“Don’t think about making art, just get it done. Let everyone else decide if it’s good or bad, whether they love it or hate it. While they are deciding, make even more art.” Andy Warhol
terça-feira, 15 de julho de 2014
“Amores Secretos”
de Kate Morton
Formada em Arte Dramática e Literatura Inglesa, a australiana Kate Morton é uma das mais reconhecidas autoras contemporâneas e regista livros editados em cerca de quatro dezenas de países, com vendas que superam a incrível marca dos oito milhões de exemplares vendidos.
Depois do sucesso com livros como “O Segredo da Casa de Riverton” e “O Jardim dos Segredos”, Morton faz chegar às livrarias “Amores Secretos” (Suma de Letras, 2014), um romance que revela a história de uma família britânica que esconde um terrível segredo com mais de cinco décadas.
O início da trama leva-nos de regresso a 1961, quando Laurel Nicolson, hoje uma atriz de grande sucesso, tinha apenas 16 anos e testemunhou um acontecimento que iria mudar a sua vida. Apenas Laurel e Dorothy, sua mãe, sabem que realmente se passou nesse dia aziago, mas nunca falaram sobre tal. Entre as duas apoderou-se um cenário de tácito acordo mudo.
Como um fantasma que teima em persistir, esse acontecimento nunca abandonou a mente de Laurel, que revive ciclicamente esses momentos intensos sempre na tentativa de os entender. O que levou a mãe a matar um desconhecido? Quem seria o homem que apareceu em Greenacres, a propriedade da família, no dia de aniversário do seu irmão mais novo, perdendo a vida depois de apunhalado com a mítica faca da família Nicolson? O que esconde Dorothy?
Estas dúvidas subsistem aquando da comemoração dos noventa anos de Dorothy. Estamos em 2011 e as filhas da matriarca, agora a lidar com as agruras do Alzheimer, resolvem fazer uma memorável festa de aniversário em Greenacres. Laurel sente que está perante a derradeira oportunidade de ver esclarecido o mistério que lhe assombra a existência.
A tentativa de deslindar o mistério leva Laurel a regressar a 1941, quando Dorothy era apenas uma adolescente impulsiva e cheia de planos que iam contra as ideias que os pais tinham para si. Trabalhar como secretária numa fábrica de bicicletas era muito pouco para a “extraordinária” Dorothy.
Numa viagem entre presente e passado, Kate Morton leva o leitor a descobrir, pista a pista, peças de um complexo puzzle que vai revelando facetas de uma vida que, afinal, assume características surpreendentemente transcendentes. Para tal, a autora serve-se de uma imaginação fértil que invariavelmente desagua em desfechos de natureza romântica.
À medida que as páginas evoluem, a narrativa torna-se mais sólida e os divergentes acontecimentos do passado são sinónimo de episódios repletos de tragédia, traição, amores perdidos e segundas oportunidades. Os personagens são alvo de um interessante sublinhado ainda que, por vezes, sejam descritos através de tangentes que, de tão abrangentes e longas, podem ocasionalmente distrair o leitor da verdadeira ação, fazendo com que o mesmo a resgate no decorrer nas páginas seguintes – o que pode levar a momentâneas perdas do fio condutor de toda a estória.
Ainda que toda a trama se assuma coesa – e na qual se regista uma ligação intima entre os intervenientes -, a narrativa de Morton tende a resvalar para territórios já explorados em romances anteriores, ainda que tenham, indiscutivelmente, finais verdadeiramente reveladores e surpreendentes.
Outras das imagens de marca da autora são os relatos paralelos que, quando em excesso, revelam-se como cenas sem pertinência que parecem nascer de uma tentativa – maioritariamente frustrada – de criar ambiente.
Ainda que seja um romance bem delineado e vivamente aconselhado a quem gosta de uma narrativa que tem na memória e nos regressos ao passado poderosos aliados, “Amores Secretos” é demasiado extenso (cerca de 550 páginas) e, em alguns momentos, algo inconsequente.
In Deusmelivro
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