quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Muse
“Live at Rome Olympic Stadium”

Ao vivo e a (muitas) cores



Depois de seis álbuns de estúdio, dois registos ao vivo, milhões de discos vendidos em todo o mundo e alguns prémios internacionais arrecadados, o trio britânico Muse regressa aos títulos registados durante uma digressão, no caso “Live at Rome Olympic Stadium”, uma muito bem-vinda consequência direta da mais recente tour da banda de Matthew Bellamy, Christopher Wolstenholme e Dominic Howard, a propósito da edição e divulgação de “The 2nd Law”.

Visivelmente orgulhoso do trabalho da banda ao vivo, Bellamy não tem dúvidas em afirmar que “Live at Rome Olympic Stadium” é o reflexo da maior e mais ambiciosa digressão que a banda já realizou. Sem dúvida um dos mais excitantes coletivos rock no registo ao vivo, os Muse são hoje, cerca de duas décadas depois da sua génese, uma espécie de assumidos herdeiros da opulência e magnitude dos Queen, até mesmo do que toca às similaridades sonoras, ainda com as respetivas diferenças e tiques próprios.

Edição em formatos CD/DVD e Blu-Ray, “Live at Rome Olympic Stadium” foi filmado com ajuda da tecnologia 4K, que permite uma fantástica resolução na exibição em salas de cinema, sendo que a versão DVD caseira é sinónimo de um visionamento ultra HD. O registo áudio ousa roçar a perfeição, sendo o som deste disco uma verdadeira obra-prima da técnica, ainda que a voz de Bellamy e a mestria dos instrumentistas da banda ajude, e muito, ao excelente resultado final.

Com dois alinhamentos díspares (CD com 13 temas, DVD com 20 canções mais três extras retirados da digressão norte-americana, assim como um documentário – "The Road" -, que mostra as várias perspetivas de uma digressão) “Live at Rome Olympic Stadium” é uma aconselhável edição e, aproveitando a época natalícia, a prenda ideal, principalmente para os fãs da banda.

Ambas as versões abrem com “Supremacy” e terminam com “Starlight” e, depois de observar atentamente o alinhamento dos registos áudio e vídeo, verifica-se, com alguma surpresa, diga-se, que o seminal “Origin of the Symmetry” é, de certa forma, preterido, sendo apenas possível no formato DVD ver e ouvir “Plug in Baby” e “Feeling Good”, as únicas faixas retiradas do álbum de 2001.

Ainda assim, “Live at Rome Olympic Stadium” apresenta o esqueleto habitual de um disco ao vivo e assume uma natural veia “best of”. “Panic Sation”, com uma interessante intro e um excelente trabalho de baixo de Wolstenholme, que adensa a performance do coletivo, e “Resistance” são dois exemplos da majestade do som atual dos Muse e da energia e dedicação que colocam na sua arte. O som das cerca de 60 mil almas que encheram por completo o estádio romano está deliciosamente misturado com a música e capta na perfeição o frenesim resultante da atuação dos britânicos.

“Hysteria” é um dos momentos mais marcantes do concerto e “Animals” revela a liberdade criativa que um concerto permite, com Matt Bellamy a fazer o que quer da sua guitarra. O épico “Knights of Cydonia”, que se inicia ao dramático som da harmónica de Chris, que interpreta “Man With a Harmonica”, de Ennio Morricone - e que depois de atirar o instrumento de sopro para a multidão corre umas boas dezenas de metros para abraçar o baixo - é outra magnífica interpretação de uns Muse que dominam o palco como poucos.

A união, ou fusão, entre voz e música é impecável e “Explorers” e, especialmente, “Follow Me” levam o ouvinte a estabelecer “óbvias” comparações entre Bellamy e Mercury, sem que nenhum desses protagonistas seja eclipsado. Convém aqui fazer a devida ressalva para a grande forma que Bellamy exibe no que toca ao ato de cantar. O hipnótico “Madness”, cantado em uníssono pela audiência, dá liberdade a Mark para percorrer a passadeira e olhar o público nos olhos antes de pegar na guitarra. Por outro lado, uma audição mais atenta em “Guiding Light” permite ter a certeza da qualidade de som de um instrumento como a bateria, que beneficia das inúmeras vantagens proporcionadas por uma gravação multipistas.

Antes da faixa retirada de “The Resistance”, o mega sucesso “Time is Running Out”, apenas presente na versão DVD, revela o fantástico ambiente vivido na noite de 6 de julho do corrente ano e toda a gente salta ao ritmo de uma das mais emblemáticas canções de “Absolution”. Seguem-se “Supermassive Black Hole” e “Uprising”, fantásticos registos que se assumem ainda mais interessantes que a edição de estúdio pois, ao vivo, os Muse crescem e tornam ainda mais apetecível a sua música.

A honra de fechar este magnífico concerto cabe a “Starlight”, retirada do álbum “Black Holes and Revalations”, e, mais uma vez, é possível ver e sentir a magnitude deste concerto realizado num dos mais fantásticos palcos jamais vistos, que ganha ainda mais brilhantismo com a qualidade ultra HD do registo.

Resumidamente, “Live at Rome Olympic Stadium” é um excelente disco de uma das maiores bandas atuais, ainda que a versão CD merecesse conter mais canções. A interação minimalista de Matt Bellamy junto do público revela uma certa atitude introvertida, mas a entrega do vocalista e restante banda compensa essa lacuna comunicacional, dando ao público aquilo que este mais procura: boa música.

Alinhamento:

CD:
1. "Supremacy"
2. "Panic Station"
3. "Resistance"
4. "Hysteria"
5. "Animals"
6. "Knights of Cydonia"
7. "Explorers"
8. "Follow Me"
9. "Madness"
10. "Guiding Light"
11. "Supermassive Black Hole"
12. "Uprising"
13. "Starlight"

DVD:
1. "Intro"
2. "Supremacy"
3. "Panic Station"
4. "Plug In Baby"
5. "Resistance"
6. "Animals"
7. "Knights of Cydonia"
8. "Explorers"
9. "Hysteria"
10. "Feeling Good"
11. "Follow Me"
12. "Madness"
13. "Time Is Running Out"
14. "Guiding Light"
15. "Undisclosed Desires"
16. "Supermassive Black Hole"
17. "Survival"
18. "The 2nd Law: Isolated System"
19. "Uprising"
20. "Starlight"

Classificação do Palco: 8/10

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