terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Veronica Falls
"Waiting for Something to Happen"

A certeza depois da promessa



Menos de dois anos depois do seu homónimo LP de estreia, os londrinos Veronica Falls lançam “Waiting for Something to Happen” e suplantam com distinção a criação do “complicado” segundo álbum.

As almas e os corações de Roxanne Clifford (voz e guitarra), Patrick Doyle (bateria e voz), Marion Herbain (baixo) e James Hoare (guitarra e voz) continuam num universo próprio, onde as guitarras melodiosas e jangle, assim como as vozes despretensiosas mas muito competentes, nos levam de volta a ambientes nascidos no indie pop da década de 1980.

Os fantasmas, muito bem-vindos - diga-se - de gente como os R.E.M, The Smiths, Teenage Fanclub, Jesus and Mary Chain, e, aqui e além, alguma surf music, preenchem a linha sonora destes quatro rapazes cheios de boas intenções e com gosto pelos sons feitos com ambiente de garagem.

Mas “Waiting for Something to Happen” é, também, um passo em direção da maturidade. É certo que ainda assentam a sua dinâmica e estilo no conceito do single pop de três minutos, mas sente-se que estão mais seguros, mais aventureiros, mais competentes.

Ousados, na faixa de abertura, “Tell Me”, os Veronica Falls perguntam-nos: “Tell me, what are you thinking? Follow me, There’s no Reason to Stay”. E nós somos tentados a ir e ficar, devagarinho.

Ao chegar à segunda música do disco, “Teenage”, parece que já estamos há muito dentro dele. Após poucos segundos de audição, toda a magia dos Veronica Falls já está acumulada nos recantos no nosso cérebro e, sem hipótese de descanso, sentimos os pés a bater no chão. Queremos mais, eles dão. Nós aceitamos, damos o nó.

Talvez imbuídos por uma qualquer seta de um cupido com sede de guitarras e vozes melodiosas, avançamos para “Broken Toy”, uma das faixas maiores deste disco, viciante e desarmante. “If You Don’t Care, You’ll Never Care”, cantam os Veronica Falls e sentimo-nos o coração partido, qual brinquedo quebrado.

“Shooting Star”, uma das canções mais lentas do reportório da banda, tem muito das guitarras de Black Francis e do baixo dolente de Kim Deal, bem como uns pózinhos de um certo unplugged celebrizado por um trio de Seatlle. No fundo, uma fórmula condenada ao sucesso.

A faixa-título do álbum é mais uma celebração aos tempos primaveris que se aproximam e “If You Still Want Me” e “My Heart Beats” são exemplos bem conseguidos da harmonia que existe entre as vozes de Roxanne e James, que são, de facto, complementares e talvez o instrumento mais importante na filosofia musical da banda.

Teimosos e cientes do que querem, os Veronica Falls seguem o seu caminho assente em melodias uptempo que roçam o estado eufórico. Exemplos disso são “Everybody’s Changing” e “Buried Alive”, canções que, para além da sua competência, também apontam para uma evolução lírica.

Uma das canções mais orelhudas deste disco é a doce “Falling Out”. O diálogo inicial entre bateria e baixo, apoiadas na voz melodiosa de Roxanne, é muito bem conseguido. A música cresce e ganha corpo com o avançar dos segundos. Ouvir esta música apenas uma vez sabe - acreditem - a muito pouco. Mais rápida, “So Tired” afasta a letargia e coloca mais adrenalina nos nossos ouvidos.

Até ao final do disco, restam-nos “Daniel” e “Last Conversation”, duas músicas repletas de elegância, e criadas tendo com base a anteriormente frisada maturidade da banda, sem que tal coloque em causa qualquer tipo de constrangimento no restante corpo do disco.

Muito longe do nome da última faixa deste disco, os Veronica Falls têm ainda muito para nos dizer e, essencialmente, fazer ouvir. Longe do estatuto de “promessa”, epíteto ganho aquando do lançamento do disco de estreia, este quarteto é uma certeza. Este conjunto de (belas) canções são um excelente motivo para nos agarrarmos, com esperança, ao que as novas bandas podem fazer pelos nossos ouvidos.

Ouvir este disco é sentir o verão dentro da música, é agarrar a cadência que resulta do calor dos acordes simples, mas deliciosos. Não terá o efeito surpresa do disco de estreia mas - quase que apostamos - que em dezembro próximo “Waiting For Something to Happen” vai figurar nas listas dos melhores do ano.
Alinhamento:
01. Tell Me
02. Teenage
03. Broken Toy
04. Shooting Star
05. Waiting For Something to Happen
06. If You Still Want Me
07. My Heart Beats
08. Everybody’s Changing
09. Buried Alive
10. Falling Out
11. So Tired
12. Daniel
13. Last Conversation

Classificação do Palco: 8/10

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