quinta-feira, 19 de março de 2015

LÅPSLEY
“UNDERSTUDY EP”

A IDADE DA INOCÊNCIA


Será que a música já está toda inventada, esgotada em si mesma? É a música vítima de si própria, um universo finito onde a criatividade está amarrada em cânones preestabelecidos, salvo raríssimas exceções?

Anualmente, a bem dos nossos ouvidos, surgem novas apostas sonoras, onde a originalidade, por vezes, está na capacidade de adaptar um conceito e transformá-lo da forma mais independente possível. Pode fazer-se magia com a inocente inexperiência, apenas com vontade, oportunidade e (muito) talento.

Holly Lapsley Fletcher, uma ainda teenager natural de Southport, Merseyside, é um desses exemplos. Começou a dar nas vistas há cerca de um ano, ao editar “Monday”, um EP que captou quase de imediato a atenção da "BBC Radio 1" e que navegava entre ondas de uns The XX, à boleia dos London Grammar ou James Blake.

Hoje, ao ouvirmos “Understudy”, o segundo EP da menina britânica, não nos espantamos ao saber que “Falling Short”, um dos singles do referido trabalho, atingiu um milhão de plays no SoundCloud, registando Låpsley cerca de vinte mil seguidores na plataforma.

Os tempos mudaram, a internet comanda a vida e Låpsley, paulatinamente, afirma-se com um valor seguro, e a sua pop eletrónica de cariz melancólico (e minimalista) levou o nome da menina de Liverpool a constar na lista dos críticos dos British Awards.

Com apenas quatro canções, “Understudy EP” é uma fantástica amostra da melhor música que se faz atualmente. O ambiente é reconfortante, simples, quente, e a sua inata simplicidade estrutural mescla sentimentos agridoces com um sublinhado sensível.

Como o melhor dos cozinhados, “Understudy”, oferece as calorias certas para uma refeição inesquecível. No ponto, as quatro canções do EP afastam a monotonia do quotidiano e Låpsley embala os nossos ouvidos com pérolas doces como “Falling Short”, com a candura de “Brownloud”, a revigorante “8896” e a mexida “Dancing”. Quatro pratos diferentes mas igualmente intensos e com um efeito saciante.

Sob qualquer perspetiva, estamos perante um disco fino, bem feito, como uma equação de emoções matematicamente irrepreensível. Låpsley gere música e silêncio de forma perfeita e a sua voz é parte dessa sintonia, um instrumento orgânico e delicado.

Tal como o próprio nome do EP, a música de Låpsley está ainda numa espécie de laboratório técnico e emocional, assente em várias camadas sintéticas, mas caminha sobre uma excelente base para o que aí vem. Resta saber como vai a britânica arrumar a sua conceção musical num conceito mais “ambicioso”, como é um álbum. Resta esperar, esperemos, pouco.

Alinhamento:
1.“Falling Short”
2. “Brownloud”
3. “8896”
4. “Dancing”

Classificação do Palco: 9/10

In Palco Principal

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