“Don’t think about making art, just get it done. Let everyone else decide if it’s good or bad, whether they love it or hate it. While they are deciding, make even more art.” Andy Warhol
sexta-feira, 10 de abril de 2015
“A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te”
de Rosa Montero
Sob o epíteto da (quase) unanimidade, “A Louca da Casa” é o livro mais acutilante da madrilena Rosa Montero e uma referência da moderna literatura latina. Essa verdadeira ode à literatura – e aos escritores – foi responsável pelo empolar dos seguidores de Montero, leitores ávidos de bons livros que, há muito, queriam sentir, de novo, o génio literário da autora de obras como “Lágrimas de Chuva” ou “Instruções para Salvar o Mundo”.
E eis que surge “A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te” (Porto Editora, 2015), um (extraordinário) livro que nasce no seguimento de um imenso turbilhão emocional para Rosa Montero que perdeu o marido e deixou envolver-se nas memórias registadas por Marie Curie no seu diário.
Identificando pontos consonantes entre o pensamento de Curie e os seus próprios, Montero brota uma narrativa cujo universo se situa entre a memória pessoal e as recordações colectivas, através de uma peculiar análise contemporânea daquilo que se entende por dor, perda e consequente (tentativa de) superação.
Ao folhear este livro, o leitor depara-se com uma larga temática: o sexo, a vida, a morte, a ciência, o desconhecimento ou a sapiência, entre outros temas, fundem-se, unem-se, conjugam-se de forma natural e plena sob um atento olhar literário.
Essa visão globalizante faz com que leitor, obra e autora se sintam unos em “A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te”, nem que para isso seja necessário e presente ter a noção do luto, do fim. Mais do que um romance, estamos perante uma escrita (auto)biográfica cuja maior inspiração é a já referida Prémio Nobel da Física e da Química, que traça uma tangente cronológica entre dores, sentimentos e partilhas.
No cerne da questão está a fragilidade do ser humano, as suas fraquezas, os seus momentos menos bons. Estes são alguns dos mais utilizados ingredientes por Rosa Montero em “A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te” que reflecte, directamente ou não, um paralelismo entre vidas – entre Montero e Curie -, sem nunca descurar uma certa “reverência” por parte da primeira, uma admiração por uma personagem não consensual como o foi a investigadora e cientista polaca.
Aconselhável ao ser e sujeito humano, o mais recente livro de Rosa Montero é um potente tour de force, um testemunho em busca da redenção, uma revelação cruel daquilo que a realidade alheia, e própria, pode ser. O outro lado de Curie, o seu universo pessoal, é aqui revelado. O sucesso enquanto mulher da Ciência “escondia” um desequilíbrio emocional adensado no dia em que o seu marido não mais regressaria, da ânsia provocada pelo desespero de não mais (re)ver quem se ama.
Uma das particularidades mais “palpáveis” da escrita de Rosa Montero é a sua honestidade, algo que transmite boas vibrações, não se estranhando que “A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te” seja uma verdadeira seta apontada ao coração, sem género ou classificação premeditada, altamente recomendado (e emotivo) a todas as almas, sejam elas amantes ou não da prosa de Montero.
In deusmelivro
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