sábado, 8 de junho de 2013

“SOUL SACRIFICE”
PS VITA

Em busca do poder perdido



Magia, muita magia, ação, muita ação, entretenimento, bastante entretenimento. Esta é uma das formas possíveis de definir Soul Sacrifice, uma das mais recentes apostas da Sony e que pretende, finalmente, colocar a mais recente consola portátil do gigante japonês no topo das preferências dos amantes dos videojogos.

Por trás deste RPG desenvolvido pela Marvelous AQL está o japonês Keiji Inafune, um dos homens que mais fama trouxe à conceituada CAPCOM e que conta com um invejável currículo do qual fazem parte títulos grandes dos jogos de consola como o são Mega Man ou a primeira versão do icónico Street Figther no longínquo ano de 1987.

Outro dos grandes atrativos deste jogo é a sua intrigante banda sonora composta por Yasunori Mitsuda que ganhou fiéis seguidores depois de ter sido o responsável pelas sonorizações de Chrono Trigger ou da série Shadow Hearts.

No que toca ao universo deste jogo propriamente dito estamos perante uma grotesca aventura onde a magia guia os seus personagens sendo que o sacrifício, ou não, da alma é um destino inevitável. A Humanidade encontra-se perdida e aqueles que têm o privilégio de manter a vida estão presos e esperam um trágico final nas mãos do impiedoso feiticeiro Magusar.

Assumido o papel de um desses escravos o jogador oferece-se para mudar o trágico destino entretanto conferido à Humanidade e a esperança surge depois de ler um diário demoníaco de características muito especiais sendo uma delas o facto de estar vivo e que guarda consigo o segredo que pode mudar a penumbra que confere uma negra áurea ao mundo e que é sinónimo da derrota do seu malvado raptor.
Este livro especial possibilita ainda ao jogador, na companhia da enigmática Sortiara, reviver contos e fantásticos acontecimentos passados que relatam batalhas com feiticeiros e monstros que desafiam a imaginação dos mais sonhadores.

Esta demanda é disputada em vários cenários sitiados que apenas podem ser explorados e ultrapassados depois de mortas as alucinantes criaturas que os habitam e condenando, ou salvando, as suas almas. Ao optar-se por salvar uma alma a nossa defesa fica reforçada enquanto se optar pelo contrário o nosso herói ganha potência atacante e vê as suas armas, aqui conhecidas como oferendas, recarregadas.

Ao todo são admitidas seis oferendas que se transformam em vigorosos instrumentos de ataque e que dão ainda a possibilidade de transformar, ainda que temporariamente, o perfil do nosso personagem. Tendo em conta a linha do pensamento de todo este jogo, cada oferenda apenas pode ser utilizada um número limites de ocasiões ainda que os objetos mágicos que se encontram escondidos nos vários cenários deste jogo possam revigorar as já referidas oferendas e carregar as energias das mesmas após cada missão. No entanto, todo o cuidado é pouco pois o excesso de utilização destes itens pode findar os mesmos algo que apenas pode ser reparado recorrendo à bizarra Lacrima.

Em forma de exemplo, o nosso personagem pode utilizar pedras, árvores e outros objetos que se encontram nos cenários e que fornecem a capacidade de efetuar truques menos ambiciosos como o são a criação de uma barreira defensiva ou a utilização de uma espada. Obviamente, que quanto maior for a oferenda mais poderoso se torna o feitiço. Existe também a possibilidade do herói sacrificar partes do próprio corpo o que permite invocar demónios ou disparar traços de laser contra os inimigos.

Para um jogo que pauta toda a sua ação em forma de combate, Soul Sacrifice é bastante minimalista no que toca às mecânicas da luta em si e os seus criadores optaram pela simplicidade de movimentos. Apenas uma oferenda pode ser assumida e utilizada de cada vez e, por isso, os combos surjam com alguma paciência e apenas um dos comandos da consola pode ser utilizado. Se esperava por combos multi-comandos, esqueça.

Em combate a antecipação é um fator primordial e urge ser mais rápido que o inimigo. No que toca à defesa, e não existindo um comando de evasão, é necessário desenvolver bem a técnica de…ataque. As armas estão em harmonia com alguns elementos e devem ser utilizadas nos inimigos “certos” pois alguns revelam imunidade a alguns dos truques bélicos. Em alguns casos os confrontos podem ultrapassar largamente os trinta minutos de combate e, nesses casos especialmente, é fundamental conseguir uma interação entre todos os combos assim como na utilização dos cinco elementos: raios, pedra, gelo, fogo e veneno.

A capacidade e possibilidade e salvar ou sacrificar almas, dos aliados ou do próprio jogador é, sem dúvida, um das mais-valias deste Soul Sacrifice. Em cada nível ou patamar deste jogo os Archfiends (vulgo Boss) são feiticeiros que enlouqueceram com o poder e foram vítimas das vítimas que sacrificaram, almas essas que são libertadas aquando da sua destruição. Essa vitória dará ao nosso herói novos níveis de ataque que ao sacrificar cada Boss terá a sua recompensa. Mas se se optar por poupar a alma ao seu inimigo ganhará mais um importante aliado.

Se algum aliado morrer também pode ser alvo de sacrifício o que dará origem a um feitiço especial que entre os atributos permite empalar inimigos. Se optar por isso fique a saber que não poderá voltar a contar com a preciosa ajuda desses personagens a não ser que recorra à Lacrima. Ao salvar um desses aliados os mesmos ganham energia que permite continuar a sua trágica missão.

De acordo com a mesma lógica, quando o herói morre pode ser salvo ou sacrificado e as consequências que dai resultam possam ser capricho dos restantes feiticeiros. Tudo faz parte de um jogo de interesses e situações que podem colocar o nosso personagem num estado fantasmagórico. Existe também a possibilidade de dar alento energético aos nossos aliados ou retirar potência aos inimigos mas sem grandes resultados práticos diga-se. Apesar de parecer complicado, depois de alguns minutos a jogar a lógica de Soul Sacrifice é facilmente compreendida.

Uma das grandes qualidades deste jogo é a enorme quantidade de decisões que o jogador tem de fazer ao longo de todo o jogo e cada um dessas apostas revela-se decisiva no decorrer da aventura pois a escolha “acertada” entre o sacrifício e a salvação é sinónimo de diferentes níveis de dificuldade.

Existe também a possibilidade de obter poderosos feitiços quando os níveis de energia estão baixos. Por exemplo, o primeiro feitiço que temos acesso tem a capacidade de incendiar todo ao redor e a auto imolação significa proteção. Um nota importante: cada feitiço é finito a não ser, sim já adivinharam, se se recorrer à Lacrima o que implica voltar a recorrer ao nosso parceiro em formato livro.

Convém referir, ainda para mais sendo tão influente ao longo de toda esta caminhada, que o nome deste companheiro de páginas astutas é Librom, que para além dos já referidos poderes de Lacrima é uma das estrelas de Soul Sacrifice. Dono de uma “personalidade” maníaca com uma tendência óbvia para o pessimismo e assente num sarcasmo acutilante, Librom revela-se determinante a cada detalhe da estória.
A sapiência de Librom é uma das melhores características deste jogo que assenta no melodrama dos seus solilóquios e tiques grande parte da magia de Soul Sacrifice, um universo em forma de conto assombrado que faz das alterações cronológicas outro importante traço. A tragédia inerente a este discurso assume-se um forte complemento ao interesse que esta saga representa para além da exploração das referidas arenas de luta.

Um dos fatores menos interessantes deste jogo é que a sua jogabilidade está uns furos abaixo daquilo que a fantasia proporcionada pela presença de Librom representa pois Soul Sacrifice tem muitos momentos idênticos entre si e faz lembrar alguma da monotonia que encontramos em jogos como Assassins Creed, apesar de toda a sua fantástica envolvência gráfica.

O formato online não traz grandes novidades neste aspecto mas jogar em forma “cooperativa” é um aliciante bastante interessante. Apenas algumas missões podem ser jogadas desta forma e a não ser que se consiga a companhia de alguns amigos, as oportunidades de poder escolher uma missão é bastante reduzida tal como acontece noutros jogos do género que tenham a possibilidade de serem explorados através da Web.

Em jeito de balanço, Soul Sacrifice é um bom jogo mas exigia-se um pouco mais face a uma história tão bem pensada e com uns gráficos muito bem conseguidos. A atmosfera de toada gótica lembra uma amálgama entre o folclore japonês e a mitologia grega e o prazer de conhecer e eliminar monstros confere uma adrenalina assinalável enquanto sentimos na mão o prazer de ter uma máquina como a Vita. É também por conhecer as potencialidades desta consola que se reclama, com toda a autoridade, uma maior jogabilidade e mecânica ativa, pontos que parecem ter sido “esquecidos” face à intensidade e competência gráfica.

Ainda assim podemos ter a certeza de conseguir horas de prazer garantidas ao explorar os territórios de Soul Sacrifice, conhecer os tormentos de Magusar ou sentir na pele o negrume da presença de Librom. Se gosta de uma boa banda sonora, vai adorar os sons orquestrados para as batalhas bem como as guturais vozes de alguns dos personagens. Recomendamos ainda as aventuras disponíveis em formato online bem como os pacotes gratuitos de conteúdos DLC. Divirta-se!

In Rua de Baixo

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