quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

“O CANTO DE AQUILES”
de MADELINE MILLER

Clássico revisitado



É já no próximo dia 22 de Fevereiro que chega às livrarias o mais recente vencedor do Orange Prize de 2012, um dos prémios mais conceituados da literatura de ficção a nível mundial.

“O Canto de Aquiles”, com chancela da Bertrand, primeira obra da jovem escritora norte-americana Madeline Miller, arrebatou o júri do referido galardão com uma revisão muito particular de um dos maiores clássicos da literatura mundial, “A Ilíada” de Homero, e nomeadamente do mito de Aquiles.

Miller escreveu um romance cativante e muito dinâmico que se concentra na relação entre Aquiles e Pátroclo, sendo que este último acumula ao papel de personagem a função de narrador. Assim, é através dos olhos de Pátroclo, um jovem príncipe tímido e franzino que acaba exilado na ilha de Peleu – pai de Aquiles – depois de ter morto acidentalmente outro jovem, que embarcamos nesta maravilhosa viagem. À medida que a relação entre Aquiles e Pátroclo cresce, a intimidade e ligação entre os mesmos transforma-se numa profunda história de amizade e paixão que arrisca a punição divina.

Quando todos os heróis gregos são chamados ao palco do conflito de Troia, Aquiles, sedento de glória, abraça a causa e com isso “arrasta” Pátroclo a juntar-se ao seu companheiro, ainda que com o coração divido entre o amor e o receio do fracasso.

Segundo a autora, este livro é o concretizar de um sonho de criança, pois era ao som das palavras da “Ilíada” que adormecia. Mais tarde, durante a sua formação académica, a paixão pelos clássicos levou-a a estudar grego e latim, e o constante regresso à trágica obra de Homero era o seu modo de vida.

Ao escrever esta obra, Madeline Miller apropria-se deste capítulo dos clássicos e afasta qualquer tipo de cepticismo através de uma escrita muito cativante, carregada de suspense e com uma capacidade humana própria de quem está apaixonado pela sua demanda, de quem entrega a alma à escrita.

Mais do que uma nova visão dos clássicos, “O Canto de Aquiles” é um romance que tem dois heróis antagónicos que se completam. Miller consegue, de uma forma muito competente, mostrar que um personagem com uma vida banal e sem o poder dos escolhidos pelos deuses pode fazer escolhas importantes e, com isso, tentar tornar este mundo num local mais aprazível. Pátroclo assume-se mesmo como o “herói” da contenda, revelando-se um personagem complexo, maravilhosamente “desenhado” pela autora e que, ao longo da história, tem na sua honestidade uma arma mais eficaz que qualquer artefacto bélico de Aquiles ou do seu arqui-inimigo Heitor. Em “O Canto de Aquiles”, o poder de Zeus e Tétis é “subjugado” face à pureza de um sentimento acima de todos os desígnios.

As quase 340 páginas deste livro de contornos épicos levam o leitor ao fantástico mundo dos clássicos da literatura e, quase sem darmos por isso, devoramos as suas desventuras num ápice, totalmente entregues a uma narrativa de contornos acessíveis que extravasa o cenário clássico e aproxima-se de um thriller feito em Hollywood. Ao contrário do mito de Aquiles, este livro não tem um calcanhar que se possa revelar fatídico e é uma das boas surpresas literárias que 2013 já nos trouxe.

In Rua de Baixo

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