quinta-feira, 16 de maio de 2013

Noah and the Whale
“Heart to Nowhere”

Nascidos para correr



Ingleses de gema, os Noah and the Whale lograram sair da clandestinidade da londrina Twinckenham para o espetro do panorama musical a nível global, servindo-se de uma agilidade pop que os fez percorrer caminhos indie folk, até chegarem a estradas onde o rock acelera sem respeitar regras de velocidade.

Quinteto formado em 2006 e liderado por Charlie Fink, o homem que empresta voz ao discurso da banda, os Noah and the Whale lançam agora o seu quarto disco de originais e “Heart of Nowhere” assume-se com o trabalho mais forte e coerente do grupo londrino.

Se “Last Night on Earth”, lançado em 2011, consolidou a banda em termos de afirmação enquanto referência musical, valendo-lhes inclusive um galardão platinado, este novo trabalho afasta definitivamente os Noah and the Whale da exclusividade indie e é o rock que mais ordena. Fink continua a abraçar as vocalizações perto da sonoridade de Lou Reed e os tiques de um rock cinematográfico à Bruce Springsteen são por demais evidentes. A ambiência deste “Heart of Nowhere” está também carregada de um power pop oriundo dos anos 1980, onde o amor que rompe a noite, a vontade de crescer, a tentativa de agarrar um sonho fazem lembrar - e desculpem a repetição - alguns dos álbuns charneira do Boss.

O som de Fink Hobden (violino e teclas), Owens (baixo), Abbott (guitarra) e Pettula (bateria) deambula entre uma forte linha de baixo, a luz do violino, as guitarras em desafio, e este “Heart of Nowhere” soa a nostalgia, a vento nos cabelos e à vontade de ultrapassar desafios, de correr atrás de sonhos. Exemplo claro dessa atitude é a belíssima “All Throught the Night”, uma canção que é atravessada até à medula por uma guitarra triunfante, que reclama a sua importância através de solos que fazem bem aos ouvidos.

Grande parte das melodias deste disco têm a particularidade de possuir um ADN radio-friendly e, arriscamos, que essa ideia mais uma vez remete para os gloriosos anos 1980. Longe vão os tempos de “Paceful, the World Lay Me Down” e hoje Charlie Fink tem objetivos alargados para a sua banda. Na faixa título, por exemplo, o convite a Anna Calvi resulta na plenitude e, a par da dança solta dos violinos e do acutilante baixo, é a voz da menina que acompanha Fink no refrão e, mais tarde, a solo, que dá ainda mais luz à já cintilante música dos Noah and the Whale.

Ouvir este “Heart of Nowhere” é sentir a adrenalina a correr dentro das dez músicas do disco. Não pense que endoideceu se o seu pé insistir em bater ao longo dos curtos 35 minutos que dura o mais recente disco de Fink e companhia. “Lifetime”, por exemplo, agarra-se a alguma da tradição folk da banda e dispara violinos que são bem secundados por um baixo primaveril, que sublinha uma letra nostálgica que recorda sonhos, rezas, promessas. O corpo agita-se e quer mais.

Falando da poesia de Charlie Fink, este é, por certo, o disco mais intimista do cantor e guitarrista dos Noah and the Whale. “Still After All These Years” reforça esse pensamento e Fink apela às memórias e experiências de vida, ainda que se recuse a ideia de um qualquer tribunal incriminatório que declarará penas insustentáveis. Apenas se lembram amores e sentimentos que perduram. “And I think after all these years, still something in me /Still after this years, something still burns”, canta-se, dolentemente. Ainda assim, não se pense que o amor pode ser a cura para a desilusão da passagem do tempo.

Existem outros momentos em que os lamentos pop/rock deste disco se tornam em autênticos hinos de verão. “There Will Come a Time” e “Now Is Exactly the Time” são exemplos de duas canções despretensiosas que se tornam, sem demora, em verdadeiros vícios auditivos. Se no primeiro caso o ritmo aponta para um ato mais celebrativo onde se reclama por amizades perdidas, em “Now Is Exactly the Time” a atmosfera é mais calma e a ausência de outros tem um perdão à vista. Vivem-se momentos certos para mudar de página, para seguir em frente, sem mágoas.
Esta verdadeira terapia musical, assente num baixo mais presente e numa bateria mais coesa, resulta em parte do trabalho de Craig Silvey, homem que trabalha com, por exemplo, os canadianos Arcade Fire, e consegue criar um som mais amplo, com as cordas e os sintetizadores a assumirem importante papel. Se tivermos em consideração que muitas destas composições foram gravadas num espírito “ao vivo”, o resultado final ainda parece mais interessante.

Para além da expansão sonora que este disco representa, os Noah and the Whale têm ainda coragem e mérito de construir temas mais intimistas e introspetivos, como é o caso de “Not to Late”, faixa que encerra o disco. A esperança, como já referido, é um dos sentimentos mais badalados neste álbum e Fink tem noção que nunca é tarde de mais para se sentir realizado, para juntar família e amigos, para entender que a juventude partiu.

Em tempos onde o cinzentismo é parte do quotidiano, discos como este “Heart of Nowhere” são autênticas dádivas divinas e nada melhor que um LP feliz, bonito, cheio de brilho, para afastar fantasmas. Coloque-se o disco a tocar, sinta-se “Introduction”, caminhe-se ao longo do restante álbum e, depois de acabar, façamos de novo Play. Vamos a isso? 1, 2…3!

Alinhamento:

01.Introduction
02.Heart of Nowhere
03.All Throught the Night
04.Lifetime
05.Silve rand Gold
06.One More Night
07.Still after All These Years
08.There Will Come a Time
09.Now is Exactly the Time
10.Not to Late

Classificação do palco: 8/10

In Palco Principal

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