“Don’t think about making art, just get it done. Let everyone else decide if it’s good or bad, whether they love it or hate it. While they are deciding, make even more art.” Andy Warhol
domingo, 17 de julho de 2016
NOS Alive 16
Dia 1 Há química entre nós
Quando no início da semana as informações meteorológicas avançavam com a possibilidade de chuvas e trovoada para o dia que abria a 10ª edição do Festival NOS Alive, tememos que os deuses estariam de costas voltadas para com as dezenas de milhar de almas que invadiram o espaço, renovado e agora em tons verdes, do Passeio Marítimo de Algés. Mas não, o sol tomou conta do dia e, à boleia do astro-rei, vivemos mais um dia memorável no que a concertos diz respeito.
A única tempestade sentida foi a da emoção pura com a energia rock dos Biffy Clyro, a abordagem ora intimista ora eletrónica de John Grant, a boa surpresa em tons teen dos Wolf Alice, a habitual e despachada mestria dos Pixies, e a festa em forma de rave dos The Chemical Brothers. Tivemos ainda tempo para ver sósias geek de Cristiano Ronaldo, elementos de uma boémia claque belga, alguns alemães cabisbaixos e a amizade crescente entre o Wally e uma galinha. Afinal, tudo, ou quase, pode acontecer no NOS Alive.
19.25 – Biffy Clyro – Palco NOS
Na véspera de estrearem “Ellipsis”, o seu sétimo álbum, o trio escocês Biffy Clyro deu um (esperado) bom concerto, misturando aceleradas doses de um rock rasgadinho com momentos mais calmos, havendo espaço para reviver “velhos” clássicos e mergulhar de caras em novas canções. E foi mesmo com o primeiro single de “Ellipsis”, “Wolves of Winter”, que Simon Neil, James Johnston e Ben Johnston abriram um espetáculo que durou pouco mais de uma hora. Como habitualmente, Neil, exibindo um tronco nu e coberto de tatuagens, puxava por um público ainda contagiado pela luz do dia e algo contido, e mostrava como três velhos amigos podem fazer um bom rock and roll.
Aos poucos a energia da guitarra, baixo e bateria foi afastando a letargia que se vivia no enorme tapete verde instalado à frente do palco NOS com canções como “Victory Over the Sun”, retirado de “Opposites”, ou o clássico “Bubbles”, de “Only Revolutions”. Explorando, e bem, toda a sua discografia, os Biffy Clyro lançaram-se às feras com momentos de acalmia como “Mountains” ou a mais operática e orelhuda “The Captain”. A sintonia e simpatia que emanava no palco encontrava eco na multidão que se avolumava em frente ao palco e não foi com espanto que se cantaram, em uníssono, temas como “Black Chandelier”, “Machines” ou “Living is a Problem Because Everythings Dies”, e já no final do concerto, “Sounds Like Ballons” ou “Many of Honour”. Não que tivessem de o provar, os Biffy Clyro são um trio coeso, fundado na amizade mútua e no prazer de tocar e dar concertos e deixar a sua marca, não sendo por isso de estranhar que Simon Neil, orgulhoso, tenha acabado o espetáculo a agradecer e a gritar bem alto: «We are Biffy fucking Clyro!»
20.45 – John Grant – Palco Heineken
Ainda com os riffs dos Biffy Clyro na corrente sanguínea, corremos até a um Palco Heineken muito bem preenchido, e não foi preciso esperar muito para ver John Grant a assumir os comandos da tenda com o seu som misto de batidas eletrónicas com momentos mais introspetivos e baladeiros. De calções e t-shirt, foi um descontraído e bem-disposto Grant que “atacou” o público com um agitado “You and Me” para, logo de seguida, acalmar o ritmo, mas não a emoção, com duas canções mais negras como o são “Sigourney Weaver”, a dedicatória sentida à atriz que protagonizou a saga “Alien”, tema retirado de “Queen of Denmark”, e “Grey Tickles, Black Pressure” do disco homónimo lançado em 2015.
Já num ritmo mais próximo daquilo que David Bowie fazia nos anos 90, misturando beats eletrónicos com um rock espacial e algum espírito funk, “Voodoll Doll” devolvia a agitação ao palco Heineken. A sempre épica e doce “Glacier” encheu o público de uma emoção transbordante, o mesmo acontecendo, já perto do final da prestação do norte-americano, com “GMF”, de “Pale Green Ghosts”. A atuação terminaria com o público a dançar ao som de “Disappointing”, sem Tracy Thorn, infelizmente, mas cheio de alma, ou devemos dizer soul?
Escolhas e algum descanso
Como se de uma prova de obstáculos de tratasse, um festival exige sacrifícios e opções. Seguimos um caminho longo ou procuramos um atalho? Independentemente do trilho precisamos de algum tempo para recuperar forças. Foi isso que fizemos entre os concertos de John Grant e Pixies e, felizmente, tivemos o bom senso, e a sorte, de assistir aos momentos iniciais do concerto dos Wolf Alice que genuinamente surpresos com tamanha e calorosa receção não perderam tempo e dispararam “Your Love’s Whore” e “You’re a Germ”, dois exercícios pejados de guitarras bem secundadas por um coeso duo entre bateria e baixo e uma voz deliciosamente frágil.
Com pena nossa já só ouvimos os primeiros acordes de “Bros”, pois já estávamos a caminho do palco NOS mas fica a promessa que a próxima visita dos Wolf Alice terá honras de especial atenção.
22.45 – Pixies – Palco NOS
Entretanto era tempo de ver, mais uma vez, o regresso dos Pixies a terras Lusas. Longe vão os tempos da sua fantástica e esperada estreia no Coliseu dos Recreios no raiar da década de 90, mas é sempre um prazer sentir a energia do quarteto agora formado por Black Francis, Joey Santiago, David Lovering e, por enquanto, Paz Lenchantin. E tal como na noite memorável de 13 de junho de 1991, aquilo que ontem ouvimos e sentimos do Passeio Marítimo de Algés foi um verdadeiro desfile de adrenalina cuja empatia se faz única e exclusivamente através da música pois a verbalização dos Pixies é feita via guitarras, bateria e baixo, remetendo as palavras para as poesias das canções. Sem demoras “Bone Machine” irrompe do palco NOS e a multidão acolhe com fervor todos os acordes possíveis. Seguem-se, sem interrupções, “Head On”, habitual versão dos The Jesus and the Mary Chain, e “Wave of Mutilation”, esta última cantada com um coro de milhares de vozes, o mesmo acontecendo com a deliciosa e pejada de baixo, “Subbacultcha”.
Houve tempo para percorrer toda a discografia da banda mas os momentos com maior frieza por parte do público aconteciam quando o quarteto abordava as canções mais recentes como “Baal’s Back”, “Snakes” ou “Greens and Blues”. Exceção a essa momentânea apatia foram “Indie Cindy” ou a novíssima e algo mariachi “Um Chagga Lagga”. Para reaquecer as turninas, “Velouria”, “Monkey Gone to Heaven”, “Levitate Me”, “Tame” e “Gouge Away” não davam descanso a uma audiência composta por velhos e novos fãs da banda.
Empenhados, como habitualmente, os Pixies aumentaram a fasquia emotiva na parte final do concerto com Joey Santiago a atacar a guitarra de forma tão veemente que nem um pequeno contratempo técnico em “I Bleed”, que levou a uma rápida troca de instrumento, estragou o momento. Na derradeira parte do concerto, o quarteto ofereceu clássicos como “Tame” ou “Vamos” (com Santiago a sacar sons e feedbacks da sua guitarra de várias formas, pedindo mesmo emprestada uma baqueta a Lovering) mas foram “Where is My Mind” ou “Here Comes Your Man” que deixaram em êxtase todos os que estavam no palco NOS. A festa terminou com mais três grandes canções: “Caribou”, “Debaser”e “Rock Music”.
01.00– The Chemical Brothers – Palco NOS
Quando “Hey Boy Hey Girl” ecoou, sublinhado pelos néons verdes que emanavam do palco, muitos foram os que correram para ver e ouvir melhor o chamamento de Tom Rowlands e Ed Simons. Com um misto de admiração e satisfação dizia quem assistia ao concerto dos britânicos: «bolas, se começam assim isto vai bombar!”». E assim foi, sem paragens para respirar pois a britânica e maquinal dupla fechou a noite do palco principal com um concerto excelente. Ao longo de cerca de hora e meia, dançou-se ao som de clássicos como “Go”, “Do it Again”, “Galvanize”, “Star Guitar” ou “Setting Sun”.
Certos de que o casamento entre a imagem e o som é o caminho para a conquista da audiência, os milhares que ousaram ficar até ao início da madrugada no NOS Alive viram a mente invadida por criações que ganhavam vida podendo mesmo transformar-se, num ato de eletrónica magia, em balões. O (grande) final do concerto fez-se ao som do hit “Block Rocking Beats” e todos puderam seguir o caminho de casa com a alma cheia. Os mesmos que tanto se espantaram com o início do concerto confessavam que, finalmente, cumpriram a promessa de ver os The Chemical Brothers depois de uma inesperada situação que os impediu de abraçar a edição de 2011 do Alive que ainda se denominava Optimus. Vemo-nos daqui a cinco anos?
Fotografias: João Lambelho
In Palco Principal
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