Deambulações pela Cidade Eterna
Catalão de gema, Enric González tem na escrita uma das suas maiores armas de sobrevivência. Foi jornalista quase durante duas décadas e enquanto correspondente do “El País” conheceu algumas das mais emblemáticas capitais da Europa.
Entre alguns dos acontecimentos que González teve a honra de relatar destacam-se o conflito do Golfo, as atrocidades genocidas do Ruanda ou as experiências nucleares no Atol de Mururoa.
As suas reportagens correram mundo e a qualidade das mesmas valeu-lhe reconhecimentos como o Prémio Cirilo Rodríguez, como melhor correspondente da imprensa espanhola, e o Prémio Cidade de Barcelona de Jornalismo.
Hoje, colunista do diário “El Mundo”, González consegue repartir a sua carreia enquanto homem das letras entre o jornalismo e o formato livro de crónicas de costumes e “guias citadinos”.
Depois de “Histórias de Londres”, publicado em 2012, chega-nos agora “Histórias de Roma” (Tinta da China, 2014), um fantástico livro que nos traz a magia da Cidade Eterna onde o tempo teima em permanecer muito lento e o passado é uma presença constante.
Tal como em “Histórias de Londres”, González consegue captar os tiques e pequenos segredos da capital italiana e encontra até algumas similaridades entre as referidas urbes sendo a loucura pelo futebol a maior das mesmas.
Mas Roma é especial. É caótica e melancólica. Tem um perfil secular que ganha luz com a companhia do Mediterrâneo. É uma cidade onde abundam os lugares e momentos envoltos de uma magia única.
Através deste livro captamos sensações ímpares de Roma assim como maravilhosas estórias, personagens, momentos e peculiaridades locais. Com uma paixão desmedida e absolutamente deliciosa, González relata-nos as suas aventuras na cidade eterna e mistura a mesma com apontamentos que envolvem gatos, pinturas de Caravaggio, a casa e campa do poeta Keats, a melhor pizzaria local, o sítio que serve o melhor café do planeta, Alberto Sordi, o corpo de Aldo Moro, as aventuras de um marques perverso, uma encomenda que corre meio mundo graças a um erro disparatado dos correios locais, os Papas, Berlusconi, uma igreja que ninguém quer que seja local do seu matrimónio, as conspirações, o futebol, claro, as barbearias, os santos e alguns milagres, com ou sem aspas, e muito, muito mais.
Tudo, ou quase, que existe sobre Roma e a sua história está nas páginas de “Histórias de Roma”, uma espécie de guia turístico descaradamente irónico, bem-disposto, cativante e muito bem escrito.
As cidades são muito mais que simples paisagens que servem como imagens dos bilhetes-postais. São espaços vivos, carregados de acontecimentos, segredos e maravilhas que se escondem atrás dos mais simples cantinhos.
Depois de Londres, González mostra-nos o outro lado de Roma e a vontade de apanhar o próximo avião para a cidade aumenta a cada página lida, devorada. Enquanto não o podemos fazer, “Histórias de Roma” é um excelente “genérico”.
In Rua de Baixo
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