sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Zola Jesus
"Taiga"

Pop, com substância



Nativa de um espaço sideral musical próprio, a norte-americana Nika Rosa Danilova, aka Zola Jesus, amalgama na sua música pitadas de eletrónica, pop e devaneios clássicos que interagem com laivos de um sentido retirado da dark wave e de uma faceta mais limada do som industrial.

Apesar de rol concetual anteriormente referido, o perfil de “Taiga”, o mais recente trabalho de Zola Jesus, encontra a definição perfeita nas palavras da própria artista. Para a antiga estudante de filosofia e autora de discos como “Stridulum II” e “Conatus”, o som deste disco reúne “a frieza de uma montanha e a brutalidade da sua rudeza, mas é, no fundo, um lugar que, quando bem explorado, exibe traços de uma clara sensibilidade”.

Ao quinto álbum, Zola Jesus apresenta um disco descaradamente pop, ainda que longe da sua vulgar terminologia. A interdisciplinaridade da norte-americana de ascendência russa levou-a, nos últimos tempos, a colaborar com vários nomes da música, entre os quais se salientam as parcerias com Jamie Stewart, líder dos Xiu Xiu, Orbital e M83.

O crescimento de Zola Jesus enquanto pessoa e artista tem sido patente na evolução e transformação do seu som. Se na era “Stridulum” eram as ambiências industriais que se destacavam, “Versions” ousava exibir uma faceta mais melancólica. Assim, como síntese dessa evolução, “Taiga” reflete essa bipolaridade sonora e apresenta temas que navegam em oceanos com diferentes ondulações, e “Hunger” é um dos maiores exemplos dessa simbiose. Já “Go (Blank Sea)” revela um som mais atmosférico, que nos leva até aos finais da década de 1990, onde o post-rave era uma realidade emergente. Ainda que diferentes, estes dois temas têm em comum uma excelente capacidade dramática, sentimento esse que, felizmente, se faz sentir ao longo de todo o disco.

Misto entre luz e escuridão, som e silêncio, “Taiga” apresenta algumas composições que nos conquistam na primeira audição. “Dangerous Days” é uma desses exemplos e o seu perfil descaradamente dançável acelera a libido musical de forma instantânea. Ainda que sob uma atmosfera mais tímida, “It’s Not Over” é outra das grandes canções de “Taiga”, e o seu carácter (semi)épico faz lembrar prestações de gente como Lana del Rey e Sia aquando da banda sonora do filme “The Great Gatsby”. Também “Hollow”, de inspiração house, se salienta em “Taiga” e merece o devido destaque.

Ao contrário de discos anteriores, Zola Jesus não recuperou nenhum antiga composição, apresentando-a com outras roupagens (“Sea Talk" surge em três trabalhos ainda que com perfis dispares), e isso pode ser assumido com um corte para com o passado. “Taiga” é, também por isso, um disco que reflete toda a influência musical de Zola Jesus, que não tem qualquer problema em combinar influências de bandas como os Joy Division com a musicalidade mais “casta” de Kate Bush, e compor o cenário com pitadas R&B e resquícios industriais, ainda que pouco abrasivos.

Sob uma batuta pop, “Taiga” é o álbum mais maduro de Zola Jesus e também a sua primeira parceria com Dean Hurley na produção, nome associado ao universo mais cinematográfico de David Lynch, e resume aquilo que esperamos de um grande disco: inspiração, ambientes diversos e excelente música.

Alinhamento:

1. "Taia"
2. "Dangerous Days"
3. "Dust"
4. "Hunger"
5. "Go (Blank Sea)"
6. "Ego"
7. "Lawless"
8. "Nail"
9. "Long Way Down"
10. "Hollow"
11. "It’s Not Over"

Classificação do Palco: 8/10

In Palco Principal

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