terça-feira, 23 de junho de 2015

Faith No More - “Sol Invictus”

Eles importam, e muito!


Formados no início da década de 1980, os californianos Faith no More “criaram” um som que fundia rock, um funk musculado e algumas doses de ambiente metaleiro. Aliado a esse padrão sonoro chegaria, mais tarde, a voz especial e elástica de Mike Patton, que, dentro do universo rock das últimas décadas, apenas encontrou paralelo em termos de versatilidade em nomes como, por exemplo, Jeff Buckley ou Chris Cornell.

Ao quarto álbum, em 1992, os Faith no More exploraram a veia experimental ao limite e com “Angel Dust”, um dos melhores e mais complexos discos dos anos 1990, deram a conhecer hinos incontornáveis como “A Small Victory”, “Midlife Crisis”, “Be Agressive” ou “Everything Ruined”.

Numa altura em que a Internet era apenas uma miragem, os Faith No More ousaram vender mais de três milhões de discos no mundo inteiro, para mais quando o fenómeno Nirvana estava no auge. E, já que falamos na cena Grunge, atribuir apenas às bandas de Seattle a responsabilidade da emergência do movimento designado por metal alternativo é grande redundância, pois na génese do género estiveram grupos como os Therapy, Primus e, claro está, os Faith No More, principalmente pelos riffs poderosos de Jim Martin, pela batida sincopada de Mike Bordin e as acrobacias vocais de Patton.

Depois disso, com algumas convulsões no seio da banda, com a saída de Martin a ser um dos maior rombos no casco do navio, os Faith no More editariam “King For a Day...Fool for a Liftime” e, mais tarde, “Album of the Year” - bons trabalhos mas longe de “Angel Dust”. Para adensar a crise, Mike Patton apostaria em direções mais a solo.

Até que chegamos a “Sol Invictus”, inesperado novo disco dos Faith No More, que opta por seguir os trilhos deixados em 1997 – talvez com a exceção de “Motherfucker”, que remete claramente para os primórdios da banda – com um devido upgrade criativo, possibilitando, 18 anos depois, encher os nossos ouvidos com um punhado de grandes e refrescantes temas.

Sob a batuta do velho companheiro de luta Matt Walace na produção, “Sol Invictus” revela uns Faith no More conscientes do seu potencial e os primeiros dois singles, “Motherfucker” e “Superhero”, ilustram as muitas faces da banda. Se no primeiro caso estamos perante um clima tenso, opressivo e, a espaços, operático, “Superhero” tem um perfil mais direto e rock, onde os riffs convivem na plenitude com a presença de um piano quase fantasma.

A versatilidade dos Faith No More é uma constante no álbum e “Matador”, por exemplo, é uma elaborada produção com mais de seis minutos em crescendo, cujos primeiros instantes remetem para ambientes baladeiros, principalmente por culpa de um piano planante, mas que evoluem em direções mais pesadas com Patton a cantar "We will rise, from the killing floor", já com o baixo e a bateria a tomarem conta do ambiente.

Em momentos como “Black Friday”, que lembra amiúde o crossover dos suíços The Young Gods dos tempos de “Enjoyé”, Mike Patton faz gala em mostrar como a sua voz continua indomável, livre de géneros e preconceitos, algo também comprovável em episódios mais escuros como “Cone of Shame” e “Separation Anxiety”, duas das composições mais emblemáticas e poderosas de “Sol Invictus”.

Já “Sunny Side Up” mostra o lado mais cool da banda californiana, enquanto o potente “Rise and Fall” faz recuar ao já referido “Angel Dust”. Não descuraria do seu alinhamento ou de algum “lado B” de uma canção do disco de 1992.

Analisado na globalidade, “Sol Invictus” é um disco sólido, orelhudo e que, felizmente, contraria quem duvidava da qualidade dos temas apresentados quase duas décadas depois de “Album of the Year”, um trabalho que não entusiasmou muito os fãs da banda. Ao contrário dos vinhos que precisam de ar para respirar, ganhar sabor, “Sol Invictus” é um puro deleite ao primeiro gole e deixa um travo que mistura saudade de outros tempos e umas pitadas de um presente sonoramente aveludado, e que inebria quem o prova.

Alinhamento:

01.Sol Invictus
02.Superhero
03.Sunny Side Up
04.Separation Anxiety
05.Cone of Shame
06.Rise of the Fall
07.Black Friday
08.Motherfucker
09.Matador
10.From the Dead

Classificação do Palco: 8,5/10

in Palco Principal

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