quarta-feira, 18 de setembro de 2013

“A CASINHA DOS PRAZERES”
de JEAN-FRANÇOIS DE BASTIDE

A Arquitetura da Paixão



De acordo com as próprias palavras do autor, “a linguagem do amor é um acorde perfeito”. Ao longo das linhas deste curto romance de paixão, sedução e deslumbramento vamos sentir, com uma intensidade notável, a melodia desse sentimento que busca, na sinceridade, uma legitimidade que abala qualquer tentativa de devaneio, combatendo com acérrima e decidida consistência a falência de uma entrega desprovida de sentido.

É com puro deleite que falamos de “A Casinha dos Prazeres”, do francês Jean-François de Bastide, autor que ficou conhecido como um dos grandes impulsionadores da chamada literatura libertina, género muito comum em França no século XVIII e que teve, como mestre maior, Crébillion. Com uma linguagem barroca a invocar o “erotismo”, estes romances apaixonaram inúmeros leitores, ainda que muitas dessas obras – algumas condenadas ao ostracismo – não tenham almejado grande sucesso ou divulgação.

Bastide foi um dos mais injustiçados e, muitas das suas obras, não tiveram a visibilidade de outros livros publicados por nomes como Duclos, Denon, Voisenon, Dorat ou Chervrier. Assim, e de forma a repor alguma justiça literária a este romance em forma de narrativa de toadas arquitetónicas, a editora Abysmo faz chegar até nós o relato sedutor entre o marquês de Trémicour e o seu “objeto” de desejo e paixão, a bela Mélite.

As páginas de “A Casinha dos Prazeres” fazem-nos percorrer um diálogo enamorado entre os dois personagens que tentam ganhar uma aposta e, acima de tudo, novos níveis de intimidade. Enquanto o marquês usa a sua “petite maison” – edifícios comuns entre a burguesia francesa no século XVIII que serviam de ninhos de amor para os seus proprietários – nas margens do Sena e os seus tesouros em forma de peças donas de uma arquitetura sedutora, Mélite tenta, a custo, resistir à beleza de uma casa que se assume como um paraíso terreno repleto de obras de arte. Paralelamente ao propósito deste canto em forma de passeio galanteador e obsessivo, ao leitor é permitida uma viagem que mistura amor e história da arte decorativa, devidamente documentada nas notas de rodapé deste cativante livro.

Publicado pela primeira vez em Portugal, “A Casinha dos Prazeres” é editado com um requinte igual ao seu conteúdo. Para além da capa aveludada, a Abysmo convidou Susana Oliveira e António Mega Ferreira para os “prefácios” e ofereceu algumas páginas a Álvaro Siza Vieira.

In Rua de Baixo

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