Pessoas à beira de um ataque de nervos
Renato é um dos nove personagens que fazem parte desta estória. Ao todo estamos perante seis mulheres e três homens que procuram conforto na confissão das suas vidas, quais tormentos, perante desconhecidos, pessoas de carne e osso mas sem vínculos emocionais entre si.
E é também Renato que faz uma das perguntas mais pertinentes e que dá o título ao livro. Questiona ele: “E onde é que está o amor?” A dúvida é, acreditem, legítima. Isabel, Maria Antónia, Álvaro, Rosa, Virgílio, Susana, Ricardo, Marisa e Renato trocam confidências, falam de casamentos falhados, paixões que se esfumam, frustrações que os atacam, traições que foram alvos, sensações que desapareceram e que dão lugar à cruel solidão. Celeste é a mediadora destas conversas informais.
O medo de ficar sozinho, de não ser querido, assusta estes personagens que lutam por si, pela sua vida, para recuperar a autoestima perdida num qualquer desamor. Em tempos onde a comunicação é seriamente ameaçada por medos diversos e que o silêncio é uma forma de combater um sentimento que se receia, Ana Zanatti escreve um livro delicioso, cheio de pormenores e que tem, na falência humana, uma das suas maiores inspirações.
Bastante teatral, este livro tem uma narrativa aberta, descomplexada e direta, sem papas na língua. A ação passa-se apenas numa tarde em que uma reunião anónima, realizada numa biblioteca, pode significar um novo e inesperado balão de oxigénio para as almas que fazem parte desta estória.
Autora de vários romances dos quais se destacam “Os Sinais do Medo”, os infantis “O segredo da Romã” e “O Planeta Adormecido”, assim como a trilogia composta por “A Grande Travessia”, “O Povo Luz e os Homens Sombra” e “Teodorico e as Mães Cegonhas”, Ana Zanatti, longe do palco, revela toda uma escrita excecionalmente limpa, honesta e atraente neste livro que surge como arranque da coleção “Poucas Palavras, Grande Ficção”, um conjunto de obras sob o carimbo da editora “Guerra & Paz”.
Para este conjunto de livros compostos por narrativas curtas a editora convidou várias personalidades da nossa praça, entre os quais podemos contar com as perspetivas de vida escritas por jornalistas, escritores, argumentistas, publicitários e gente ligada ao cinema; pessoas que, de alguma forma, têm na escrita uma forma de passar a sua mensagem, a sua visão do mundo.
Livros bem escritos, estórias curtas e que podem, de alguma forma, ser um pouco das nossas vidas, das nossas experiências, desejos ou desilusões. As palavras podem ser poucas mas o resultado transcende o número das páginas. Sem dúvida, uma aposta ganha.
In Rua de Baixo
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