançar para uma próxima edição.

PP – Para além de, corajosamente, já terem feito edições de autor noutras ocasiões, “Lotação 136” está à disposição para download em troca daquilo que o “consumidor” achar justo. A internet alterou, na vossa perspetiva, a “comercialização” da música enquanto objeto de consumo?

TPC - A internet alterou a comercialização global, isso é um facto. A música inclui-se neste bolo de comercialização e sofreu, obviamente, alterações na forma como é passada para o público. A oferta multiplicou-se, o valor da música diluiu-se e isso obrigou a novas estratégias Para nós, atualmente, não faz muito sentido estar a cobrar um valor fixo por um álbum ou música quando, no site ao lado, o mesmo produto se encontra disponível gratuitamente.

PP- Em termos de divulgação, o que acham mais importante: ter airplay na rádio, fazer (muitos) concertos, apostar numa boa máquina de promoção via internet…

TPC - Como divulgação, a internet tem uma força extraordinária e deverá ser, há já bastante tempo, a melhor forma de fazer chegar a música ao público em geral (o caso dos Arctic Monkeys). No nosso caso, a rádio teve também uma importância vital para dar conhecimento da nossa música, não só ao público, mas também aos “players” que atuam no mundo da música. Os concertos, apesar de serem aquilo que nos dá mais gozo fazer, não foram, até à data, a melhor forma de divulgar a banda.

PP – O que podemos esperar dos Trêsporcento em 2014?

TPC - Temos uma grande notícia a divulgar, mas ainda não podemos falar dela, para grande pena nossa…

In Palco Principal

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