domingo, 14 de fevereiro de 2016

Placebo MTV Unplugged

Baralhar e voltar a dar, com classe 

 

Perde-se a conta à quantidade de concertos versão unplugged que terão sido apadrinhados pela MTV. O primeiro obriga-nos a recuar até 1989 e o palco esteve às ordens de um trio composto pelos Squeeze, Syd Straw e Elliot Easton.

Mas, e de um ponto de vista assumida e confessamente egocêntrico, alguns dos melhores momentos registaram-se na década seguinte. Coincidentemente, ou não, foram as prestações de bandas como, por exemplo, Pearl Jam, Nirvana ou Alice in Chains, membros fortes do movimento grunge, que assaltam a memória coletiva.

A desconstrução daquela música mais “agressiva” em algo mais cru revelou-nos uma outra face dos músicos e dos acordes idealizados por si. Com a eletricidade em modo (quase) off, as canções cresciam assim como as suas interpretações.

Os candidatos a esta performance criada pelo canal norte-americano tornaram a mesma numa espécie de ritual de particular excelência e exclusividade. Ter o privilégio de atuar na versão Unplugged significava, para muitas bandas, o reconhecimento definitivo do seu estatuto.

Aliada a esses méritos está também a natureza da própria veia musical de algumas bandas que pela sua raiz está quase que destinada a ser chamada ao placo unplugged. Nesse nicho inclui-se o coletivo de Brain Molko, Stefan Osdal e, mais recentemente, Steve Forrest.

Foi isso que os Placebo resolveram fazer quando se aproxima o vigésimo aniversário do grupo e dessa ideia resultou “Placebo MTV Unplugged”, uma aproximação ainda mais criativa ao reportório declaradamente rock da pandilha de Brain Molko e que surge na retardada ressaca da edição de “Loud Like Love”, sétimo álbum dos Placebo e editado em 2013.

Com cerca de 12 milhões de discos vendidos e com presença habitual nos lugares cimeiros dos topes mundiais, os Placebo lograram fazer o que poucas bandas conseguiram deliciando fãs oriundos de uma fação mais mainstream como do espectro indie.

Com edição CD, DVD e Blu-Ray, “Placebo MTV Unplugged” é uma excelente coleção de 17 canções e momentos que vão ficar na memória dos milhões de fãs do trio britânico, fruto de um espetáculo visual e sonoro pensado ao segundo, acorde e frame, também ele abrilhantado por uma especial dupla de convidados na voz e um conjunto “sinfónico” que torna a música da banda mais épica.

O concerto começa com a balada “Jackie”, um original de Sinéad O’Connor, e com a voz de Brian Molko descaradamente dolente a salpicar o silêncio da sala através de uma clareza cativante que apenas é alvo de desarme por parte do eco assombrado das teclas do piano e dos acordes da sua guitarra.

As intervenções de Molko durante a apresentação, ainda que curtas, conferem outro sal à performance e vagueiam por entre momentos contextuais, episódios de boa disposição ou comentários de agradecimento.

Mas é a música que, obviamente, mais se destaca. “36 Degrees” e “Because I Want You”, esta última numa versão apaixonada, emotiva e arrebatadora, eleva a expectativa de quem ouve, vê e sente este unplugged. A audiência, rendida à partida, envolve-se sobremaneira ao longo do concerto e reflete também ela a emotividade que emana do palco.

“Every You Every Me”, canção-hino dos Placebo, faz com que o microfone seja dividido entre Brain e Majke Voss Romme, cantora dinamarquesa dona de uma voz quente que eleva o lirismo da canção.

A seguir, “Song to Say Goodbye” acelera o ritmo que volta a ser quebrado por dois apontamentos maravilhosamente escuros: “Meds” e “Protect Me From I Want”, este ultimo momento partilhado com Joan as Police Woman.

Sempre assertivos, e arrebatadoramente calmos, os Placebo transvestem mais algumas canções. “Too Many Friends” torna-se numa balada doce e “Post Blue”, depois de uma arrebatada declaração de amor de Molko à sua guitarra inspiradora e maltratada, numa grandíssima canção que cresce com os violinos que a acompanham.

De surpresa em surpresa, de canção em canção, ou por via de momentos de especulativa afinação instrumental, o concerto desenrola-se e arrasta consigo momentos como “Slave to the Edge”, “Without You I’m Nothing” e “Hold On to Me”. Perto do final, os Placebo reservam mais uma excelente surpresa.

“Bosco” tem a sua primeira apresentação ao vivo e é sinónimo de um dos momentos mais bonitos de todo o concerto. Depois, Brain Molko e seus pares fazem a habitual vénia aos Pixies com uma versão emotiva de “Where is My Mind”, prestes a passar essa mesma fronteira pois os Placebo também já tornaram esta canção como algum seu. O derradeiro ato é uma versão de outro clássico e o final está longe da amargura que é apregoada em “The Bitter End”.

Contrariando alguns momentos MTV Unplugged em que as bandas se resumem a tocar guitarras e pianos, os Placebo são mais ambiciosos e elevam os limites da própria experimentação com um elevado sucesso. O resultado é um disco, espetáculo (sonoro e visual), recheado de “novas” canções, emoções e momentos que vão deixam os fãs da banda orgulhosos e saciados.

Classificação do Palco: 8/10

Alinhamento:

01. Jackie
02. For What It’s Worth
03. 36 Degrees
04. Because I Want You
05. Every You Every Me
06. Song To Say Goodbye
07. Meds
08. Protect Me From What I Want
09. Loud Like Love
10. Too Many Friends
11. Post Blue
12. Slave To The Wage
13. Without You I’m Nothing
14. Hold On To Me
15. Bosco
16. Where Is My Mind?
17. The Bitter End

In Palco Principal

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