segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Peixe:avião
"Peixe:Avião"

Sons de sentido único



Braga é um dos maiores «ninhos» culturais de Portugal e, no que toca à música, são muitos e bons os exemplos que nos chegam da cidade dos Arcebispos.

Depois dos seminais “Mão Morta”, eis que os “Long Way to Alaska” e “Peixe:Avião” surgem no horizonte mais indie, a reclamar por um lugar de destaque no panorama musical nacional.

Formados nos dias mais quentes de 2007, os “Peixe:Avião” chegam agora ao seu terceiro longa duração e podemos dizer que o disco homónimo da banda de José Figueiredo, Luís Fernandes, Pedro Oliveira e Ronaldo Fonseca revela-se num patamar acima daquilo que “40:02” (2008) e “Madrugada” (2010) representavam. Se no disco de estreia eram notórias as (boas) influências de Thom Yorke e companhia, “Madrugada” já revelava um som em busca de uma identidade própria, sendo que a banda explorava caminhos mais experimentais, bem próximos dos universos krout-rock e post-rock.

Os nove novos temas de “Peixe:Avião” mostram uma banda mais madura cuja música assenta num misto de batidas rock (por vezes a roçar o minimal), temas que exploram o lado mais etéreo e planante, e composições dentro da aventura experimental com laivos sónicos.

Ainda que estejamos perante um disco que exiba traços de alguma bipolaridade sonora, o seu conjunto está assente numa lógica coesa e que tem na voz, em forma de brisa, de Ronaldo Fonseca um dos seus pontos mais aglutinadores e unos.

“Prismas” é a faixa que abre o disco e de imediato somos contagiados com o ritmo guloso da bateria que apadrinha a entrada da guitarra e da ambiência eletrónica que decora o fundo. A toada maquinal, riffs e feedbacks conferem uma forte densidade que tem na voz um ponto de equilíbrio. Um excelente começo onde o ruído é muito bem recebido.

O disco prossegue com “Ponte de Fuga” e “Pele e Osso”, dois exemplos da heterogeneidade da música dos “Peixe:Avião”. Se no primeiro caso estamos em território rock, com guitarras e bateria a assumirem o controlo geral (por vezes o som aproxima-se do imaginário criado pelos Dead Combo), em “Pele e Osso” já é a eletrónica quem mais ordena e a toada é mais fria, ainda que bastante atraente.

“Espirais” mostra a faceta instrumental da banda bracarense e o resultado é uma composição envolta de um suspense formado através de uma espiral sonora com tendências sónicas. Esse ambiente ganha novos contornos ao ouvir-se os primeiros acordes de “Avesso”, uma das canções mais orelhudas e dançáveis deste disco, cuja batida irresistível serve de rastilho.

Logo a seguir, “Torres de Papel” baixa um pouco de intensidade rítmica, mas mantém uma batida eletrónica dolente, sinónimo de um sentimento de vigília contínuo. “Ecos” continua o interessante percurso de “Peixe:Avião” e revela-se uma das faixas mais enigmáticas e competentes do álbum. A voz faz a ponte entre instrumentos e cada um desses elementos cabe na conta e medida certa. Sem dúvida um dos momentos mais perfeitos e pop deste disco.

Os últimos dois temas do disco, “Voltas Cegas” e “Amarras”, são duas peças envoltas de um eficiente pragmatismo rock sincopado, ainda que as cordas e bateria/baixo dividam o protagonismo em “Voltas Cegas”, enquanto “Amarras” tem um perfil mais maquinal.

Independentemente das toadas mais “cinza” ou coloridas do seu todo, “Peixe:Avião” é um disco coeso e de corpo inteiro. O jogo entre filosofias mais orgânicas e maquinais revela um equilíbrio assinalável e o resultado é um disco adulto e altamente recomendável.

Alinhamento:

01.Prismas
02.Ponto de Fuga
03.Pele e Osso
04.Espirais
05.Avesso
06.Torres de Papel
07.Ecos
08.Voltas Cegas
09.Amarras

Classificação do Palco: 8/10

In Palco Principal

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