domingo, 17 de julho de 2016

NOS Alive 16
Dia 1 Há química entre nós


Quando no início da semana as informações meteorológicas avançavam com a possibilidade de chuvas e trovoada para o dia que abria a 10ª edição do Festival NOS Alive, tememos que os deuses estariam de costas voltadas para com as dezenas de milhar de almas que invadiram o espaço, renovado e agora em tons verdes, do Passeio Marítimo de Algés. Mas não, o sol tomou conta do dia e, à boleia do astro-rei, vivemos mais um dia memorável no que a concertos diz respeito.

A única tempestade sentida foi a da emoção pura com a energia rock dos Biffy Clyro, a abordagem ora intimista ora eletrónica de John Grant, a boa surpresa em tons teen dos Wolf Alice, a habitual e despachada mestria dos Pixies, e a festa em forma de rave dos The Chemical Brothers. Tivemos ainda tempo para ver sósias geek de Cristiano Ronaldo, elementos de uma boémia claque belga, alguns alemães cabisbaixos e a amizade crescente entre o Wally e uma galinha. Afinal, tudo, ou quase, pode acontecer no NOS Alive.

19.25 – Biffy Clyro – Palco NOS

Na véspera de estrearem “Ellipsis”, o seu sétimo álbum, o trio escocês Biffy Clyro deu um (esperado) bom concerto, misturando aceleradas doses de um rock rasgadinho com momentos mais calmos, havendo espaço para reviver “velhos” clássicos e mergulhar de caras em novas canções. E foi mesmo com o primeiro single de “Ellipsis”, “Wolves of Winter”, que Simon Neil, James Johnston e Ben Johnston abriram um espetáculo que durou pouco mais de uma hora. Como habitualmente, Neil, exibindo um tronco nu e coberto de tatuagens, puxava por um público ainda contagiado pela luz do dia e algo contido, e mostrava como três velhos amigos podem fazer um bom rock and roll.

Aos poucos a energia da guitarra, baixo e bateria foi afastando a letargia que se vivia no enorme tapete verde instalado à frente do palco NOS com canções como “Victory Over the Sun”, retirado de “Opposites”, ou o clássico “Bubbles”, de “Only Revolutions”. Explorando, e bem, toda a sua discografia, os Biffy Clyro lançaram-se às feras com momentos de acalmia como “Mountains” ou a mais operática e orelhuda “The Captain”. A sintonia e simpatia que emanava no palco encontrava eco na multidão que se avolumava em frente ao palco e não foi com espanto que se cantaram, em uníssono, temas como “Black Chandelier”, “Machines” ou “Living is a Problem Because Everythings Dies”, e já no final do concerto, “Sounds Like Ballons” ou “Many of Honour”. Não que tivessem de o provar, os Biffy Clyro são um trio coeso, fundado na amizade mútua e no prazer de tocar e dar concertos e deixar a sua marca, não sendo por isso de estranhar que Simon Neil, orgulhoso, tenha acabado o espetáculo a agradecer e a gritar bem alto: «We are Biffy fucking Clyro!»

20.45 – John Grant – Palco Heineken

Ainda com os riffs dos Biffy Clyro na corrente sanguínea, corremos até a um Palco Heineken muito bem preenchido, e não foi preciso esperar muito para ver John Grant a assumir os comandos da tenda com o seu som misto de batidas eletrónicas com momentos mais introspetivos e baladeiros. De calções e t-shirt, foi um descontraído e bem-disposto Grant que “atacou” o público com um agitado “You and Me” para, logo de seguida, acalmar o ritmo, mas não a emoção, com duas canções mais negras como o são “Sigourney Weaver”, a dedicatória sentida à atriz que protagonizou a saga “Alien”, tema retirado de “Queen of Denmark”, e “Grey Tickles, Black Pressure” do disco homónimo lançado em 2015.

Já num ritmo mais próximo daquilo que David Bowie fazia nos anos 90, misturando beats eletrónicos com um rock espacial e algum espírito funk, “Voodoll Doll” devolvia a agitação ao palco Heineken. A sempre épica e doce “Glacier” encheu o público de uma emoção transbordante, o mesmo acontecendo, já perto do final da prestação do norte-americano, com “GMF”, de “Pale Green Ghosts”. A atuação terminaria com o público a dançar ao som de “Disappointing”, sem Tracy Thorn, infelizmente, mas cheio de alma, ou devemos dizer soul?

Escolhas e algum descanso

Como se de uma prova de obstáculos de tratasse, um festival exige sacrifícios e opções. Seguimos um caminho longo ou procuramos um atalho? Independentemente do trilho precisamos de algum tempo para recuperar forças. Foi isso que fizemos entre os concertos de John Grant e Pixies e, felizmente, tivemos o bom senso, e a sorte, de assistir aos momentos iniciais do concerto dos Wolf Alice que genuinamente surpresos com tamanha e calorosa receção não perderam tempo e dispararam “Your Love’s Whore” e “You’re a Germ”, dois exercícios pejados de guitarras bem secundadas por um coeso duo entre bateria e baixo e uma voz deliciosamente frágil.

Com pena nossa já só ouvimos os primeiros acordes de “Bros”, pois já estávamos a caminho do palco NOS mas fica a promessa que a próxima visita dos Wolf Alice terá honras de especial atenção.

22.45 – Pixies – Palco NOS

Entretanto era tempo de ver, mais uma vez, o regresso dos Pixies a terras Lusas. Longe vão os tempos da sua fantástica e esperada estreia no Coliseu dos Recreios no raiar da década de 90, mas é sempre um prazer sentir a energia do quarteto agora formado por Black Francis, Joey Santiago, David Lovering e, por enquanto, Paz Lenchantin. E tal como na noite memorável de 13 de junho de 1991, aquilo que ontem ouvimos e sentimos do Passeio Marítimo de Algés foi um verdadeiro desfile de adrenalina cuja empatia se faz única e exclusivamente através da música pois a verbalização dos Pixies é feita via guitarras, bateria e baixo, remetendo as palavras para as poesias das canções. Sem demoras “Bone Machine” irrompe do palco NOS e a multidão acolhe com fervor todos os acordes possíveis. Seguem-se, sem interrupções, “Head On”, habitual versão dos The Jesus and the Mary Chain, e “Wave of Mutilation”, esta última cantada com um coro de milhares de vozes, o mesmo acontecendo com a deliciosa e pejada de baixo, “Subbacultcha”.

Houve tempo para percorrer toda a discografia da banda mas os momentos com maior frieza por parte do público aconteciam quando o quarteto abordava as canções mais recentes como “Baal’s Back”, “Snakes” ou “Greens and Blues”. Exceção a essa momentânea apatia foram “Indie Cindy” ou a novíssima e algo mariachi “Um Chagga Lagga”. Para reaquecer as turninas, “Velouria”, “Monkey Gone to Heaven”, “Levitate Me”, “Tame” e “Gouge Away” não davam descanso a uma audiência composta por velhos e novos fãs da banda.

Empenhados, como habitualmente, os Pixies aumentaram a fasquia emotiva na parte final do concerto com Joey Santiago a atacar a guitarra de forma tão veemente que nem um pequeno contratempo técnico em “I Bleed”, que levou a uma rápida troca de instrumento, estragou o momento. Na derradeira parte do concerto, o quarteto ofereceu clássicos como “Tame” ou “Vamos” (com Santiago a sacar sons e feedbacks da sua guitarra de várias formas, pedindo mesmo emprestada uma baqueta a Lovering) mas foram “Where is My Mind” ou “Here Comes Your Man” que deixaram em êxtase todos os que estavam no palco NOS. A festa terminou com mais três grandes canções: “Caribou”, “Debaser”e “Rock Music”.

01.00– The Chemical Brothers – Palco NOS

Quando “Hey Boy Hey Girl” ecoou, sublinhado pelos néons verdes que emanavam do palco, muitos foram os que correram para ver e ouvir melhor o chamamento de Tom Rowlands e Ed Simons. Com um misto de admiração e satisfação dizia quem assistia ao concerto dos britânicos: «bolas, se começam assim isto vai bombar!”». E assim foi, sem paragens para respirar pois a britânica e maquinal dupla fechou a noite do palco principal com um concerto excelente. Ao longo de cerca de hora e meia, dançou-se ao som de clássicos como “Go”, “Do it Again”, “Galvanize”, “Star Guitar” ou “Setting Sun”.

Certos de que o casamento entre a imagem e o som é o caminho para a conquista da audiência, os milhares que ousaram ficar até ao início da madrugada no NOS Alive viram a mente invadida por criações que ganhavam vida podendo mesmo transformar-se, num ato de eletrónica magia, em balões. O (grande) final do concerto fez-se ao som do hit “Block Rocking Beats” e todos puderam seguir o caminho de casa com a alma cheia. Os mesmos que tanto se espantaram com o início do concerto confessavam que, finalmente, cumpriram a promessa de ver os The Chemical Brothers depois de uma inesperada situação que os impediu de abraçar a edição de 2011 do Alive que ainda se denominava Optimus. Vemo-nos daqui a cinco anos?

Fotografias: João Lambelho

In Palco Principal

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