segunda-feira, 27 de junho de 2016

“Os Últimos Sete Meses de Anne Frank”
de Willy Lindwer


A História recente tornou um relato como “O Diário de Anne Frank” num dos livros mais comoventes e importantes de todos os tempos, assumindo o estatuto de importante testemunho de um dos seus períodos mais negros. Aquilo que seria apenas uma forma de a pequena Anne tentar ordenar o caos (e a dor) que reinava na sua cabeça, é um autêntico marco da “literatura” em forma de quase confissão.

Muito se tem falado, escrito ou visto sobre o rescaldo do Holocausto mas, ainda assim, continuam a existir algumas pontas soltas, pormenores que podem fazer a diferença no estranho acto de tentar entender a razão de tamanhos e desumanos actos.

E é essa (tentativa de) contextualização que levou o cineasta holandês Willy Lindwer a escrever “Os Últimos Sete Meses de Anne Frank” (Vogais, 2016), que pretende reunir mais peças do puzzle que se tornou o percurso da família Frank em plena Segunda Grande Guerra. O livro surge na sequência do documentário televisivo homónimo – que teve honras de ganhar um Emmy -, mas cujo título pode remeter para alguma incongruência ou assumir-se como algo forçado pois, o seu conteúdo, transcende a pessoa de Anne, sendo no mínimo estranho dizer-se no prefácio do livro que todas as testemunhas conheceram Anne Frank – quando, num caso em particular (Hannah), a entrevistada nasceu depois da sua morte.

Para o documentário e livro Lindwer falou com seis mulheres, todas elas assombradas pelo fantasma comum da guerra e do stress emocional associado e que, de uma forma mais ou menos directa, tiveram contacto com Anne Frank ou os seus familiares,nos últimos sete meses da sua vida em Westerbork, Auschwitz e Bergen-Belsen – mas que conseguiram algo que a pequena Anne não conseguiu: sobreviver.

O resultado são seis poderosos testemunhos cujo conhecimento vem ajudar a perceber melhor o infernal quotidiano dos judeus à mercê do III Reich. Utilizando políticas de intimidação sem precedentes, Hitler construiu um rasto de devastação humana, e são esses testemunhos que estão bem presentes nestes seis relatos que mostram alguns traços que extravasam aquilo que Anne Frank escreveu no seu famoso diário, revelando mais dor, violência e crueldade humana.

“Os Últimos Sete Meses de Anne Frank” centra-se essencialmente nas memórias de Hannah, Janny, Rachel, Bloeme, Lenie e Ronnie, revelando uma outra profundidade da perversidade do genocídio nazi e que pode, nas entrelinhas, aproximar o leitor do universo de Anne Frank.

In deusmelivro

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