domingo, 1 de maio de 2016

“Uma Questão Pessoal”
de Lee Child

Ajuste de contas com o passado


O lançamento deste título tem causado alguma celeuma junto dos fãs de Lee Child, pseudónimo do escritor britânico Jim Grant, que ficou conhecido no universo dos thrillers como o criador do personagem Jack Rachter, a figura central de “Uma Questão Pessoal” (Bertrand, 2016).

A controvérsia surgiu pois a narrativa difere um pouco dos restantes títulos com Rachter no epicentro, com a mesma a revelar-se menos dinâmica (algo que no nosso ponto de vista não prejudica a globalidade do livro), sendo que os cenários da trama se concentram maioritariamente no território europeu em vez do tradicional e exclusivo cenário norte-americano.

Tudo começa com um atentado ao presidente francês em Paris, aquando de uma reunião do G8. Na sequência deste acontecimento, Jack Rachter, ex-militar, é contratado pelo Departamento de Estado e pela CIA para descobrir o autor do disparo. Sabendo-se que a bala tinha o selo norte-americano as suspeitos crescem pois são poucos os snipers que conseguem um tiro limpo a mais de um quilómetro de distância.

No topo da curta lista de suspeitos está o dissidente John Kott, um norte-americano que está novamente em liberdade depois de passar 15 anos atrás das grades e que, em tempos, foi uma das “vítimas” da excecional capacidade profissional de Rachter.

Mas, desta vez, e para desagrado do próprio, Jack Rachter não está sozinha na caça ao homem. Por companhia tem a inexperiente Casey Nice, uma analista viciada em Zoloft, um poderoso antidepressivo.

Pelo caminho esta dupla vai enfrentar um raivoso exército de mafiosos e implacáveis sérvios e o sucesso de toda a operação depende exclusivamente deste improvável par. Enquanto se embrenha naquela que é uma das mais perigosas missões da sua vida, Rachter não consegue tirar do pensamento alguém que em tempos não conseguiu salvar. Mas agora tudo deve ser diferente e mais que procurar um assassino, o ex-militar quer ajustar contas com o passado e a salvar a honra é a sua maior arma.

A ação divide-se entre a paisagem rural do Arkansas e, principalmente, Paris e Londres. As manobras de Rachter e Nice vão conseguindo, a custo, debelar obstáculos e, no final da trama as surpresas, ou revelações, vão surpreender os mais acérrimos fãs de Child.

Ainda que não seja o melhor livro do autor britânico, “Uma Questão de Honra” é um livro eficiente, escrito na primeira pessoa, que navega através de uma complexa conspiração recheada por muitos e competentes personagens.

No plano global, a narrativa é bastante real e o foco na capacidade estratégica dos protagonistas, assim como a competência para Lee Child descrever ambientes, afasta qualquer fantasma de tédio ou o perigo de se cair numa filosofia tão querida aos filmes de ação made in Hollywood.

Rachter é, como habitualmente, o elemento mais bem construído da trama, principalmente devido a um perfil duro, descomprometido e pragmático mas também dono de um sentimento de humor assinalável e, uma surpresa ou talvez não, um nobre sentido cavalheiresco.

É certo que um certo “excesso” analítico das personagens não torne a ação tão fluida como alguns por certo gostariam mas esse “travão” não prejudica o resultado final do livro que é altamente recomendável para todos os seguidores de Child assim como fãs de thrillers.

In Rua de Baixo

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